Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2022-02-22 às 06h00
Queres ir? Não dá. Pode ser para…? Quando? Se fosse …. Não estamos, ou não conseguiremos estar em todo o lado, porque o dia-a-dia tem a sua métrica estabelecida, e o tempo não estica. Ainda não somos omnipresentes. Lá virá o seu tempo? Talvez como Avatars” num futuro tecnológico, mais ou menos, distante, ou com outros credos. Não sei? A ansiedade de queremos estar em muitos sítios, tal é a quantidade de oportunidades que nos entram pelos sentidos, desgasta-nos. Acabamos frustrados, atribuindo á falta de tempo a maioria das culpas das oportunidades perdidas.
O tempo não é igual para todos, porque desigual é a atividade que cada um faz no mesmo espaço cronológico. O tempo só se manifesta na ação consciente de algo a ser feito. Quando dormimos não existe a consciência do tempo. O movimento cósmico que dá significado á passagem do tempo é espantosamente constante, razão porque a existência de mais ou menos tempo, varia apenas em função do que fazemos durante o mesmo movimento celeste. Ou seja, ter tempo depende das nossas escolhas.
O problema é que não somos nós que fazemos a maioria das escolhas. Estamos dependentes de tudo e dos outros. Desde logo do sítio onde nascemos e da origem dos nossos progenitores. Depois das necessidades que a vida nos impõe para nos mantermos vivos e suadáveis, com energia para agir e pensar. A simples e básica necessidade da alimentação exige ação para aceder ao recurso que nos saciará. Ou seja, exige disponibilidade de tempo para…
A maioria dos recursos são escaços. Quantos mais numerosos formos, mais recursos necessitaremos. Conseguimos produzir a maioria do que necessitamos, para além dos recursos, Isto implica organização para agir num determinado período de tempo. O modelo de crescimento permanente obrigou-nos a multiplicar o nosso esforço físico e intelectual. Obrigou-nos a cooperar, organizando-nos em tarefas distintas, com a objetividade de alcançar determinado resultado. Inventamos o trabalho, como hoje o concebemos, entendido como meio que visa aumentar recursos que precisávamos ou desejávamos. A partir daqui, nunca mais deixamos de seguir esta opção de produzir sempre mais, para mais ter, o que exige ação durante mais horas, com mais gente, mais eficiência e eficácia, mais máquinas, mas irremediavelmente TUDO limitado pelo período imutável natural, que designamos tempo.
Em termos muito básicos, subdividimos o tempo natural de 24 horas, diariamente disponível, em três grandes blocos: 1/3 para dormir; 1/3 para trabalhar; 1/3 para o resto das nossas vivências. É principalmente este último período aquele que mais nos diferencia, pois é ali que encaixamos a maioria das ações que distingue a nossa vida como seres sociais e a qualidade que atribuímos em viver esses momentos. É neste espaço que incluímos o tempo para nos alimentarmos, o tempo para socializarmos, o tempo de lazer, o tempo para nós próprios.
Ambiciosos e eternamente insatisfeitos queremos mais de tudo, mesmo que fisicamente seja impossível de o realizar. Sobras e excedentes. Muita coisa que acaba esquecida. Temos uma fixação para ter já isto, mesmo que não exista tempo no futuro para isso. Acreditamos que lá virá a oportunidade. Acumulamos vontades. Sentimo-nos pressionados pelo apelo da “bela vida” e surge o Stress da impotência e a frustração de perda, mesmo não nos faltando nada. Uma angústia que cheira a soberba.
Como não queremos, ou podemos, altear muito o terço do tempo destinado ao trabalho, porque, supostamente (não para todos) diminuiríamos a riqueza criada e consequentemente meios para ter mais, alteramos a forma como usamos o tempo dos restantes terços. Em vez de 8 horas para dormir, passamos a querer descansar em 6 horas, ou menos. Se isso não basta-se, dormimos cada vez menos dentro do período biológico do sono. O tempo assim ganho poderá ter que ser pago, bem mais caro no futuro, nos desequilíbrios de saúde que atribuímos ao azar. As farmacêuticas e o pessoal médico (alguns) agradecem.
Tentamos ganhar também tempo na troca de prioridades e atenção que deveríamos dedicar às múltiplas atividades que colocamos no último terço. Comemos a correr. Comprarmos a correr. Tratamos das coisas nem casa a correr. Abordamos a família a correr. Dispensamos o mínimo de tempo a ler ou a assistir a bom programa cultural, isolamo-nos em função de gostos individuais, uns nas novelas, outros no futebol, outras nas futilidades que a Internet nos coloca na mão num simples telemóvel que passou a ser parte do corpo humano. Cansamo-nos no período de tempo diário que tínhamos escolhido para viver mais descansadamente. A bela vida transforma-se numa angustiosa forma de a viver, que mesmo usufruindo de tudo o que ela nos proporciona, não nos consegue satisfazer.
A vida moderna enche-nos de desafios para experimentar novas sensações. Dispomos de bens para muita coisa, necessária ou não, incluindo o acesso às tais novas sensações de vida. Claro que isto não é linear nem proporcional e muito menos equitativo. Para a grande maioria dos humanos a ambição não passará de desejos ou sonhos. Milhões não chegam sequer a ter qualquer ambição, limitam-se a sobreviver no tempo que a sua vida lhes concede. Sobras-lhes tempo para sofrer.
Tempo. De repente, sinto a mudança. Fico com todo o tempo que o trabalho me ocupava para mim. Penso descansar, mas não falta quem logo me alerte para o perigo do ócio. A inatividade apressa o destino final. O Homem precisa de atividade. Precisa de ter um pouco de ansiedade. Procura uma necessidade. Busca a solução, etc., etc..
Interrogo-me: Será mesmo assim? Mais uma vez parece que não dependo apenas das minhas escolhas. O caminho cósmico mantem-se inalterado e sinto o tempo a passar, o que não deixa de ser ansioso. Que futuro me reserva o amanhã? Se quiserem ajudar, não se esqueçam da tal ”bela vida”.
15 Junho 2025
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