A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2018-10-29 às 06h00
Escrevo esta crónica neste domingo de manhã. Acordei cedo, porque a mudança de hora troca as voltas ao nosso ritmo diário. Pode ser o último ano que passamos para o fuso de inverno, se a Europa assim decidir. A esta hora, ainda não abriram as urnas no Brasil. Temo o que possa acontecer do outro lado do Atlântico. Anda perigoso o mundo das Américas. Mas a Europa também esconde as suas ameaças que se tornarão mais visíveis à medida que se aproximarem as eleições europeias. Antes disso, ainda há um brexit para definir.
Não gosto particularmente do horário de inverno, mas isso não tem a ver apenas com a chegada mais cedo da noite. Não gosto de dias que encurtam a luz solar e que gelam o ambiente exterior. No entanto, nada adianta Portugal ser contra ao fim da mudança da hora. Se a proposta da Comissão Europeia for favoravelmente votada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu, terá de ser aplicada a todos os países. E lá vamos nós ter de ir levar os nossos filhos à escola ainda de noite e acender a luz quando chegarmos ao nosso local de trabalho. Será estranho...
Ainda que não tenhamos participação direta no escrutínio, as eleições do Brasil sempre suscitaram grande interesse em Portugal. Somos povos irmãos que partilham cada menos uma cultura comum. Resta-nos ainda a língua. Se as sondagens não falharem, ganhará Jair Bolsonaro, o candidato temido no exterior, mas que conta com o apoio de metade dos brasileiros. Claro que o PT e Fernando Haddad ainda podem surpreender.... Nenhum dos candidatos é adequado para recolocar o Brasil na rota dos países de economias emergentes.
Um, porque é ditador; outro, porque sai de um partido afundado em casos de corrupção. E que ninguém venha impor discursos deterministas a partir da força das redes sociais. Estes dois candidatos impuseram-se num tempo em que a nação perde inequivocamente o seu rumo... O que se passou no universo digital é apenas mais um elemento que ajuda a ler o que se passa.
A Europa também dá sinais preocupantes. Em Itália, há um ministro do Interior, o célebre Mateo Salvini, que parece mandar mais do que o primeiro-ministro, impondo às instâncias europeias vontades que colidem frontalmente contra um território europeu pensado em conjunto; na Polónia, o Governo arriscou pôr em marcha uma reforma judicial de tal forma radical que o Tribunal Europeu ordenou imediatamente a sua suspensão, ameaçando Varsóvia que, em caso de incumprimento, a União abria uma batalha judicial sem precedentes. Na Alemanha, a extrema direita vai fazendo o seu caminho. E em França também. O eixo franco-alemão já viveu melhores dias.
Do outro lado do canal da Mancha, os britânicos tiveram azar em ter aberto o número 10 da Downing Street a David Camaron, o primeiro-ministro britânico que, por razões eleitoralistas, se lembrou, um dia, de referendar a permanência, ou não, do Reino Unido na União Europeia. E lá foi o homem soltar o diabo num reino que inesperadamente vergou a uma onda populista posta a circular pelas ruas, e pelos media, pelo fleumático conservador Boris Johnson. Mais de dois anos depois do escrutínio, ninguém sabe o que fazer, ainda que a data limite para a saída definitiva da UE esteja demasiado perto. Theresa May não consegue fechar o acordo, os conservadores revelam-se incapazes de se unirem em torno de uma posição comum e o povo há muito que se mostra céptico em relação a um voto que mais parece ter sido colocado nas urnas de modo muito irrefletido.
Tempos estranhos, estes. Talvez estejamos à beira da mudança de um novo paradigma que encontra em alguns países, nomeadamente em Portugal, alguma resis- tência.
No entanto, todos já percebemos que o futuro não se traça de forma isolada, ainda que muitos lutem por delimitar cada vez mais as suas fronteiras. Que paradoxo!
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