O centralismo, a regionalização e o desenvolvimento do país
Conta o Leitor
2015-07-24 às 06h00
Manuel Correia
A vida nem sempre nos corre como desejamos. Desconfiamos da bondade das pessoas, e, de certo modo com razão. Vivemos um pouco à margem uns dos outros, cada um por si!
Quando se pensa que temos a nossa vida controlada, eis que surge um imprevisto! A vida de um jovem professor pode parecer fácil aos olhos de um leigo, mas puro engano. Hoje dá aulas numa escola junto a casa, no ano seguinte a fava leva-o par uma escola a duzentos quilómetros de sua casa.
Rosa era uma professora do ensino básico, casada com duas filhas: uma de cinco anos e outra mais nova, ainda de colo. A fava colocou-a numa escola de Viseu, longe da sua casa, que era em Braga. Mas trabalho é trabalho e são ossos do ofício que temos que roer.
No dia de se apresentar, acordou bem cedo, de uma noite mal dormida. Com ajuda do seu marido, meteram-se à estrada rumo a Viseu. A viagem foi praticamente em auto-estrada, o que atenua a distância e o desconforto de uma viagem destas.
Quando chegaram ao seu destino: uma escola numa freguesia nos subúrbios de Viseu. Fizeram uma primeira abordagem às instalações, e, a devida apresentação da senhora professora ao serviço. A professora que recebeu Rosa Maria, era simpática muito prestável e atenciosa. Era preciso alojamento para a nova professora que vinha de Braga com a sua filhinha de colo. O ideal era arranjar alojamento perto da escola, sempre facilitava a deslocação a pé, visto que Rosa não tinha transporte próprio. O plano era esse mas naquela terrinha não havia alojamento, só na cidade, e as indicações deram a uma tal Dona Glória que era professora na escola da Ribeira.
Pés ao caminho, isto é motor ligado e lá foram à escola da Ribeira falar com Dona Glória. As indicações foram perfeitas e logo estavam na escola da Ribeira a falar com a professora Dona Glória: uma senhora alta, de bata branca, cabelo loiro e um ar de professora contida. Rosa Maria fez uma primeira abordagem sobre a possibilidade de arranjar alojamento, numa residencial que era sua propriedade, mas Dona Glória foi clara com um redondo “não”.
Rosa e o seu marido ficaram admirados e ao mesmo tempo preocupados. Entretanto no colo de rosa Maria a sua filha sorria para a Dona Glória e abria os braços a pedir colo. O marido perguntou o porquê da recusa, e a Dona Glória apenas disse que a sua residencial estava cheia de estudantes. O marido voltou a insistir dizendo que tinham-lhe dito que havia vagas, mas a resposta continuou sendo que não havia vagas. “Mas que chatice”, disse o marido, continuando, que tinham que procurar alternativa. Quando se preparavam para se despedir de Dona Glória, a senhora voltou a falar, mas agora com um sorriso, como se a noite virasse dia, Não vai para a residencial, vai para a minha casa!
Mas, não é possível pensaram os dois! Para a sua casa, mas porquê? Perguntou Rosa. Eu sou professora como a senhora e sei bem o que está a passar, e com uma menina tão adorável a viver na residencial juntamente com os estudantes não. O brilho que imanava naqueles seis olhos era radiante, mas a alegria do casal era ofuscado pelo brilho dos olhos de Dona Glória, uma mulher viúva de bom coração, tinha a oportunidade de ter companhia de uma colega de trabalho e de uma criança que nunca teve na sua vida, a filha que sempre desejou aparecia ali à sua frente, como podia ela recusar?
Os dias foram passando. As rotinas foram-se repetindo dia após dia. Levantar, tomar o pequeno-almoço, apanhar o autocarro, entregar a bebé numa senhora perto da escola, e voltar à noite para casa da Dona Glória, era este o ritual de Rosa.
Jantavam sempre as três como se fossem uma família.
A Dona Glória cozinhava para as três: sopa para a menina e uma refeição para as duas que mais parecia um banquete e fazia-o com tanta dedicação e prazer. Era uma mulher feliz. Os dias de tristeza finalmente eram apagados da memória, aquela menina transmitia-lhe alegria, como se fosse um anjo caído do céu!
Mas como todos os dias maus e bons, têm um fim, as duas, mãe e filha, tinham ordem para regressar a casa, ou antes a mãe tinha pedido pela menina, aproximação a casa.
Quando o dia da despedida chegou, era hora de fazer contas e pagar a estadia. Rosa, educadamente, pediu à Dona Glória que disse-se quanto lhe devia. Mas a resposta surpreendentemente, foi um “não tem nada a pagar, eu fiz aquilo que gostava que me fizesse na mesma situação, e foi um enorme prazer, passar este mês aqui convosco, eu é que devia pagar.
É por esta atitude de Dona Glória que acredito que neste vasto mundo, ainda existem pessoas de bom coração.
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