Os amigos de Mariana (1ª parte)
Ideias
2018-01-05 às 06h00
Há duas semanas tomámos conhecimento da morte, aos 86 anos de idade, do Cardeal Bernard Law que a Igreja Católica Romana acoitou no Vaticano até ao seu último suspiro plenamente conhecedora do terrível sistema de proteção de padres pederastas que eficazmente geriu durante quase duas décadas enquanto foi arcebispo de Boston e até ser forçado a resignar por força da denúncia pública do principal diário da capital do Massachusetts, The Boston Globe, do escândalo (da transferência sistemática de sacerdotes dessa arquidiocese estadunidense para outras paróquias quando sabia terem abusado sexualmente de menores) que ficou conhecido como ‘Caso Spotligth’ (narrado cinematograficamente na película premiada como o Óscar de melhor filme em 2016).
O clérigo que preferiu proteger a reputação da Igreja à das crianças e que jamais foi julgado num qualquer tribunal civil pelos seus atos de conivência (omissão e consentimento) com as práticas hediondas dos eclesiásticos sob a sua alçada entre 1984 e 2002 foi um protegido de João Paulo II e seu confidente, que o nomeou, em 2004, arcipreste de uma das quatro basílicas maiores da cidade eterna e principal igreja mariana de Roma, a Basílica de Santa Maria Maior.
Law foi também um dos 115 prelados que elegeram o Papa Bento XVI em 2005 e que esteve igualmente presente no conclave de 2013 que escolheu o atual Papa Francisco.
Este último aparentou, na altura, embaraço em relação à sua presença no Vaticano e criou pouco depois de iniciado o seu pontificado a Comissão para a Proteção de Menores (CPM) com o intuito de ajudar a Igreja Católica a lidar com o seu grave problema endógeno e tentar estabelecer regras para a responsabilização dos padres pedófilos. Logo no ano seguinte, porém, a CPM mergulhou numa previsível inação da qual não saiu até hoje.
Todavia, o mesmo líder supremo da Cúria romana, num comportamento que as vítimas das iniquidades de Law receberam com incompreensão e consternação por o terem considerado de ultraje moral, declarou no obituário daquele oficialmente omitido pelo Vaticano que tinha rezado ao Deus sumamente misericordioso que acolhesse o irmão na paz eterna e esteve também na respetiva missa fúnebre realizada, nada mais, nada menos, que na Basílica de São Pedro, atraindo um coro de protestos que a esfera mediática ampliou.
Tratou-se de um comportamento tanto mais difícil de entender se considerarmos que numa entrevista dada ao Tertio (07.12.2016), um semanário belga católico, recorrendo a uma linguagem invulgarmente forte, Francisco censurou a compulsão dos meios de comunicação social para criarem escarcéus - os mesmos meios de comunicação social que trouxeram ao conhecimento público a podridão moral que assola interiormente a instituição apostólica que chefia - diagnosticando-lhes, imagine-se, sofrerem agudamente de ‘coprofilia’, interesse patológico por fezes, isto é, ‘pela comunicação de coisas escandalosas, de coisas feias, ainda que verdadeiras (?)’ que, em seu entender, facilmente satisfariam a ‘coprofagia’ característica do público em geral, da sua tendência para preferir excrementos como alimento, ou seja, notícias triviais e ruidosas, ‘infotainment’ (informação-entretenimento), ‘news cookies’ (sempre a passar nos rodapés televisivos), ‘sound bites’ (em que estão viciados os políticos), etc. E se acham que estou a exagerar, confirmem-no vocês mesmos no boletim diário emitido pelo gabinete de imprensa da Santa Sé na data já referida.
Fará isto sentido, quero dizer esta incurialidade papal?
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