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Um Político Assume-se

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Ideias

2012-03-25 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Na passada quinta-feira apresentei no Teatro Circo em Braga o último livro de Mário Soares: ‘Um político assume-se’. Esta obra é mais do que um ensaio autobiográfico, político e ideológico, como se lê na capa. É, sobretudo, um legado de um incalculável valor deixado àqueles que partilharam no tempo os factos aí narrados e àqueles que, não os vivendo, poderão testemunhar o que se aí expõe através de uma escrita ritmada por uma vida densa de alguém que sempre se orientou por valores humanistas e princípios éticos e políticos.

Dividida em 15 capítulos, esta obra abre com um capítulo intitulado “A importância da política” que Soares considera ser uma “missão pública, extremamente honrosa e desinteressada”. Não será esta a ideia generalizada que a opinião pública vem construindo acerca da classe política. Aliás, é o próprio Mário Soares que constata este sentido pejorativo com que muitos portugueses olham para os políticos a quem chamam profissionais, juntando a esse epíteto uma desqualificação que empobrece decerto a vitalidade da nossa democracia.

A partir do capítulo II, perseguimos Soares desde a infância, altura em que diz ter começado a formação política republicana. Ao contexto histórico em que viveu, junta as memórias de uma vida familiar que tanto o influenciou e de um ambiente por onde circulavam pessoas que viriam a fazer parte da nossa História. Mário Soares recorda três professores que diz que o influenciaram política e culturalmente. Um deles de seu nome Álvaro Cunhal que viria a puxá-lo para o comunismo, partido do qual se afasta nos anos 50. Foi esse o tempo de se inscrever na Faculdade de Direito onde encontra Marcelo Caetano que lhe dá um curioso conselho: “você tem condições, se estudar, para poder vir a ser professor desta casa. Mas claro se abandonar essas aventuras políticas em que tem andado metido”. Soares tinha outros propósitos para a sua vida. Havia um outro combate a fazer: o combate político à ditadura.

Os anos 60, que estruturam o capítulo VI, poderiam ser marcados, por exemplo pela prisão em Caxias, mas ali o espaço é para a política “como paixão e destino”. Este é o tempo a Acção Socialista Portuguesa criada em Genebra em 1964. Haveria que esperar por Abril de 1973 para, na Alemanha, ver nascer o Partido Socialista. Por cá, ainda faltava algum tempo para chegar ao 25 de Abril de 1974. Quando rebenta a revolução, Mário Soares está na Alemanha donde procura chegar rapidamente a Paris. Aí, passa o dia 26 de Abril a ligar para Lisboa para saber o que estava, na verdade a acontecer. A Liberdade parecia ter chegado. Finalmente!, exclama Soares neste livro. Era preciso regressar rapidamente ao país. Com o aeroporto fechado, a viagem faz-se de comboio e a chegada a Santa Apolónia confunde-se com a História de que se faz Abril.

O capítulo XII abre-se para o tempo de Mário Soares, Presidente da República. Referindo-se ao plano interno, escreve isto: “ao contrário do que previam - e desejavam - alguns camaradas meus, uma vez eleito, nunca foi minha intenção deitar abaixo o governo”. Mário Soares assegura também que, no primeiro mandato, as relações com o primeiro-ministro Cavaco Silva foram extremamente cordiais. O segundo mandato também terá sido assim (talvez dispensando-se aqui a intensidade do adverbio de modo). Entre os dois, terão existido relações algo cordiais. Estes dois políticos encontrar-se-ão mais tarde para uma outra corrida a Belém…


“Só é vencido quem desiste de lutar”, eis uma máxima que sempre acompanhou Mário Soares. Um homem que atravessou em pleno os grandes conflitos do século XX e vive agora as desmesuradas dificuldades do século XXI. Não é muito eufórico o retrato que faz dos tempos actuais. Mas em Soares encontra-se sempre um renovado optimismo: “Sempre estive voltado para o futuro”.

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