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Solidariedade

Escreve quem sabe

2022-12-20 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

É interessante verificar que, com o aproximar do Natal, se replicam as campanhas de promoção de doações e de solidariedade. Não é que seja uma coisa má, nem tampouco de reduzido valor, mas, na verdade, penso que é um pouco estranha esta «corrida» à capacidade de ser solidário nesta altura do ano. Talvez as pessoas estejam um pouco mais atentas à injustiça social nesta época, ou, quiçá, mais avivadas naquilo que são as desigualdades; ainda assim, não é com o passar do Natal e a entrada do novo ano que as realidades mais desfavorecidas desaparecem, como por magia. Mas, afinal, o que é isto da solidariedade? Consiste apenas em dar? E em dar o quê?
A 20 de dezembro é assinalado o Dia Internacional da Solidariedade Humana, assim estipulado em 2005. Sendo a solidariedade um dos valores que deve marcar o século XXI, de acordo com a Declaração do Milénio (estabelecida, esta, pela Organização das Nações Unidas (ONU)), é de realçar que a solidariedade é um valor que deve estar presente não somente nas nossas relações humanas do quotidiano, todavia igualmente nas relações internacionais que se estabelecem entre os diferentes povos. É verdade que é mais fácil a cada um de nós olhar para o nosso pequeno mundo do dia-a-dia, porém, também é verdade que com a pandemia, e agora com a guerra, fomos obrigados a olhar para além de nós próprios e para lá dos espaços que nos são mais familiares. Demos conta, com maior prudência, para aquilo que se passa com os outros, que também são seres humanos como nós, mas que podem atravessar momentos de maior inconstância ou carência.

Existem três conceitos que emergem de imediato quando começamos a pensar em solidariedade humana e que são a pobreza, a doença e a fome. Certo é que se encontram todos relacionados, sendo a pobreza um determinante forte dos outros dois. Sabemos, nos dias de hoje, que a pobreza se encontra altamente correlacionada com as questões de insuficiência na alimentação e com o desenvolvimento de doença, sendo que, infelizmente, o ciclo de desigualdade social que é gerado em contextos de maior pobreza, fome e doença é difícil de interromper ou dissipar. Não é à toa que os grandes grupos de risco no âmbito da saúde derivam de circunstâncias débeis e com grandes ameaças à dignidade humana – que é outro valor a que todos devemos estar atentos. E daí, dessas conjunturas, derivam também os cenários desfavorecidos de uma reduzida higiene sócio sanitária, que empurram as pessoas igualmente para grandes desvantagens ao nível da manutenção de saúde e bem-estar.

E, por isto tudo, talvez a solidariedade não consista em dar, apenas. Consiste em estar com atenção, em ser coerente, em estabelecer pontes e laços. Sim, é óbvio que o combate à pobreza e à injustiça social é uma das ações mais importantes nesta coisa que dá a dinamização à solidariedade. No entanto, também encontrar a igualdade nas diferenças é essencial no desenvolvimento da solidariedade, assim como o fomento do conhecimento acerca das desigualdades, que pode ser facilmente entendível quando se aborda a literacia social. Não há que ter vergonha de falar e debater estas questões, pois, no final de contas, os menos favorecidos vivem ao nosso lado.
O bem-estar de todos é, ou deve ser, entendido como o bem-estar de cada indivíduo e é na promoção da segurança coletiva que se encontra um dos caminhos para o fomento da solidariedade.

Se bem que a ONU nos indica o dia 20 de dezembro para que haja, aqui, uma maior atenção ao que pode ser a solidariedade, considero que a mesma não se esgota num único período de vinte e quatro horas, ou numa altura do ano. A solidariedade deve ser promovida ao longo de todo o ano e todos temos a responsabilidade de ser agentes ativos da mesma. Aliás, quiçá a solidariedade comece em casa, por aqueles mais próximos que precisam de uma maior ajuda ou de uma dedicação mais personalizada – porque não olharmos à nossa volta e começar por aí? Não quero, de todo, desvalorizar as ações sociais que se fazem sentir de forma mais forte nesta altura do ano - muito pelo contrário, são absolutamente necessárias. Ainda assim, gostaria que as mesmas fossem mais continuadas e mantidas no tempo, pois não é apenas na segunda quinzena de dezembro que existem dificuldades.

Cabe a cada um de nós saber como deseja ou pode ser mais solidário. Isto não acarreta encargos financeiros que possam colocar em causa o nosso orçamento familiar; pode implicar, por exemplo, tempo, atenção, dedicação ou compromisso, o que não apresenta custos. Talvez fosse importante olhar a solidariedade como um indicador que revela a nossa evolução enquanto espécie e o nosso desenvolvimento como cidadãos, pois é do bem comum que estamos a tratar quando nos encontramos a ser solidários. O futuro agradece, mas o presente também.

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