Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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Três Lanços de Escadas

Entre a vergonha e o medo

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Ideias

2016-02-09 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Os prédios antigos são edifícios maravilhosos. Contêm arte dentro deles e apresentam uma elegância semelhante a uma velha senhora de cabelos brancos, ondulados, com óculos na ponta do nariz - e sem xaile, óbvio. Os prédios antigos fazem-nos relembrar todos os pormenores dos elevadores com grades, desenhos nas suas paredes, e mãos que nos são trazidas pela nova moda vintage que tem vindo a chegar (espero que para ficar). São estes os edifícios que compõem a maior parte das nossas cidades, que, por tendências hodiernas, têm sido ocupados por pessoas que nasceram décadas após a sua construção, e que são estimados por aqueles que, como eu, apreciam as histórias impregnadas nas suas paredes.

Existe um senão… A maioria dos prédios antigos não apresentam elevador - “apresentar” é quase adjetivo positivo, visto que as escadas são como que uma espiral que nos vai engolindo à medida que as vamos subindo. Três lanços de escadas, um após o outro, fazem-nos lembrar a importância da atividade física - continuada e não interrompida, com certeza -, do ajuste corporal e de uma correta postura - através do uso de mochila e não daquelas malas lindas de apoio num só ombro -, não falando do essencial e da leveza que trazem para as nossas vidas as alfaces, os brócolos e a fruta tão colorida. Três lanços de escadas são fulcrais para nos lembrar do running perdido, das horas de ginásio gastas e não aproveitadas e de todos os trilhos vistos apenas de longe. Aliás, três lanços de escadas são suficientes para repensarmos no tal de “estilo de vida saudável” que andamos a adiar há uns bons tempos…

Continuo a considerar que os prédios antigos são belíssimas pontes entre o passado e o futuro. Já diversas vezes fui mencionando a importância da relação com os vizinhos e, sem dúvida, as formas e os corrimões desses edifícios propiciam-se a esse estabelecimento de relação. Somos obrigados a passar uns pelos outros, eventualmente a dar os “Bons Dias” ou as “Boas Tardes” (afinal os três lanços de escadas são comuns e obrigatórios para todos chegarmos a casa), a partilhar os cheiros e os costumes de cada um nas suas cozinhas, os ruídos, a música, o sossego. Sim, porque sossego partilhado também faz parte de uma boa relação e da construção de bons laços. Assim como a partilha dos mesmos degraus e dos mesmos lanços de escadas, que nos permitem ter algo com que iniciar um diálogo ou manter as conversas que nos fazem viver em partilha nos prédios antigos.

Afinal, os prédios antigos ajudam-nos na preservação da nossa saúde mental. A maior atividade física, o desejo de beber água após os três lanços de escadas e a consequente hidratação, o optar pelos alimentos mais leves para não pesarem tanto nos sacos que transportamos connosco, aumentam os nossos índices de felicidade e de bem-estar. Melhoram igualmente a nossa saúde física, ajudando-nos no controlo dos índices cardiometabólicos que tanto tememos (peso, tensão arterial, …) - ou que nos fazem temer. Existem histórias nos lanços das escadas que são irrepetíveis, e depois de termos o tempo de subirmos (ou descermos) as três etapas em questão, conseguimos cogitar sobre decisões a tomar, planos a fazer ou até organizações e prioridades de última hora. Esse pensamento que vagueia pelos lanços das escadas ajuda-nos a fazer um ponto de espera essencial para o ponto de situação necessário. Esses três lanços fazem-nos sentir que existe, afinal das contas, tempo a perder e calma na subida, para que a descida se concretize de forma não acidentada e que se possa, por vezes, escorregar pelos corrimões - bem bonitos e desenhados, por sinal.

São três os lanços de escadas que nos permitem um equilíbrio nas nossas vidas e na nossa saúde: optar pelo estilo de vida que nos permite fazer running, ou ir ao ginásio, ou caminhar, que nos permite beber água em abundância e comer fruta colorida, e brócolos com fartura; estabelecer boas relações, que implicam um dar e um receber constante, um trabalho de dentro para fora muito cansativo, mas eficaz; e permitir tempo para a subida, tempo para descansar, permitir tempo para disfrutar da descida - mesmo que seja de escorrega.

Continuo a considerar que os prédios antigos são encantadores. E que nos ensinam que, mesmo com o passar do tempo, eles ainda vão permanecendo lá, sem os seus elevadores ou sem as suas tecnologias, com as suas escadas e com as suas lembranças, ensinando sempre quem quiser ir aprender para dentro das suas quatro paredes.

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