Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2021-12-21 às 06h00
No passado dia 12 de dezembro foi assinalado o Dia Mundial da Cobertura Universal de Saúde pelas Nações Unidas e o tema deste ano dizia respeito a não se deixar a saúde de ninguém para trás, investindo em sistemas para todos. Se isto é importante? Sim, claro que sim. Se isto realizado de forma plena e ampla? Aí tenho as minhas sérias dúvidas.
A situação pandémica tem vindo a trazer algumas coisas menos boas a descoberto na área da saúde, como por exemplo as fragilidades das nossas unidades de cuidados intensivos, a falta de profissionais de saúde, os défices relativos à organização da saúde pública e, ainda, a falta de conhecimento por parte do cidadão, especialmente no que diz respeito aos seus deveres enquanto tal. Porque, se por um lado, convém aos cidadãos exigirem por bons e ainda melhores cuidados, também lhes cabe zelar pela sua saúde e pela saúde de todos aqueles que se encontram no seu meio. A saúde é trabalho de todos e para todos: não compete apenas ao Estado assegurar as condições indispensáveis à mesma, não compete apenas aos profissionais de saúde serem os melhores naquilo que desempenham e não compete apenas aos cidadãos estarem informados e serem ativos no seu cuidado. Compete a todos, e a todos diz respeito.
A verdade é que os cuidados de saúde a nível nacional encontram-se distribuídos de forma desequilibrada: estão mais concentrados junto ao mar, há aí uma maior oferta de profissionais de saúde, de hospitais, assim como de especialidades médicas. De facto, se atendermos ao mapa do país, verificamos que o interior apresenta uma saúde menos justa e menos equitativa, uma saúde mais incerta e mais contingente. Menos justa e equitativa porque nesses locais a falta de recursos materiais e humanos é notória, e mais incerta e contingente porque os cuidados são prestados de acordo com aquilo que existe, que pode não ser aquilo que é fundamental ou necessário utilizar.
E se a saúde deve ser para todos, de forma universal e igual, então penso que temos um sério problema no nosso país, visto que existem diferenças marcantes entre as diversas regiões que o compõem. E este não é um problema que tenha surgido com o desenvolver da pandemia: este é um problema que existe já há muitos anos e no qual pouco se tem trabalhado. Há sempre algo mais urgente, bancos que têm de ser salvos ou turismo que tem de ser alavancado. A saúde continua a ser o parente pobre, particularmente no lado este português. E não irei entrar, aqui, no assunto (ou não-assunto) que irá dar péssimos resultados daqui a uns tempos, que diz respeito às diferenças entre os serviços de saúde que existem nas zonas rurais e nas zonas mais citadinas: há portugueses de pequenas vilas e de aldeias que não têm direito a uma unidade de urgência local, pelo que têm de se deslocar, percorrendo grandes distâncias num processo de aflição até à cidade mais próxima, que tanto poderá ficar a 20 como a 80 ou mais quilómetros. Será esta uma saúde igual para todos?
E ficarei apenas por mencionar os serviços de urgência, pois os cuidados paliativos ou os cuidados no âmbito da saúde mental são uma realidade quase utópica nas zonas apresentadas. Talvez se o foco fosse melhorar a rede de cuidados paliativos no país, não estaríamos todos a perder grande tempo com debates que dizem respeito a novos documentos legais. E, só talvez, se o foco fosse melhorar a assistência da pessoa com doença mental e promover a saúde mental dos cidadãos, não estaríamos, outra vez, a perder tempo com reorganizações de chefias e de lideranças.
Mas não entrarei muito por estes temas, tão polémicos é certo, mas que melhorados, de forma séria, proporcionariam uma melhor qualidade de vida a quem necessita de cuidados nesse âmbito.
Se o dia 12 de dezembro deve ser assinalado? Sem dúvida que sim. Nem que seja para lembrar que ainda existe muita coisa a realizar neste pequeno canto da Europa, que é nosso, e que basta começar este caminho de saúde igual para todos no contexto português. Imaginem: se fomos exemplo naquilo que é a vacinação em fase pandémica, o que não faríamos se tivéssemos vontade para ir mais além naquilo que é a justiça e a equidade da saúde. Sugiro que não fiquemos apenas pela contingência, mas que apostemos firmemente naquilo que cada um realmente necessita ao nível da saúde.
13 Junho 2025
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