O preço da transparência
Ideias
2015-01-30 às 06h00
Na terça-feira da semana anterior à detenção de Sócrates à saída do avião que o trouxe de Paris houve um almoço entre ele e Pinto Monteiro, o último e muito falado PGR da sua governação, o que logo suscitou muitas suspeitosas interrogações e dúvidas, até porquanto não se podem ignorar as ligações pessoais e intervenções do referido Pinto Monteiro relativamente ao mesmo ex-primeiro ministro. Que se teriam iniciado e sedimentado, diz-se, quando Sócrates era responsável pelo Ambiente e se agudizou a questão de Souselas, daí advindo todo um conhecimento e amizade que determinou a sua escolha como PGR.
Mas a grande verdade é que tal almoço tem dado que falar e até, diz-se, estará sob investigação da PGR (JN,26.11.14) porquanto “se desconfia de violação de segredo de justiça”, ainda que P.Monteiro se tenha apressado a vir dizer à TV “que a proximidade temporal entre aquele almoço e a detenção de Sócrates foi uma «coincidência desagradável» e que apenas conversaram sobre o livro deste e sobre viagens”. Simplesmente... “há notícia da existência de uma escuta em que, alegadamente, ambos teriam sido apanhados a falar da investigação que levaria à detenção de José Sócrates, na sexta-feira à noite, e à sua sujeição a prisão preventiva”.
Não se conseguindo de modo nenhum ultrapassar a figura “esotérica” de P.Monteiro nem olvidar todo o “histórico” da sua passagem pela PGR, não obstante a “seriedade” que intentou “emprestar” às suas funções e intervenções, aliás muitas das vezes muito discutíveis e insólitas, a grande verdade é que ainda temos bem presentes os vários casos socratianos havidos por essa altura, bem como as suas “intervenções” ou “apagamentos” em casos como o do Freeport e do Furacão. Daí, consequentemente, termos sérias reservas e dúvidas quanto à “história dos livros e de viagens” que, diz ele, dominou a conversa em tal almoço, aliás um almoço agendado a convite de Sócrates através de um telefonema da sua secretária.
Uma mera coincidência temporal, imagine-se(!), uma “coincidência complicada”, diz ele (JN25.11.14) quando é sabido que Sócrates desde há meses tinha conhecimento das investigações que recaíam sobre si e que o seu advogado até já havia averiguado do concreto destino das escutas “inutilizadas” pela dupla P.Monteiro e Nascimento no processo do sucateiro. Tudo coincidências que não suscitam mais comentários (cada um acredita no que quer ou convém!) ainda que tenham provocado alguma “ comichão ” no dito ex-PGR ao afirmar que “de nada mais falaram do que de «livros» e «viagens», sem ter sido abordado qualquer assunto de Justiça”, e ao dizer “«que nunca tinha almoçado com o engenheiro Sócrates a sós» (...) que o socialista pode até «estar culpado de muita coisa, mas esse almoço é completamente inocente»”. Respigando-se passagens das suas explicações na TV, é de registar a sua afirmação de que «Está a haver um aproveitamento político num caso jurídico. E uma promiscuidade entre política e justiça”, e o asseverar que quanto ao Freeport “tudo não passou de «um processo inventado»”. Com muita polémica à mistura, diga-se e reconheça-se, e intervenções “curiosas” do DCIAP, da PGR e dos procuradores que tinham a seu encargo tal processo, com um aflorar das figuras da Cândida Almeida e de P. Monteiro.
Mas estas são outras “estórias” e a grande realidade é que, não se sendo “obrigado” a aceitar como verdade o que agora afirma, interrogamo-nos muito seriamente se não teria sido abordada no tema “viagens” uma qualquer “viagem” para a América latina, o Brasil ou a Venezuela, com todos os seus problemas e reflexos em termos de extradição, o que até de algum modo estaria relacionado com as mudanças havidas quanto à sua viagem até Lisboa e avião a apanhar. Aliás, ainda que sob o “estigma” da especulação, logo ter-se-ia dito que ele pretenderia abalar de imediato para fora do país, para a América latina, constando duma primeira página do JN (4.12.14) que “Juiz temia fuga de José Sócrates para o Brasil”, que “tinha viagem marcada para dia 24 no âmbito das funções como consultor da farmacêutica Octapharma”.
Mas que esse almoço foi e é intrigante e fortemente suspeito não há quem nos convença do contrário, apenas se estranhando que não tenha estado nesse almoço o Conselheiro Nascimento, o antigo presidente do STJ que teve em mãos o caso das escutas referentes ao Furacão em que ambos foram “unha e carne” na sua “inutilização e desaparecimento”. Aliás, se calhar também por mera coincidência, surgiu agora a “botar” faladura a também “celebrada” Cândida Almeida, muito “incomodada” com a violação do segredo de justiça e não acreditando no envolvimento de Pinto Monteiro, apesar da “novela” em que ambos foram actores acerca do Freeport. Uma coincidência na verdade muito curiosa e insólita pois tal senhora, há muito remetida ao silêncio, surge agora na ribalta para manifestar a sua revolta e se pronunciar sobre as violações do segredo de justiça, como se no seu tempo no DCIAP, e em certos processos mediatizados, nunca tivesse havido qualquer violação.
Quem abriu a boca ou pôs a boca no trombone foi Alda Magalhães, mulher do João Araújo, advogado de Sócrates, escrevendo nas redes sociais do Twitter “um desabafo que revela conhecimento parcial sobre os interrogatórios (dizendo) «Curioso, durante todo o interrogatório os arguidos nunca foram confrontados com um único facto concreto de corrupção»” alertando e “jogando” depois com um vazio a “montante” e suas naturais implicações criminais. E, como é de todo óbvio, não podemos deixar tão só de nos interrogar se entre lençóis, e entre marido e mulher, e quer a “montante” quer a “juzante”, não poderá ter havido uma concreta violação ... do segredo de justiça!...
Com ou sem violações do segredo de justiça, estamos convictos de que o “rio” em que se tem vindo a tornar e a transformar o caso em apreço se poderá tornar cada vez mais caudaloso, revolto e com perigosa ondulação, podendo originar toda uma enxurrada e arrastar consigo todo um mundo de porcaria e de detritos. Eventualmente perturbando muitas outras figuras e arrastando-as, muito embora em Évora ainda haja lugar para muitos outros, admita-se.
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