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Sonhos Novos para o Serviço Nacional de Saúde

Entre a vergonha e o medo

Sonhos Novos para o Serviço Nacional de Saúde

Escreve quem sabe

2022-01-18 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

AEnfermagem vive tempos árduos. Difíceis também, mas «árduo» será o termo mais adequado a empregar aqui. A situação pandémica tem trazido um volume de trabalho para o qual o país não estava preparado – tampouco os nossos enfermeiros. Se antes desta situação os recursos humanos de Enfermagem eram escassos e já havia algum compromisso dos cuidados de saúde, nos dias atuais o cenário é de extrema preocupação.
Estamos todos exaustos, é mais do que certo. As aulas seguem num clima de instabilidade, as reuniões online já se tornaram prática comum e o tempo passado em frente aos écrans está a tornar-se demasiado. O hábito do digital é preocupante: se o tomamos como rotineiro, dificilmente vai ser deixado para trás. Tem coisas boas, também é verdade; chegamos a mais gente mais depressa. Vamos à China num espaço de um minuto e estamos na Índia em tempo semelhante. Ainda assim, há que ter regras, para que o cansaço e a exaustão digital não sejam dominadores das nossas vidas.
No entanto, é a saúde que neste momento oferece maiores níveis de preocupação. Não tanto aquela dos cidadãos e das populações, mas sim a saúde dos nossos profissionais de saúde. Sim, que eles são também pessoas que necessitam de cuidados e de preocupação. Necessitam de investimento e de atenção, de estima e clareza. Se, por um lado, assumiram um compromisso social de acordo com a profissão que escolheram (ou que os escolheu a eles, dependendo do caso), também é certo que têm direito à manutenção da sua dignidade e do respeito. E de ajuda, que neste momento lhes é essencial.
O Sistema Nacional de Saúde (SNS) deixa de ser atrativo para os seus profissionais quando não existem recompensas que os influenciem a ficar por lá. Em relação aos enfermeiros, de forma específica, o salário – principal recompensa dos mesmos no SNS – fica muito aquém daquilo que é justo ou quiçá equitativo. O trabalho noturno dificilmente é valorizado, assim como aquele que é desenvolvido nos feriados ou aos finais da semana. Pergunto: será isto uma boa forma de cativar colaboradores e proporcionar ambientes para um crescimento profissional? Nem entro sequer pelas questões da carreira dos enfermeiros, essa que é praticamente inexistente no nosso sistema público de saúde.
De facto, os nossos enfermeiros encontram melhores condições de trabalho noutros países da Europa, nesses espaços que se encontram tão mais perto que facilmente conseguem estar presentes na vida familiar e nas suas comunidades. Aliás, esses países agradecem a chegada e o envolvimento desses profissionais de saúde: não gastaram dinheiro na sua formação, mas usufruem daquilo que são as suas competências e habilidades, brilhantemente trabalhadas cá. Porque, no fundo, o que prende os enfermeiros aos serviços de saúde portugueses? Uma miragem de um maior apoio? Algo que se apresenta no fundo do túnel e que até ao momento ainda não teve resultados concretos?
Penso que os nossos enfermeiros deviam ter um maior suporte por parte das instituições onde trabalham, sejam elas do foro privado ou público. Aliás, neste momento o setor privado parece mais apelativo e atrativo, talvez porque existe uma valorização crescente do trabalho da Enfermagem nesse contexto. Há um fomento ao envolvimento e ao crescimento profissional, apoio em linhas de investigação e de produção de conhecimento científico e, ainda, uma promoção da criatividade e da inovação naquilo que podem ser os cuidados de saúde. O SNS, que é tão necessário e que poderia ser tão arrojado – pelo menos tem potencial para isso –, necessita de sonhos novos e de um investimento por parte da política portuguesa, não somente discursos ocos de promessas e de desejos.
Mas, enquanto esses sonhos novos não surgem e a situação pandémica se mantém, temos de ir cuidando daqueles que cuidam de nós. A gratidão pública tem que ir para além dos aplausos às janelas e dos «obrigados» digitais: deve ser concreta e real, começando pelo pouco que cada um pode fazer de forma individual – que mais não seja, neste momento, zelar pela nossa saúde e pela dos que nos estão mais próximos. O SNS necessita de profissionais de saúde empenhados, satisfeitos e com qualidade de vida. Mais do que isso: merece-os. E isso pode ser iniciado através do fomento do respeito e da dignidade.

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