Correio do Minho

Braga, segunda-feira

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Uma bela fuga

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2017-08-31 às 06h00

Escritor Escritor

Lúcia Gonçalves

Inspiro e Expiro e Inspiro
-Vou morrer, anúncio.
-Não vais nada é só respirares, certo,? - pergunta o tio Dourado
- Certíssimo-anuncia a tia Dourada.Vou te buscar o teu remédio.
- Dooouuurrraaadddooo! Trás o remédio do menino!
Mais um ataque de bola… Um ataque de bola corresponde aos vossos ataques de pânico, mas os nossos são piores: soltamos creme ou açúcar ou, no pior dos casos, as duas coisas.
-Estou bem,não se preocupe, tia.
- Não me preocupar??? Isso é o mesmo que dizer ao sol para parar de brilhar !
Hoje é o dia da nossa fuga.
Vamos para um convento onde podemos viver sem ser comidos ,o tio tem-me ajudado a aperfeiçoar a minha técnica.
O tio chega com o pacote de açúcar e pulverizar-me a cabeça..
- Já não parece que foste atropelado por um autocarro e depois deixado ao sol a derreter, anuncia o tio.
-Querido, a culpa não é dele, é daquele pasteleiro malvado que decidiu pôr criancinhas a fazer massas para bolas de Berlim, as bolas que são feitas por crianças estão mais sujeitas a doenças desse tipo, docinho, tu não tens culpa nenhuma. Não é, Dourado?
- Nenhuma-concorda o tio com um firme aceno. -E nós gostamos de ti exatamente assim. -Agora vamos lá rever o plano outra vez. Quando o pasteleiro nos meter nos sacos térmicos para ir nos vender, vocês continuam frescos. Hoje ele levara cinco arcas cheias de bolas de Berlim.
Seremos aqueles bolos que ele irá entregar caso não sejam suficientes as bolas da primeira e segunda arcas, por isso Dourada reza à Santa para que:
- que comece a cair pedraça, chuva ou algum meteorito para que ninguém na sua perfeita sanidade mental ponha seque o dedo mindinho do pé esquerdo perto da areia ou para que simplesmente as duas arcas satisfaçam a necessidade deles,
-Acho mais provável aquela do meteorito -murmuro eu.
Ignoram-me e a tia declara :
-Não te preocupes, Docinho, já fiz umas promessinhas à Santa.
-Depois ativamos o nosso mecanismo de defesa e iremos parar ao lixo, e então eu irei abrir o saco com esta faca- ele mostra-nos a faca -Não se preocupem o Desfeito ensinou-me a usá-la quando a comprei ; depois saímos em direção ao convento, com este mapa- e mostra-nos o mapa sujo com umas pintinhas de creme.
-O que são essas manchas de creme, tio?
-Isso, rapaz, são PONTOS!- exclama orgulhoso.
-E isso significa..?-pergunta a tia.
-Ora…ora…significa que…que… Ora bolas, mulher, significa que são pontos, o Desfeito recomendou-me que os fizesse! -responde atrapalhado.
Ouvem-se passos e somos colocados nas arcas- quando a nossa é aberta ativamos o nosso modo de defesa.
Somos despejados no lixo - o tio começa a abrir o saco e caímos. Fica tão feliz como se tivesse saído de um zoo cheio de arco íris e de unicórnios.
- Quero ir enquanto ainda há umas luzinhas.-diz.
Quando chegamos ao fim do passadiço, vemos 4 bolos.
Uma nata, um bolo de arroz, um croissant e um alto éclair
Parece um filme de gansters!
- Olhem só quem decidiu cruzar as nossas terras.- diz a nata.
-O que queres, rapaz?-pergunta o tio metendo-se à nossa frente.
-Eu nada velhote,mas os meus rapazes querem essa linda faquinha brilhante que ai trazes!
-Eu dou-vos a faquinha brilhante, seus filhos da…-grita a tia
-Ei lá madame! A senhora fala pior do que um lenhador!
- Acham decente andarem a roubar, seus selvagens?
-Madame, fica sabendo que roubar é o raio de uma arte?
Agora,velho,manda para cá o raio da faca e cala a boca dessa mulher que já ninguém a aguenta!
O tio permanece impassível.
-Velho, não vejo o raio da faca na minha mão!
-Saint, Clair, Oz, por favor.-ordena a nata.
Os três bolos avançam e tiram uma faca cada um, vejo o éclair a avançar em direção ao tio e lanço-me para a frente acabando por receber a facada que era destinada a ele e caio no chão.
A tia grita um “ vou-vos matar, seus selvagens”e arranca a faca da mão do tio, saltando com raiva para cima do éclair. Vejo o tio a lutar com o bolo de arroz, a tia a espetar sem parar a faca no éclair,que cai.Agora a tia decide vinga-ser no crossaint, com a ajuda do tio que acabou de dar pontapés suficientes para manter o bolo de arroz inconsciente.
Começa a chover…
Olho à volta e vejo o bolo de arroz num sono profundo, o éclair a contorcer-se de dores e agora o crossaint juntou-se a eles.
Ouço a tia a dizer á nata:
-Então,meu vagabundo, queres ir a seguir?!
A nata faz uma reverência e desata a correr como se o seu corpo estivesse a pegar fogo.
-Bem me parecia! -grita a tia e olha para mim.
Estou com um arranhão e tenho pouco creme.
Ouço pedras a bater na calçada…
Agora só faltam os meteoritos- penso e nesse momento caio num buraco negro.
Acordo e estou a ser carregado pelo tio.
-Onde vamos?-pergunto meio grogue.
-Ora essa rapaz,para o convento.
-Mas está a chover.-contraponho.
-Umas pinguitas-responde.
-Que pingitas,Dourado?Ate relâmpagos estão a cair,Homem-grita a tia.
-Nada de mais,mulher.
-E a luta?-pergunto desconfiado.
- Eles não estão em condições para contar a história.-responde a tia.- Ninguém toca no meu menino!
-Já não me envolvia numa luta tão boa desde que me casei-comenta o tio.
O tio pára.
Chegamos ao convento.
-Nada mal pois não?-
Nada mal,mesmo.
Entramos pela porta dos gatos.
Andamos até a cozinha, a arca frigorifica localiza-se ao lado esquerdo do fogão.
O tio empurra a pedra que está colocada no chão e entra e quando entramos somos recebidos por uma bola de Berlim.
O Prateado é o “gerente”, e indica-nos um espaço , quando o tio me deita no quarto, o Prateado propõe-me uma série de opções de emprego.
Escolho ser organizador de eventos,a tia escolhe ser professora de teatro e o tio guarda noturno.
-Foram umas boas escolhas,tio.-comento
-È verdade, foram boas escolha.-diz o tio.
-Já agora, podes-nos revelar quais foram as promessas que fizeste a Santa caso conseguíssemos estar aqui?
-Claro -assente ela- A primeira foi que eu iria melhorar o meu feitio, a segunda e última foi que iria encontrar uma bela esposa para o meu Berlinzinho.
-Meu Deus tio, e agora?-pergunto.
-Que a Santa nos guarde, rapaz! Que a Santa nos guarde!

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