Correio do Minho

Braga, terça-feira

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Talibãs, incendiários e outros

A Economia não cresce com muros

Ideias

2012-05-11 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Actualmente temos vindo a assistir a autênticas manifestações de um doentio talibanismo, para o qual, diga-se, muito vem contribuindo um número incomensurável de agentes incendiários e provocadores, fremindo de gozo ante as esperadas reacções e os efeitos perversos de insistentes e escolhidas perguntas e de esconsas insinuações. E nem sequer nos reportamos à política ou a certos “líderes” ditos carismáticos na opinião pública e nos media que passam o tempo a vomitar e a tentar esgrimir “inteligência” nos debates, arrazoados e comentários.

Atendo-nos tão só ao futebol, a verdade é que semanalmente temos vindo a constatar em certos programas desportivos uma cada vez maior ausência de rigor, de verdade e de isenção, não faltando figurantes, aliás de relevante posição sócio-cultural e ditos bem formados e intocáveis, a resvalarem para uma “veia talibã contra os comentários e os ângulos de realização e repetições de lances - poucas ou muitas - de certos e determinados jogos transmitidos pelas TVs”, perdendo-se num incontornável fanatismo que se enreda e se desenrola em caricatas observações, ridículas e esotéricas interpretações das leis do jogo e dissecações ao pormenor de certos lances.

Que são aliás “descarnados” com minúcia mas sempre de uma forma subjectivista e apaixonada devido a uma visão turva e tão só focada na defesa dos interesses dos clubes de que se dizem fervorosos adeptos, pugnando ferozmente pelas “verdades” e “realidades “ que entendem mais convenientes e adequadas face aos resultados e actuações dos árbitros, a quem só admitem e apregoam “isenção” e “competência” quando decidem a seu favor.

Figuras que nem sequer disfarçam ou escondem os seus facciosismo e falta de isenção, e que se perfilam em tais programas, ainda que bem pagos, como uns meros e esconsos agentes encapotados de certos clubes.

Espicaçados por conhecidos moderadores (seja-nos permitido aqui uma sonora gargalhada!), que não poucas vezes “incendeiam” e “alimentam” os debates e as discussões com maquiavélicas insinuações, recursos a imagens e histórias de um qualquer perverso passado, é usual e frequente ver tais personagens a perder o tino, a compostura, a cordialidade, o pudor e até a decência resvalando para respostas e observações de todo caricatas, vergonhosas, ofensivas de qualquer inteligência e a descambar na grosseria e no ataque pessoal, sendo tão só de espantar que semana após semana tais figurões continuem com as suas diatribes e atitudes talibãs de um incontornável fundamentalismo clubista.

Um fundamentalismo clubista e com contornos talibãs que sobretudo avulta nos comentários e observações sobre as arbitragens e os pretensos ou reais erros dos árbitros, aliás dissecados até ao tutano com imagens repetidas, em sequência ou paradas e de um ou outro ângulo da TV, avançando-se com conjecturas quanto a comportamentos e intenções, alimentando-se teorias e ateando-se paixões mas esquecendo-se de todo que o futebol é apenas um jogo e em que todos cometem ou podem ter erros.

Desde os directos intervenientes nos jogos aos presidentes dos clubes, recrutando por loucuras jogadores que não valem um chavo, aos técnicos que se enrodilham em estranhos esquemas tácticos, aos árbitros que eventualmente não conseguem ultrapassar as esconsas e maquiavélicas pressões dos clubes e até às próprias claques para quem o futebol é um escape e fuga para muitos dos seis problemas pessoais e sociais ao possibilitar todo um extravasar de extravagantes personalidades, doentias paixões, anomalias de carácter, incontornáveis e inconfessáveis vícios e deficientes más formação e educação, que aliás tão só são afloráveis e visíveis no anonimato e amorfo de certos ajuntamentos e grupos, porque de algum modo muito “climáticas” e de conjuntura.

Claques onde, diga-se, realmente assoma e regorgita todo um outro e certo talibanismo, e mais grave, que se tem vindo a exteriorizar em tumultos, cânticos insultuosos, vaias, assobios, petardos, agressões e outros distúrbios, muitas das vezes “atropelando” pessoas que nada têm que ver com o futebol e “invadindo” certos locais, como viadutos e áreas de serviço das autoestradas.

Um talibanismo para o qual muito vêm contribuindo tão “inocentes” moderadores e “especiais” comentadores, aliás arregimentados pelas TVs para os seus programas sobre futebol, que, bem almofadados pela projecção, inebriados com os holofotes públicos e incentivados por perguntas e questões oportuna e habilmente lançadas em debate, umas surgidas em rodapé e outras suscitadas pelas estatísticas “votadas” por telefone, se deixam embalar e perder por todo um facciosismo doentio, defendendo com unhas e dentes os seus clubes contra tudo e contra todos.
Mesmo “atropelando” a verdade, “pisando” realidades e dando tratos de polé a toda uma e qualquer mediana inteligência !...

O que, e apesar de tudo, de algum modo se comprende já que o futebol tem a virtualidade “de revelar a fera que habita num homem que sempre vimos como pacífico, de trazer à tona uma cegueira em gente que julgávamos ponderada e com capacidade para ouvir o outro” (Guedes de Carvalho, tvmais, n.º 1005 ), sendo de todo incontornável ocorrerem já programas “em que só falta haver cenas de soco e cuspidela em estúdio entre homens engravatados e respeitados”(id.).

Tudo isto devido ao facciosimo doentio, fundamentalista e de cariz talibã de tais comentadores, que, se por um lado dão audiência aos seus “empregadores”, por outro lado tão só alimentam ódios e incendeiam paixões com todo um argamassar e alavancar de rivalidades e disputas, de reflexos cada vez mais perversos para o espectáculo do futebol e seus apreciadores.
Aliás de consequências cada vez mais imprevisíveis e incontroláveis, diga-se!

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