Março é leitura
Escreve quem sabe
2023-01-17 às 06h00
Viver em comunidade e em sociedade implica conhecer uma panóplia de direitos e deveres que nos ajudam, ou devem ajudar, a cumprir melhor a nossa missão enquanto seres humanos. Se é verdade que tudo seria mais confortável se nos mantivéssemos na linha somente dos direitos, a verdade é que não seria mais fácil. Arrisco-me até a dizer que seria mesmo complexo, quase caótico. Direitos e deveres fazem parte da mesma perspetiva, que é aquela que é relativa à ordem e ao respeito, à manutenção da dignidade e da justiça.
A vivência e concretização dos valores permite que os direitos e os deveres se cumpram de forma mais igualitária e equitativa. Sabemos que nem sempre isto é assim executado e que a injustiça, sobretudo a social, se manifesta no nosso quotidiano. Todavia, cabe-nos a nós, enquanto indivíduos pertencentes às tais comunidades e sociedades, vigiar e zelar para os mesmos se façam cumprir de forma escrupulosa – o que dá muito trabalho, é um facto. Muitas vezes podemos perguntar (a nós próprios) «De que vale ser tão cioso? Ou tão correto?», especialmente quando à nossa volta o mundo ético e moral parece que se encontra a ruir, ou pelo menos em desuso. Ainda assim, acredito que, se cada um de nós realizar aquilo que sabe que é mais correto fazer, então encontramo-nos todos, através de ações individuais que contribuem para o coletivo, a transformar o mundo para algo (muito) melhor.
Assistimos no último fim-de-semana à manifestação realizada pelos professores do nosso sistema público de educação, ou seja, à exteriorização do seu direito à luta na procura de melhores condições de vida a nível laboral e melhores condições de ensino.
É certo que esta manifestação apresenta uma grande coragem que, naturalmente, se encontra intimamente conectada com a vulnerabilidade que os professores experienciam no decorrer das suas responsabilidades. Mesmo concordando com esta grave, tenho de refletir e questionar se é justa a sua reivindicação ao nível daquilo que desejam para a carreira, porque, por exemplo, a carreira no ensino superior é altamente limitada e a progressão deriva de procedimentos concursais, onde cada professor tem de se submeter a um escrutínio quase infindável para que consiga alcançar uma vaga – sendo o número destas últimas limitado, o que proporciona a não progressão, ou progressão lenta, da maioria dos professores do ensino superior.
Encontro-me muito mais preocupada com o número (diminuto) de trabalhadores que existem no âmbito da educação em geral, da saúde e até do próprio ensino superior.
Tivemos inúmeras pessoas a reformarem-se nos últimos anos, que não foram substituídas, e o trabalho foi sendo diluído por quem foi ficando. Obviamente, quem está ainda nestes circuitos encontra-se com excesso de trabalho e com níveis elevados de sobrecarga laboral, sendo a produtividade uma utopia. Sem falar daquilo que se pede que seja a produtividade, vinculada ao excessivo monte de papéis e registos que são exigidos aos trabalhadores dessas esferas. É difícil acreditar que a nossa produtividade seja medida pela quantidade de papéis que se preenchem, contudo, é um facto que o caminho tem sido realizado com bastante ênfase nesse aspeto, infelizmente.
Há ainda algo bastante importante neste contexto dos direitos e dos deveres, e que diz respeito à consciência, que habitualmente é conhecida mais ao final de um dia, quando refletimos sobre as nossas ações e sobre tudo aquilo que se foi passando à nossa volta. E, de facto, a consciência é uma ajuda preciosa, especialmente porque nos ajuda, a todos, a regular as nossas atividades e as nossas intervenções, ajuda a dar voz aos nossos valores e a encontrar caminho para a concretude dos tais direitos e deveres. Por vezes os outros têm determinadas reações que não entendemos, ou que levamos a mal e, é certo, temos o direito à indignação e à mágoa; no entanto, a verdade é que não conhecemos a história toda das outras pessoas, tampouco sabemos acerca dos problemas que as afetam.
Aliada à consciência encontra-se também a paciência e a empatia, que nos poderão auxiliar, novamente a todos, a sermos mais compreensivos com os outros e a compreender melhor a subjetividade que está tão inerente aos direitos e deveres.
Sim, é verdade que preferimos a sensação de conforto e de bem-estar. O incómodo incomoda, deixa marcas, cria relutância. Porém, cabe a cada um de nós exercer os valores que são considerados como essenciais naquilo que é a melhor relação com os outros, criar espaço para os direitos e para os deveres numa perspetiva de crescimento comum e, igualmente, dar significado à nossa consciência, praticando a paciência e a empatia numa base diária, com disciplina, para que todos tenham as mesmas oportunidades. Se é difícil?
Sim, claramente. Mas não é por isso que deixa de ser o mais correto a fazer.
21 Março 2023
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