Analogias outonais
Ideias
2024-09-06 às 06h00
E pronto, lá se passaram as férias para a grande maioria das pessoas. O sol e as praias, por entre outras escolhas alternativas, ou mesmo ficar apenas por casa mas quebrando as rotinas, para o ano haverá mais… E retornamos ao trabalho, dizem que com a ansiedade típica de tudo aquilo que importa articular, reorganizar e intensificar.
De resto, o tempo parece ter ficado parado. As forças Israelitas continuam a exercer forte pressão em Gaza, com o número de mortos em crescendo, envolvendo inúmeras crianças e o alastramento de doenças. Por entre promessas e tentativas, o acordo de paz mantem-se difícil de concretizar. Do outro do mundo, na Ucrânia continuam os bombardeamentos, ainda que a retórica sublinhe uma vez mais os “planos de vitória”. Na Venezuela aumentam as alegações sobre múltiplas violações dos direitos humanos no seguimento do controverso processo eleitoral.
Os indicadores económicos mais recentes, da UNCTAD, informam que a dívida pública global retomou o seu percurso ascendente desde 2010; por 2023, os valores atingidos eram já um máximo histórico de 97 triliões de dólares. Impossível imaginar esta grandeza! Diz ainda a instituição que o problema é tão sério que muitos países já estão a gastar mais em juros da sua dívida pública que em educação ou em saúde.
Fala-se hoje da armadilha em que muitos países com rendimentos de nível médio poderão cair, dado o envelhecimento da população, o protecionismo que tem vindo a alastrar e as questões energéticas, neste contexto geopolítico marcado pela instabilidade e incerteza. De acordo com o Banco Mundial, num estudo muito interessante sobre este tema, é argumentado que os países devem deixar de repetir as mesmas estratégias e o mesmo tipo de investimentos por forma a criarem as condições que possibilitem a inovação e o acréscimo significativo da produtividade, disciplinando os incumbentes e permitindo ao mesmo tempo a mobilidade social e a contestabilidade política.
2024 foi um ano marcado por eleições, primeiro em março, depois em junho. Ao longo das campanhas eleitorais, foram sendo feitas e repetidas promessas; a mensagem clara é que o anterior governo tinha deixado por resolver problemas diversos por incapacidade política e gestionária. O novo governo, no quadro da sua competência, demitiu e tem vindo a demitir dirigentes de topo na administração pública, reforçando a ideia de uma anterior incompetência na definição estratégica e na implementação de medidas capazes de ultrapassar problemas na educa- ção, na saúde, em setores estratégicos, na implementação do PPR, por aí fora. Foi-nos vendida uma política macroeconómica indutora de um rápido crescimento.
É certo que passaram seis meses apenas. Reconhecemos uma estratégia clara de uma política baseada na propaganda e na satisfação pontual de interesses de determinadas classes profissionais, alargando desigualdades remuneratórias. Algumas das medidas que têm sido tomadas apresentam claramente a possibilidade de criarem mais dificuldades ainda.
Os benefícios fiscais atribuídos aos jovens em sede do IMT, aparentemente muito interessantes, contribuirão no fundo para a subida tendencial do preço das casas. Ou seja, o que se ganha por um lado, perde-se pelo outro. Desapareceram as restrições colocadas ao alojamento local, indo no sentido contrário ao que se tem vindo a decidir em muitos países europeus. Menos casas no mercado, mais tenderá a subir o preço, ou a renda, das mesmas.
No setor da saúde, nada de novo, antes pelo contrário. Optou-se por contratualizar com o setor privado a oferta, permitindo acréscimos nos pagamentos de determinados exames. Dado que a formação de médicos novos exige pelo menos 6 anos, a que se acrescentam quase outros tantos para formar especialistas, a maior produção no setor privado induzida pela contratualização reforçará a concorrência pelos profissionais do setor da saúde. Enfim, goste-se ou não da forma com funcionam os mercados, o certo é que indo por esta via, o SNS está condenado. Restam-nos os seguros e aumentar a poupança para fazer face a imponderáveis de saúde.
A discussão sobre a TAP volta a fazer títulos nos jornais; aparentemente a estratégia atual volta a aproximar-se da seguida pelo governo Passos Coelho em 2015, privatizar de forma rápida. Os escândalos acumulados à volta de uma empresa tão importante como esta, bem como a exploração política de eventuais erros gestionários, em nada beneficiam o valor da empresa ou a sua capacidade para atrair parceiros relevantes. Atira-se dinheiro para os problemas, agravando a dívida pública e mantendo as mesmas estratégias.
Fomos e viemos de férias, e nada mudou no país. Em agosto, tudo parou. Colocam-se todos os ovos no turismo. Tudo como dantes – no quartel de Abrantes.
E já agora, para quem ainda tem férias por passar: visitem Abrantes, e Tomar e Condeixa e toda aquela zona envolvente. É muito bonita.
12 Outubro 2024
11 Outubro 2024
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