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Um pedaço de infância

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

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Conta o Leitor

2011-08-14 às 06h00

Escritor Escritor

Por Sílvia Lopes

Nem todos os dias me lembro, mas lembro-me de ser criança, onde os dias nos pareciam compridos, os objectos maiores e as pessoas crescidas muito grandes.
Aproximavam-se as férias de verão e como qualquer criança, estava ansiosa por passar uns dias sem números, letras e outros compromissos escolares.
As férias grandes, como lhes chamavamos, porque eram realmente umas férias longas, não nos incomodavam, pois eram, pelo contrário, sinónimo de mais aventuras, traquinices, muitos mergulhos no rio, banhos no tanque, muitas leituras, longas partidas de cartas e torneios de matrecos antes do jantar.
A quinta do meu avô era enorme, tinha alguns animais e muitas árvores de fruto, mas havia uma árvore especial, onde eu e o meu irmão brincávamos ao Tarzan, todos sabem a quem me refiro. Uma lenda, um mito, uma realidade, ainda que sobre uma outra forma.
De manha acordávamos cedo e a primeira coisa que fazíamos era lavarmo-nos, como não havia esquentador, tínhamos de ir à cozinha e a nossa avó dava-nos um jarro de água quente. A banheira era antiga e tinha umas pernas engraçadas. De seguida preparavamo-nos para ir ao rio com o nosso tio e primas, íamos a pé, andávamos um bom trilho pela bouça e a caminhada era sempre divertida, com risotas, sardões e cobras à mistura. O rio não era perigoso, já o conhecíamos muito bem, pois os meus tios adolescentes já o frequentavam, cresceu connosco, mas também éramos responsáveis e tínhamos consciência do perigo, embora ainda fossemos crianças, não pequeninas, mas pequenas. O rio era constituído por três zonas e nós chamávamos o rio de cima, o rio do meio e o rio de baixo. O rio de baixo era mais perigoso porque havia corrente, mas o nosso espírito aventureiro impulsionava-nos e por vezes mergulhávamos para a água e a pedra em forma de croissant era o nosso trampolim. Na altura não tinha receio das cobras, nadavam lado a lado comigo, agora só de pensar até me arrepio.
Os dias nunca eram aborrecidos, havia tempo para tudo, afinal os dias eram muito compridos, apanhávamos banhos de sol na eira, íamos às ameixas ainda quentes do sol, jogávamos ao esconde e o zip, o cão participava nas nossas brincadeiras. Ajudavamos nas vindimas e na desfolhada, e a eira também servia de palco para as nossas sessões de teatro e cantorias.
No quarto do meu avô, havia uma caixinha de música que o meu tio tinha trazido do ultramar, que, quando acabava de lhe dar corda uma bailarina começava a dançar ao som de uma música relaxante e melodiosa. Eu não resistia a dançar em frente ao espelho e, brincando, fazia de conta que era uma bailarina.
E é este pedaço e tantos outros que a infância já foi… e o que é, apenas pode ser recordada.
E com esta música, aquela que apenas cada um de nós pode ouvir, deixo este pedaço de infância que recordo com saudade.
Nós somos como uma árvore, disse-me um dia o meu avô…
A árvore da vida

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