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Solidário

Escreve quem sabe

2019-04-17 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

Asolidariedade instalou-se no nosso léxico noticioso corrente sobretudo devido a crises maiores ligadas a desastres naturais como os incêndios em Portugal ou a do ciclone em Moçambique, mas esta palavra tem a grandiosidade do bem-fazer que merece maior atenção.
A solidariedade é algo mais que a caridade ou a filantropia: A caridade é um apelo cívico-religioso a quem mais tem em favor dos mais desfavorecidos, servindo aos primeiros como ato expiatório da sua riqueza; A filantropia tem de semelhante à caridade a base da oferta (quem mais tem) exponenciada pelos valores envolvidos e pela notoriedade da identidade dos altruístas. De diferente o facto da maioria do destino dos apoios não se destinar aos mais desfavorecidos mas à sociedade em geral, através do apoio a grandes causas, muitas delas ligadas ao investimento científico na saúde e ambiente e ao apoio social.
A solidariedade é maior porque nos pode envolver a todos e não apenas quem mais tem.
A solidariedade vai para além do dar, engloba também a partilha do que se tem e do que se é.
A solidariedade não tem indicadores limitadores, nem o apoio financeiro como única forma de oferecer. Inclui a oferta de bens, dinheiro, mas também a disponibilidade de tempo e das capacidades pessoais para servir a outros, bem como atitudes de envolvimento que podem passar por coisas tão simples como o apoio a causas globais que apelem a mudanças sociais, ajudando à alteração de políticas.
A solidariedade não se limita a dar apenas parte do que sobra, apesar do mérito e valor social que qualquer oferta tem quando feita a favor do outro, porque ser altruísta não é, infelizmente, um comportamento generalizado nas sociedades, onde o objetivos visam essencialmente o apelo à superação individual, à criação de riqueza e a valorização do espirito de vencedor como o maior mérito do Homem.
No mundo, todos os recursos são escassos e limitados, limitação que é alavancada quando a riqueza detida se concentra nuns poucos, deixando de fora a maioria. A fragilidade de muitos é bem visível ao mínimo acidente, sobrevivendo muitos deles porque existe algum suporte na solidariedade de outros. A criação do Estado Social tem justificação nas desigualdades sociais e económicas provocadas pelos desequilíbrios existentes na posse da riqueza e na forma como ela era (e é) obtida.
A cobrança de impostos e de taxas sociais tem como primeiro objetivo corrigir alguns desses desequilíbrios, prometendo uma melhor e mais justa repartição do valor da riqueza criada. A solidariedade é assim e também um ato obrigatório.
A solidariedade imposta revela-se na progressividade crescente das taxas de imposto sobre quem mais rendimentos obtém, ou quando se usa no imediato os valores arrecadados através das taxas sociais cobradas às pessoas que trabalham -os ativos- para financiar os inativos (regime de previdência). Não se desconta para uma poupança que suportará financeiramente a nossa futura inatividade (reforma), mas para pagar a reformas dos atuais inativos, numa ação de solidariedade obrigatória.
Todavia, quando falamos em solidariedade remetemo-nos mais para as opções voluntárias. Esta solidariedade é genuína e livre, deixando a quem dá o orgulho da partilha que está geneticamente marcada no Homem. Quem tem a experiência da participação solidária, sente a alegria e a satisfação interior advinda do ato de servir o outro. O estender da mão para ajudar faz parte do Homem. A solidariedade deve começar em casa, na nossa família, prosseguindo na medida da nossa inserção social, seja na participação de atividades comuns na nossa terra, ou através de ações levadas a cabo por associações nacionais e internacionais (ONGs).
Apesar desta predisposição nata para ajudar os outros, estamos tolhidos pela cultura da posse e do gozo individual. A promoção do mérito, que também defendo, não deve arredar do direito às condições de uma vida digna os que não conseguem resultados. É aqui que devemos recentrar o nosso apoio solidário e não apenas nas grandes catástrofes. Devemos pois interrogarmo-nos: Quem não conhece gente a precisar de ajuda? Será que olhamos com sinceridade para a nossa própria família? O que é que temos feito para minimizar os seus sofrimentos e as suas dificuldades de vida?
A desculpa que é ao Estado Social quem compete cuidar dos desfavorecidos é um erro que nos sairá caro, desde logo porque o Estado tenderá a encontrar fontes de receita maiores, asfixiando muitos dos que já tem um esforço contributivo elevado, mas sobretudo porque perdendo-se o espírito humano da solidariedade, estaremos cada vez mais sós e vulneráveis perante acidentes de percursos nas nossas vidas. Como diz o povo, “nunca digas que desta água não beberei”.

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