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Travão de mão

Liberdade para transformar Braga

Travão de mão

Escreve quem sabe

2025-05-17 às 06h00

Ricardo Moura Ricardo Moura

Chegou-me aos olhos o recente relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – “Uma Questão de Escolha: Pessoas e Possibilidades na era da Inteligência Artificial” – onde li que o homem caminha numa “alarmante desaceleração”, com o nível mais baixo registado dos últimos 35 anos. O documento analisa o progresso numa variedade de indicadores conhecidos como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e que engloba áreas que passam pela saúde, educação e nível de rendimentos. Esta conclusão ganha ainda mais peso quando o estudo aponta para um aumento das desigualdades entre países ricos e pobres e onde o desenvolvimento humano é atrasado em 90% deles.
Lido desta forma, espanta quem palmilha em terras onde paira a chamada normalidade. Nunca como agora a informação anda à rédea solta e com acesso ilimitado. Parece que tudo está à mão de semear, mesmo sabendo que o digital não é para todos. Dados recentes da União Internacional de Telecomunicações (ITU - International Telecommunication Union) indicam que cerca de 68% da população mundial tem acesso à Internet, mas que 32% seguem desconectados.
O recente apagão que invadiu a Península Ibérica é um bom exemplo de como o mundo é carente de partilha e saber. Ainda hoje é inexplicável o que sucedeu face a tanta artilharia tecnológica ao dispor. Não estranha que haja estagnação no IDH por todo o mundo ao mesmo tempo que entra em campo a Inteligência Artificial (IA) como combustível para reativar o desenvolvimento.
O diagnóstico deste recuo é explicado pela falta de financiamento externo, pelos avanços da automação e pelas tensões comerciais que dificultam o crescimento das economias, o que se traduz em menos recursos para custear o desenvolvimento humano.
Com as fichas todas colocadas na IA, não é raro ouvirmos relatos de fuga de talentos numa lista liderada pelo Luxemburgo, seguido pela Suíça e pelos Emirados Árabes Unidos. Mais à frente, o relatório defende uma abordagem centrada no ser humano para o uso da IA, com potencial para redesenhar profundamente as abordagens de desenvolvimento.
A solução parece disparar para um “reinício” do nosso cérebro. Este deve atacar de frente três áreas: construir uma economia onde as pessoas colaborem com a IA, em vez de competirem contra ela; incorporar a agência humana em todo o ciclo da IA, do projeto à implementação e modernizar os sistemas de educação e saúde para atender às exigências do século XXI.
Uma espécie de “caderno de encargos” que democratiza o saber, feito com políticas certas focadas nas pessoas. Caso pinte este quadro com IA, o homem pode voltar a destravar o travão de mão e galgar conhecimento, habilidade e ideias sem freio.
É neste discurso que alinha Pedro Conceição, responsável pelo Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, quando esclarece que “as escolhas que fizermos nos próximos anos definirão o legado dessa transição tecnológica para o desenvolvimento humano”.
No Velho Continente, a meu ver, os grandes desafios passam pela inovação, demografia e competitividade. Portugal é o único país lusófono na categoria de
Desenvolvimento Humano “muito elevado” o que diz bem das gritantes desigualdades que ainda subsistem no acesso ao saber. Há muita terra queimada mundo fora, longe do holofote.
A história é cíclica e não abona a quem tem o jugo permanente na cabeça. O tempo passa, mas o Sol insiste em não ser para todos. Há países com desafios severos que parecem não ter fim, impulsionados por tensões comerciais crescentes, pelo agravamento da crise da dívida e pelo avanço da industrialização sem geração de empregos. Basta ligar o televisor para ver o tempo ocupado com a guerra. Um gatilho sem parar que alavanca os grandes e mirra os pequenos.
A IA pode ajudar o bem como potenciar o mal. Depende de como for usada pelo homem. Tenho muitas reservas que seja unicamente usada para agilizar a produtividade nas diferentes áreas.
O que sei é que mudou o jogo e que veio para ficar, numa época cada vez mais irracional, sem liderança mundial. Quem a possui em escala está centrada num pequeno número de potências, como Estados Unidos (em março de 2024, hospedavam cerca de metade dos data centers globais), China e Reino Unido, envoltas numa nuvem que já não mascara as tensões geopolíticas e os retrocessos democráticos.
É uma corrida sem sprint. Por um lado, o grupo dos fortes que controla o inegociável, e por outro lado, a maioria esmagada pelo que recebe, forçada a calar sob pena de ser castigada. Assim vai o mundo. Até um dia.

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