Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2013-12-18 às 06h00
Adefinição de algo com que se lida diariamente não é fácil. Pedir a alguém que descreva as ações que toma para realizar esse mesmo algo já é muito mais simples. Aliás, operacionalizar e tornar concreto poderão ser formas de demonstrar a importância dessas ações porém, existem pensamentos e conceções que levam aos comportamentos e esses primeiros sim, são de difícil definição e explicação. Em Enfermagem não é diferente, visto que a concretização da sua definição e significado se torna muito mais complexa do que a concretização da sua ação - imagine-se então a demonstração da sua importância enquanto algo a definir.
Durante estes dias assisti a algumas provas públicas que, novamente, me fizeram refletir sobre a importância da Enfermagem na sociedade. É extraordinário conseguir perceber o diferente valor que cada um de nós, como enfermeiro, dá a esta profissão - e com ele o seu significado - e ainda mais extraordinário é assistir ao contributo que cada um dos colegas proporcionou, nestas provas, para darmos um passo mais adiante enquanto Enfermagem robusta, convicta e cada vez mais consistente. São pequenos passos que, para alguns poderão nada significar, porém, para outros, levam a que percursos e caminhos sejam refletidos, retomados ou reformulados.
Muito se tem falado, dentro da comunidade dos profissionais da saúde do nosso país, das sempre novas políticas, reformas, contenções e não cumprimento daquilo que era suposto ser legal, logo urgente de ser realizado. Sabemos que existem poucos enfermeiros para a população que temos. Sabemos que, na maioria das instituições, os cuidados não são cumpridos com a qualidade essencial - nem com aquilo que a população realmente necessita ou merece - eventualmente devido a essa mesma falta. Sabemos, igualmente, que as condições de trabalho são precárias, existem horas a mais a cumprir e tempo a menos a ser reconhecido pelo nosso trabalho. Ainda assim, o que mais poderá ser feito? Provavelmente a questão encontra-se mal formulada. Provavelmente a questão é: quem poderá realizar mais?
Sem dúvida que as pessoas que usufruem dos nossos cuidados são aquelas que deverão, juntamente com toda a Enfermagem deste país, pedir o que realmente os enfermeiros merecem e necessitam. É nas pessoas de quem cuidamos que podemos encontrar a salvaguarda da nossa definição e a concretização das nossas ações. Afinal, é para elas que existimos e devemos trabalhar - afincadamente, mais uma vez.
E para isso servem igualmente as provas públicas a que assisti. Para que, além do passo que é dado em frente, haja a reflexão sobre a definição e conceção, sobre o que é legal e necessário cumprir e sobre o que muito ainda existe para realizar, concretizar e operacionalizar. Porque, no fundo, esta é uma profissão de relação, de contato com o Outro e profunda avaliação daquilo que esse mesmo Outro pode desenvolver enquanto pessoa.
E, neste momento atual, discute-se no nosso país uma reformulação da forma como os nossos enfermeiros poderão concluir os seus estudos e o seu desenvolvimento profissional - aliás, uma discussão que tem vindo a ser arrastada no tempo. Não me cabe aqui assumir uma tomada de posição nem tecer comentários a essa reformulação - no fundo, ainda me encontro em fase de observação, a tentar identificar um fio condutor em tantas alterações que vão surgindo - mas sim, cabe-me pedir que, pelo bem da população e das pessoas de quem cuidamos, se encontre uma solução (rápida, congruente e sensata) para que esta reformulação tenha finalmente o seu fim, e que não seja ainda mais arrastada no tempo.
Penosamente. Porque, se ainda nos encontramos a formar enfermeiros que são avidamente absorvidos pelos outros países que não o nosso - e considerados como excelentes no que desenvolvem - serão aqueles que ainda se encontram a desenvolver os seus estudos, ou na fase final dos mesmos, os mais prejudicados, devido a incertezas e inconstâncias.
Resta-me agradecer aos colegas que realizaram as provas públicas mencionadas, um dia tão cheio de significados e conceções, e que, embora o objetivo destas provas se perca, por vezes, em burocracias e estatísticas, são dias como este que nos podem orientar os caminhos e a concretização das definições necessárias para o que é a Enfermagem atual.
Realmente a definição de algo presente nas nossas vidas numa base diária não é, de todo, fácil. Porque sempre vivemos com esse algo, ou sempre esteve presente, ou não sentimos a sua falta. Assim é com a Enfermagem deste país que, dia após dia, se encontra junto daqueles que realmente necessitam ou procuram os seus cuidados e, mesmo por esses, é difícil assumir o seu significado. Mas são esses que conseguem assumir a importância das suas ações e os ganhos que obtêm pela presença e prática dos enfermeiros.
13 Junho 2025
06 Junho 2025
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário