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Um outro caminho para a Igreja precisa-se

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

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Ideias

2013-03-03 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Sou católica, daquelas que a linguagem comum considera ser praticante (como se houvesse católicos não-praticantes), e sinto um incómodo profundíssimo face a notícias de pedofilia no seio da própria Igreja. Não porque as negue, mas por considerar incompreensível este pesado silêncio da hierarquia eclesiástica que tinha obrigação de agir por duas razões: para defender as vítimas e para proteger a própria imagem da Igreja que integra elementos com uma dedicação extrema e com um trabalho importantíssimo nas suas comunidades.
O escândalo da pedofilia envolvendo a Igreja foi ampliado em vários países estrangeiros. Aqui e ali, começaram a surgir notícias que relatavam casos de padres que tinham cometido crimes sexuais, a maior parte deles com seminaristas. Houve alguns (poucos!) responsáveis que pediram desculpas públicas, mas isso não é suficiente para neutralizar as coisas horrendas que, durante anos, alguns prelados foram provocando em indefesos menores.
Nos últimos tempos, este tipo de noticiabilidade estendeu-se a Portugal. Há duas semanas, a revista Visão destacou uma queixa do padre José Nuno Silva que, em 2010, terá apresentado uma queixa ao Núncio Apostólico onde garantia ter sido assediado sexualmente por D. Carlos Azevedo, nomeado em 2011 para o Conselho Pontifício da Cultura do Vaticano, dirigido pelo cardeal Ravasi, um dos nomes falados para suceder a Bento XVI. Também D. Carlos era, até aqui, considerado um nome forte para substituir o actual cardeal D. José Policarpo. O caso tem tido ampla repercussão mediática, com as partes a reagirem de forma distinta aos jornalistas: o padre Nuno remetido ao silêncio enquanto o bispo tem procurado defender-se. Ora aqui há um que diz a verdade e há outro que mente. Poder-se-ia passar ao lado da questão, não fosse a gravidade dos factos. Recebida a queixa em 2010, o Núncio Apostólico não pode fazer de conta que não aconteceu nada, esperando que o tempo remeta tudo para o esquecimento. Não é assim que se resolvem problemas desta envergadura. Com isto, a Igreja não está a ser misericordiosa para com os agressores, está a castigar ainda mais as vítimas.
Ontem o semanário Expresso recordava casos de dois padres que, nas suas paróquias de Lisboa, abusaram sexualmente de crianças, algumas levadas de boa fé para férias. Denunciados pelos pais das vítimas, estes padres foram transferidos para o Algarve um, para Paris outro. O semanário já havia destacado, há algumas semanas, o pároco que estava posto em sossego no sul do país, como se nada tivesse feito. Depois dessa notícia, a Igreja suspendeu-o de funções. O pároco que rumou para a capital francesa conseguiu esconder de todos a razão da sua transferência, ainda que dos seus actos tenha resultado o suicídio de um jovem.
Leio estas notícias e tenho dificuldade em ligá-las à realidade. Como é possível a Igreja continuar parada defendendo culpados? Chega de protecções doentias! Chega de silêncios cheios de culpa! Chega! A Igreja congrega em si um conjunto infindável de pessoas que entregam as suas vidas em prol da ajuda a terceiros; está permanentemente ao lado dos mais pobres, dos que mais sofrem, deixando sempre uma mensagem de esperança a todos. É em nome desta Igreja, que procura em permanência construir um mundo mais digno, que urge encontrar outro caminho que acabe, de vez, com todas as hipocrisias e com estes crimes inanarráveis.

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