Correio do Minho

Braga, terça-feira

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Um dia de sol aberto

A responsabilidade de todos

Conta o Leitor

2019-07-12 às 06h00

Escritor Escritor

Carlos Alberto Filipe

Um dia de Sol aberto em pleno verão, quando todos pensavam poder levantar-se mais tarde e rumar em direção a uma fresca ou tomar uns banhos de mar, sentiu-se como um morteiro estoirar na casa de cada qual, numa aldeia do interior Norte.
Todos apavorados se dirigiram com medo aos postigos, janelas e os mais corajosos saíram à rua, comentários e perguntas atabalhoadas de respostas imaginadas, ninguém dizia coisa com coisa, nem algo plausível, o que fazia com que se amedrontassem mais, por não conhecerem a razão pelo qual aconteceu e o que aconteceu?
As rádios e televisões deixaram de comunicar, os telefones não funcionavam, apenas faziam uma chiadeira ensurdecedora e irritante, o que permitiu evoluir o pânico em cada um, numa escala assustadora aumentando de minuto a minuto.
O “Gorjinhas” a pedido do vizinho médico foi contactar com a aldeia vizinha para ver se conseguia saber algo até porque não conseguia ligar com o hospital, se o fizesse pedia a seu chefe e director, para lhe autorizar a ficar na aldeia visto ter muita pessoa idosa e este acontecimento podia complicar a sua saúde e sempre estaria um médico para os primeiros socorros, pedindo apoio aos vários serviços e valências conforme a disponibilidade.
O Gorjinhas feito corajoso, aceitou o pedido até porque nunca tinha negado nada ao médico, não pelo seu apelido mas pela sua disponibilidade, sempre que algum membro da aldeia se encontrava debilitado o médico não descansava enquanto não resolvesse o prejuízo.
O médico era tratado à socapa por dono do inferno, talvez porque muitos que passaram por ele em estado terminal com expectativas de cura, se tivessem saído mal, finando em seguida.
Gorjinhas chega no fim da tarde na aldeia vizinha, não conseguindo ver quem o informasse, sem vivalma começou a pensar que se calhar seria melhor voltar atrás porque pelo menos estaria acompanhado e como poderia ser ajudado a compreender o que poderia ter acontecido.
Assim o fez depois de ter examinado todo o hospital e ter ficado surpreso porque nem acamados viu.
O medo apodera-se do Gorjinhas e pela sua cabeça passam todas as ideias inclusive, que quando regressar já não encontre nem sequer o médico.
Aquele estrondo seria o quê?
- Um meteorito?
- Uma parte da poeira de alguma estrela que chegasse até nós?
- Os Marcianos ou outros quaisquer seres verdes ou castanhos das profundezas do universo?
O problema existia e Gorjinhas não conseguiu descortinar o que se estava a passar, no caminho chegou a beliscar-se, para sentir dor e certificar-se de que estaria vivo, pela constância da procura sem resposta, fazia-o pensar que teria morrido e que tinha ficado com aquela incumbência de visitar o hospital depois de morto, por estar morto não conseguia ver ninguém.
Chegado de regresso na sua aldeia quase dava em louco, o mesmo cenário nem uma única pessoa para testemunhar que ele existia.
Gorjinhas procurou o médico aos gritos, mas o dono do inferno não apareceu, devo estar presente dum espaço parecido mas sem vivalma?
Será que este espaço é uma réplica?
Estrarei noutro planeta ou, depois do estrondo, tornamo-nos invisíveis?
Mas as vozes, eu farto-me de gritar e não se ouve uma única resposta às minhas palavras, aos meus súplicos, estarei doido?
Vou procurar um local onde me possa deitar um pouco, pode ser que tudo se normalize, mas com esta ansiedade como poderei eu fechar os olhos!
Estou a ficar cansado e carregado de medo sem saber de quê?
Não vejo de que ter medo mas nunca pensei que o silêncio e a solidão fossem tão macabros e arripilantes!
Doido chegou a casa e assustado basculhou todos os cantos, espreitando para todos os cantos, abriu armários, deitou-se para se meter debaixo da cama para se certificar que nenhum ser estranho se tinha infiltrado em sua casa, viu atrás das portas com tanto lanço que o movimento e ranger o faziam estremecer.
Até que fechou todas as janelas e portas atirando-se para a cama enrolado nos cobertores tapando a cabeça como para se esconder de si, e assim adormeceu.
No seu primeiro sono sonhou que estava no céu, e falando com o São Pedro, reclamava que tinha havido um engano, pedindo para o devolver novamente à vida porque tinha em mãos uma tarefa muito importante para cumprir em defesa da sua vila.
Não podendo deixar o doutor sem informação e ajuda, até por lhe deve a vida ao “Dono do Inferno”, São Pedro com voz firme e muito suave disse-lhe; - nunca te chamei, mas quando acordares vez que tudo se encontra no seu lugar!
- Vai em paz porque ainda não chegou a tua hora e não digas a ninguém que estiveste comigo sem autorização do chefe!
Gorginhas começou a sentir o seu corpo gelado por ter-se virado e revirado na cama, pontapeado os cobertores quando teve ordem de São Pedro para voltar à sua aldeia, correu com toda a força em cima das nuvens, saltando em permanência para as que se encontravam mais baixas até acordar gelado prostrado no chão.
Foi o dia em que acordou de melhor humor, lembrando o recente sonho, foi junto do espelho olhando-se e mexendo-se, para sentir a felicidade de estar vivo, como é que pude sonhar com tal tontice?
Perguntas que fazia a si, enquanto se encaminhava para a rua em direção ao hospital na espectativa de dar o recado ao “Dono do Inferno”, que agora pensava poder encontrar por estar convencido que o medo que o tolheu também o cegou.
De passo apressado pelas ruas desertas, deixando-o com o pasmo pelas poucas casas por onde passou se encontrarem de portas abertas e sem habitantes, o que o faziam temer que não teria sido nem o medo nem cansaço, mas seguindo o seu destino na esperança de se surpreender encontrando a explicação deste acontecimento tão estranho.

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