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Braga, sexta-feira

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The only way is up

Entre a vergonha e o medo

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The only way is up

Ideias

2024-02-06 às 06h00

João Marques João Marques

As eleições regionais dos Açores foram um teste à resiliência do sistema democrático e às respostas que os diferentes partidos que dele fazem parte têm dado à questão de como combater o extremismo crescente no panorama político português.
E os resultados são claros, o PSD e a Aliança Democrática surgem, não só como os vencedores inequívocos dessa eleição, mas também enquanto a única força que compreende e respeita as regras do jogo.
Em primeiro lugar, coisa estranha desde 2015, admito, mas, ainda assim, tradicional na democracia portuguesa, porque ganhou, de facto, as eleições. Teve mais votos, mais mandatos, mais percentagem de eleitorado do que qualquer outro partido ou coligação, e isso, até prova em contrário, significa que ganhou as eleições. De resto, aumentou expressivamente o número de votos obtidos e a distância face ao PS, em comparação com 2020.
Depois porque, apesar de não ter conquistado a maioria absoluta, ficou muito perto e, tendo o PS ficado muito longe, tornou claro ser insustentável outra coisa que não a indigitação de Bolieiro para a liderança do Governo Regional.
Finalmente, porque não só venceu, tem por bom o mandato que o povo lhe conferiu, como ainda se disponibiliza para governar com o xadrez político que as eleições devolveram. Sem temores nem ameaças inconsequentes.
O outro grande vencedor da noite foi Luís Montenegro, já que os astros e os votos ditaram que o único bloco alternativo de governação que pode ultrapassar aritmeticamente a AD é o bloco PS e Chega. Fica graficamente demonstrada a atração centrípeta que o redemoinho lançado por António Costa, alimentado por Augusto Santos Silva e tropegamente repetido por Pedro Nuno Santos, de que o Chega é o papão do PSD, se traduz simplesmente em que o Chega é o seguro de vida do PS.
Sem Chega a mandar ou condicionar a governação do PSD, o que sobra é um PS perdido, sem saber o que fazer, dividido internamente, entre os decentes e indecentes. Os decentes, que não apregoam vãmente que o Chega é o inimigo da democracia e são consequentes, assumindo os atos concretos que decorrem da urgência da repulsa de um partido assim qualificado. E os indecentes, que fogem à primeira oportunidade de rechaçar o tal bicho papão se isso depender da viabilização de um governo que não seja o seu.
Pedro Nuno Santos ficou pendurado no muro das lamentações do Rato, onde cabe, ao mesmo tempo, e para espanto dos portugueses, a coragem da denúncia do extremismo e a cobardia da deserção no campo de batalha.
Para o PS a democracia é um joguete que só faz sentido quando o PS ganha. Lá está, “melhor do que o PS só o PS”, ou “habituem-se”, citando o atual Primeiro-Ministro (ainda o é?).
André Ventura ficou siderado pela ineficácia do crescimento do seu partido e provou, pela primeira vez, o veneno da irrelevância. Confrangido com o facto de não poder manter-se na esfera da oposição pura e dura e sem poder real para influenciar o que quer que seja, viu-se obrigado a, num ápice, deixar a puberdade e crescer para a idade adulta dos partidos. Perdido e atónito, reagiu da única forma que qualquer jovem adulto menos responsável reage perante problemas difíceis: fugindo para a frente. A rebeldia inconsequente do “my way or the highway”, ou entro no Governo ou não há Governo, põe a nu a contradição insanável do discurso de quem quer “limpar Portugal”, designadamente dos “tachos”, e a prática de querer, a toda a força, entrar para o “pote” de que tanto desdenha.
Trocando por “miúdos”, a bola é minha, ou jogam com as minhas regras ou vou-me embora. Uma lógica demolidora no recreio da escola, mas inaceitável entre pessoas e partidos responsáveis.
PS e Chega declararam não aceitar viabilizar um governo do PSD, o mesmo partido que viabilizou um governo do PS, no final dos anos 90, sem que a democracia estivesse em perigo ou sem que o radicalismo de esquerda tivesse tomado conta dos socialistas. O PSD fê-lo por um imperativo ético, por respeito democrático e por decência política.
Neste teste de laboratório nos Açores, os portugueses puderam ver que uns – o PSD – cumprem a sua palavra, respeitam a pronúncia popular e abrem-se à convergência responsável. Outros – o PS e o Chega – entretêm-se naquilo que sempre os uniu, o ensimesmamento e a noção pueril de que “ou eles ou o caos”, sendo justo dizer que o PS prefere o “eles” e o Chega prefere o “caos”.
Temos, hoje, por certo e líquido que o único partido que aceita coligar-se com o Chega é o PS, não para governar, mas para impedir que qualquer outro partido o possa fazer.
Os adultos na sala moram noutras paragens, algo que os portuguses saberão devidamente reconhecer.
Sondagens, como se viu nos Açores, onde, de quinta para domingo, a AD passou de inelutável perdedora para incontestável vencedora, leva-as o vento.
Para o PSD e para a coligação que lidera, e tal como a icónica canção de Yazz titulava, o caminho só pode ser ascendente.

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