Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2023-11-28 às 06h00
“Onde não há pão, todo ralham e ninguém tem razão”
Nunca a humanidade viveu tão bem como hoje, quer ao nível da riqueza produzida, número de pessoas que dela usufruem e correspondente distribuição mundial.
Paradoxalmente, parece estarmos a viver numa crise internacional que se revolta contra o estado atual da economia, sentindo-se o aumento da crispação entre povos, que coloca em causa a estabilidade existente.
O sucesso mundial da economia internacional, que deu vantagens ao modelo do designadoa capitalismo liberal, ou democrático, resulta do envolvimento de muitas variáveis e intervenientes que possibilitaram o aumento da produtividade e o aumento de criação de riqueza, nomeadamente as devidas às melhorias técnicas permitidas pelo uso da energia baseada no petróleo, à inovação científica, à revolução dos meios de transportes, às novas e rápidas formas de comunicar e transferir saber (digitalização), ao aumento das capacitações do trabalho e à criação e adoção de regulamentos internacionais que deram estabilidade e confiança às transações comerciais em todo o globo.
Tudo isto foi possível pelo crescimento das liberdades que a Democracia trouxe. Não por acaso, foram os países instalados no designado mundo ocidental que tomaram a dianteira no desenvolvimento económico e social. Mesmo os países que tinham e, muitos deles continuam a ter, governos mais ou menos autoritários, acabaram por orientar as suas economias para o modelo capitalista ocidental.
O aumento da riqueza mundial e o crescimento das liberdades permitiu a muita mais gente aumentar consideravelmente os seus rendimentos e a sua qualidade de vida, originando formação de um grande grupo de consumidores que veio a formar a designada “classe média”. Com esta classe média suficientemente satisfeita a Democracia fortalecia-se e os partidos menos revolucionários assumiam o poder e a orientação das Instituições e dos governos. O mundo crescia sem grandes transtornos sociais e políticos.
Se tudo estava a correr tão bem, qual a razão do aparecimento súbito de um pessimismo que põe em causa a estabilidade nas sociedades democráticas?
Como é que se justifica o descrédito das elites responsáveis pela gestão das Instituições e da Política?
Como é que se abrem tão facilmente oportunidades para soluções populistas e radicais que tendem a diminuir as liberdades conseguidas em Democracia?
Terá o modelo económico enfraquecido e ruído?
Terão sido as políticas seguidas pelos Governos democráticos a favorecer o desastre?
Não há modelos económicos perfeitos. Se a liberdade económica potencia a criação de riqueza, premeia a meritocracia e compensa o esforço e o investimento feitos, também permite abusos e a diferenciação dos menos capazes. O modelo que permitiu que a riqueza aumentasse em todo o mundo, permitiu também o aumento das desigualdades entre ricos e pobres, seja entre nações ou entre cidadãos do mesmo país. Pior, aumentou a diferença entre os muito ricos e as famílias e cidadãos que sustentam o próprio modelo, os tais da tal “classe média”. A agravar tudo, há um Mundo que muda para pior as suas relações comerciais. Há uma alteração no modelo de empregabilidade industrial que origina milhões de desempregados que não são reciclados e absorvidos pela nova indústria. Há um excesso de financeirização na economia, com prejuízo das pequenas e médias empresas, fazendo crescer as superempresas monopolistas. A Inteligência Artificial faz cresce o receio que já não é suficiente estar bem capacitado para aceder a emprego remunerado justamente. Há cada vez mais incertezas e menos “pão” para todos.
As Democracias estão aprisionadas pelos condicionamentos dos contratos multilaterais e regulamentos internacionais. Os Governos democráticos já não conseguem condicionar a evolução da economia. Como o modelo existente demora a regenerar por si e não há quem assuma o risco de rapidamente conseguir que se façam algumas mudanças, a frustração vem ao de cima.
As liberdades das Democracias que protegiam minorias tornaram-se fonte de protesto. As políticas sociais públicas estão a fraquejar apesar do aumento dos apoios financeiros, incluindo os dados aos países mais desfavorecidos. A abertura das Democracias está a transformar-se numa porta onde se dirigem hordas de migrantes. O terrorismo internacionalizou-se e trouxe os medos dos fundamentalismos.
Os Governos democráticos viram-se para o curto prazo. O importante é o dia de amanhã e, logo mais, haverá eleições. Com ciclos eleitorais permanentes têm que se preocupar em se manter no poder e, para isso, apenas lhes restam os Orçamentos, cujas escolhas tenderão a favorecer o seu próprio eleitorado, gerando-se conflitos de interesse, quando não corrupção.
Deixamos de ouvir políticos a propor os grandes desígnios para um futuro melhor. Os grandes objetivos para o futuro e as correspondentes e necessárias projeções técnicas ficaram esquecidas.
Com menos riqueza para redistribuir e mais pessoas a sentirem-se defraudadas por quem lhes tem vindo a prometer sistematicamente maior liberdade e um futuro melhor, quebrou-se a confiança nos Governo democráticos.
Surge a oportunidade dos populismos e demagogos. Com eles haverá certezas? Quais? Para quem? Como, e quando serão obtidas?
Temo que na busca de tais certezas, lamentaremos a perda de parte significativa da nossa liberdade.
15 Junho 2025
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