“Bullying”
Voz aos Escritores
2022-09-09 às 06h00
Fatigadas as palavras de informar
e as aulas quase a começar,
retomo o verso para compor um novo poema
que fuja à rotina
e seja assaz diferente!
Quando as férias de verão terminam, parece-nos óbvio que a rotina das aulas esteja quase a dar o ar de sua graça. Cada início de ano é igual ao anterior, tudo está programado e regulado pela tutela. Aparentemente, parece não haver lugar para a novidade e para o encantamento, apesar de as manhãs poderem ser de sol ou de chuva. É como se embarcássemos numa viagem em modo automático, com a máquina programada e onde apenas temos de aplicar os regulamentos estabelecidos previamente, numa espécie de pronto a vestir de tamanho único, uma vez que é igual para todo o país.
Ora é precisamente neste dilema que o meu poema não encontra ressonância. A uniformidade e a rotina não bastam ao coração de um professor que se preze. É preciso muito mais. É preciso apreender outras sensibilidades que nos ajudem a sair de nós e a afastar-nos das certezas.
Por isso, não receio mostrar que tenho algumas dúvidas e que ignoro muitas outras coisas. Não escondo as emoções e comovo-me com a dor ou com a alegria dos outros. Por vezes, tenho a sensibilidade à flor da pele e deixo-a desabrochar sem amarras. Assumo as estações da alma com a mesma autenticidade. Não engaveto as lágrimas, tal como não poupo os sorrisos. Choro. Rio. É assim que sou.
É nesta autenticidade que em cada setembro recomeço.
Por isso, encaro cada recomeço como um novo desafio surpreendente. Metaforicamente falando, os alunos são como penteados. Há aqueles que são de “gancho” e trazem-nos pelos cabelos! É como dizer que trazem o sol nos pés e a chuva nos cabelos. Mas há os outros. Há aqueles alunos que tentam sempre encontrar uma ponta por onde se possa pegar.
Em qualquer dos casos, há uma luz que vem de dentro e nos impele a reinventar. Não há lugar para a rotina. Esta não consegue substituir-se à própria vida. Pelo contrário, pede-nos um deslumbramento constante que nos mantenha ligados à vontade imensa de agarrar a vida com entusiasmo e alegria.
Foram-se as férias de verão com sabores alegres
das coloridas romarias e agitados arraiais
os cheiros a maresia e os aromas ímpares trazidos pelo vento
que mais não são do que os versos despreocupados
da suave poesia, em tons de regresso,
que setembro nos traz
no arco-íris da pequenada
com olhos ansiosos pela brincadeira.
Assim, todos os sentidos despertam. E uma mochila usada carrega os mesmos sonhos que uma nova. As sapatilhas levam-nos ao fim da meta independentemente da marca. O importante é mesmo não parar de caminhar. É aqui que o professor pode fazer a diferença. É nas pequenas coisas, por mais insignificantes que possam parecer. Escusado será acreditar que podemos tudo, que poderemos tudo transformar. Não podemos. Há muitos fatores na vida de um aluno que um professor não controla. Sei isso na pele. Tenho plena consciência disso. Acredito, porém, que podemos alguma coisa. E essa alguma coisa é, na maior parte das vezes, a coisa determinante na vida das nossas crianças e dos nossos jovens. Esse é o grande desafio. Em cada setembro, voltar a olhar tudo pela primeira vez, deixando-nos embebedar numa espécie de deslumbramento dos dias e das noites. É reconhecer que cada momento de aprendizagem, cada partilha de instante que passa é uma janela aberta para a vida. É reconhecer que em cada setembro que chega cabem todos os abraços a novos projetos e a novas oportunidades.
Basta nunca cruzar os braços.
Setembro volta sempre em tons de recomeço.
O recomeço carrega um passado de receios, de inquietude, de ansiedade e de angústia. Mas também é futuro, é incerteza, é aventura.
Recomeçar é reconstruir a nossa própria história. É preparar o voo e partir numa nova aventura, pois “pedra que rola não ganha musgo”.
24 Novembro 2023
17 Novembro 2023
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