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Tempos difíceis (II)

Portugueses bacteriologicamente impuros

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Tempos difíceis (II)

Escreve quem sabe

2022-10-04 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

À semelhança de séculos anteriores, o 1.º quarto do século XXI tem sido profícuo em acontecimentos que auguram nada de bom para o futuro próximo. Voltamos aos desequilíbrios económicos e sociais verificados no final do século XIX, início do século XX.
Acreditávamos que a economia global faria aumentar a riqueza mundial sem fim, uma crença alavancada pela financeirização da economia, pela mudança da produção manufatureira para países com preços muito baixos na mão-de-obra, sustentada no modelo de competitividade entre Nações, tudo isto facilitado pela ampla liberdade na alocação das contas financeiras e fiscais, num mundo global, incluindo o dos designados paraísos fiscais e o novo mundo digital, que a tudo parecia responder na hora.

Se é verdade que assistimos a um visível crescimento da economia mundial, com muitos milhões a sair da pobreza absoluta, também é claro que assistimos ao aumento crescente das desigualdades entre povos e pessoas.
O primeiro abalo veio com a crise financeira do subprime, provocado pela “engenharia financeira” da desmultiplicação do dinheiro, que provocou a queda de um dos maiores bancos do mundo e colocou em rotura financeira as economias mais endividadas, nomeadamente Portugal, que todos recordamos por nos terem sido impostos pelos credores planos de contingência e políticas de austeridade.

Depois surge o SARS-COV-2, vírus altamente contagioso, que fez fechar o mundo de forma quase instantânea, num medo pandémico também ele global. O encerramento da grande maioria das atividades produtivas e de transporte, colocou em evidência a falta de sustentabilidade económica do modelo assente na livre externalização da produção, da liberdade financeira e fiscal com a consequente redistribuição desajustada da riqueza.
O mundo dava-se conta do erro e imediatamente os preços das matérias-primas, dos transportes e da energia iniciaram a subida (inflação). O sucesso das vacinas e a retoma da atividade mundial fez acreditar que o problema seria passageiro, conjuntural e de curta duração. O capitalismo global seguiria o seu rumo. Apesar da retoma da atividade, a inflação persistia obrigando os Bancos Centrais a tomar as medidas do costume: aumento das taxas de juro e restrições ao endividamento.

A agravar tudo isto, eis que uma potência militar, que se pensava incluída numa Europa decide avançar para o saque dos impérios, invadindo um país vizinho. O batizado Mundo Ocidental, reage, optando por impor sanções económicas e financeiras ao invasor, esquecendo-se que o modelo económico livre e global tinha criado a sua própria dependência energética dessa potência militar. Claro que a retaliação não se fez sentir e a escassez de recursos e energia fez aumentar o medo de uma resseção prolongada, justamente o mesmo que havia acontecido no secular período anterior donde advieram as conhecidas “guerras mundiais”. A História, repetir-se-á?
A economia não gosta de instabilidade. De repente deixamos de ouvir falar em recuperação económica, sobretudo na zona da União Europeia, apesar dos célebres Planos de Recuperação e Resiliência, e passamos ao ritual dos anúncios do baixo crescimento dos PIB e aos avisos de resseção previsível.

Portugal não poderá escapar às contingências que advirão desta instabilidade. Quem anuncia crescimentos acima da média europeia como bom futuro, só por distração, ou propósito, o consegue fazer. Infelizmente, mais uma vez, não soubemos aproveitar o período de crescimento económico dos últimos anos para nos transformarmos e, modernizarmos o nosso modelo económico, que se mantêm assente na baixa produtividade e baixos salários.
Os Governos de esquerda das últimas décadas, optaram por distribuir dinheiro e crédito, acreditando que o consumo geraria maior necessidade de produção e consequente criação de riqueza, mais emprego e melhor vida. Mais consumo, mais impostos e satisfação de quem gasta. O povo gosta deste modelo de “canto da cigarra”, dando maioria nas eleições a quem lhes transmite a tranquilidade dum Estado que promete futuros risonhos com menos trabalho. Temos um Estado paternalista que a tudo e a todos parece proteger: pobres ou remediados, trabalhadores ou funcionários, reformados ou jovens, empresários ou rentistas. Todos.
Se tiverem problemas peçam, invistam (leia-se endividem-se), metam projetos que a Europa não nos deixará ficar mal. Já agora, aproveitem e divirtam-se, pois não faltam neste país sol, festivais, festas, romarias e futebol.
Quem falou em tempos difíceis?

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