Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2020-09-22 às 06h00
Setembro é sempre um mês de recomeços. Parece quase Janeiro, talvez sem a euforia de desejos vãos. É um reinício que ajuda a respirar fundo, a tomar fôlego perante novas atividades que se avizinham. Significa, habitualmente, um terminar do descanso merecido e um principiar na concretização de expetativas. Sem Setembro, talvez o ano estivesse incompleto: faz falta, é um ponto e vírgula na continuidade.
Este ano o recomeço será diferente. Terá uma máscara, desinfetante à porta e distância de segurança. É um Setembro prudente, que nos leva a avaliar o essencial e o que realmente é importante. É igualmente restrito, contido e faz conter. Pede-nos comedimento, sensatez e tranquilidade. Pede metros entre as relações, que se tentam adaptar com criatividade.
Vivo entre o campo e a cidade. Os ritmos são diferentes, as cadências dos reinícios também. A verdade é que no campo oiço um galo, suponho que de algum vizinho, que me faz entender a importância das madrugadas nesta repetição da abertura do ano escolar. E, ainda no mesmo dia, mato saudades do trânsito nas rotundas do centro da cidade, que me fazem pensar na ansiedade que está ligada a essa repetição. Às oito e meia da manhã vejo as pessoas dentro dos carros já com doses elevadas de irritação e agitação. Bem, ouvir o galo a cantar parece-me bem mais saudável, ainda que interrompa as aulas que leciono online.
São diferentes balanços do reinício, pautado por aquilo que foi o Verão. Nos últimos meses quentes fomos invadidos, na nossa pacatez rural, por uma multidão citadina que buscava o prazer do descanso. Foi uma enchente de gente, esquecida dos problemas relacionados com a pandemia que estamos a viver, e que, talvez, pensasse que ao atravessar a linha imaginária circundante às cidades não fossem necessárias as máscaras, os desinfetantes e o distanciamento.
Todavia fomos pacientes, nós os que vivemos entre as árvores e que gostamos de as partilhar, porque sabíamos que Setembro chegaria, e, com ele, essa inundação de pessoas terminaria.
Resta saber como estarão os números relativos ao contágio nos meios rurais após a invasão que tivemos, e que nos assustou de tal forma que quase fizemos outro confinamento. Foi bom para o turismo, verdade. Veremos, quiçá, o resultado final daqui a uns meses.
As aulas vão (re)começando, no campo e na cidade, com galos ou autocarros, e os seus intervenientes vão-se adaptando. Um dia de cada vez, dizem os entendidos. Talvez. Talvez estes dias de Setembro pudessem ter sido mais trabalhados, mais preparados.
Mais rigorosos?
Talvez. A verdade é que este prelúdio traz bastante instabilidade, que é sentida tantos pelos alunos como pelos profissionais escolares. Aquilo que é pedido não é pedido de forma segura. E talvez, só talvez, esse seja o maior problema. E este mês, este ano, passa de ser um ponto e vírgula para ser reticências, uma hesitação na continuidade, possivelmente uma oportunidade de aprendizagem para o futuro.
E podemos seguir em diante, há que que continuar. Temos esse privilégio. Não vale a pena comparar os anos que passaram com este que está a decorrer. Este ano é único, quem sabe até especial. O fôlego este ano é tomado de uma forma mais lenta, com maior cuidado. É tomado de preferência ao ar livre, o que permite um maior contacto com o mundo que nos rodeia e que nos ajuda a retomar, que nos permite fazer as contas para o equilíbrio que consideramos essencial. E que nos faz falta para recomeçar.
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