A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2021-10-11 às 06h00
Um prémio atribuído a um jornalista enche-me sempre de contentamento, porque ajuda a perceber melhor a importância que os conteúdos noticiosos podem ter em di-versos campos sociais. Ora, quando essa distinção é um Nobel da Paz, há todos os motivos para jubilarmos. Desta vez, a explicação do Comité que atribuiu esses prémios deveria ser motivo de uma profunda reflexão.
Não foi um galardão qualquer aquele que obtiveram Maria Ressa e Dmitri Muratov. Na lista dos candidatos, contavam-se 329 personalidades. Ganharam uma jornalista filipina e um jornalista russo devido ao seu combate contra regimes autoritários. Fizeram isso ao longo de muitos anos através de notícias, sempre tendo o poder contra eles, muitas vezes correndo perigo de vida, outras sem apoios mínimos... O Comité do Nobel exaltou esse feito na explicação que deu para a escolha que fez: “o jornalismo baseado em factos, independente e autónomo serve para nos proteger contra o abuso de poder, das mentiras e da propaganda de guerra”. Esse jornalismo, no entender dos responsáveis por estes prémios, é essencial às democracias e a uma ordem mundial melhor.
Curioso esta escolha ter sido feita num tempo em que o jornalismo atravessa uma profunda crise financeira e uma outra, não menos séria, crise de legitimidade. Não são tempos fáceis para quem escolhe esta profissão que hoje se enche de tantos e tão diversos constrangimentos.
Ainda a erguerem-se do buraco em que se afundaram desde 2008, as redações viram-se confrontadas em 2020 com um vírus que lhes roubou subitamente receitas, mas que trouxe para perto de si cidadãos ávidos de notícias que lhes restituíssem algumas âncoras que o SARS-CoV2 lhes usurpara, sem aviso prévio. Neste contexto, os jornalistas não falharam a sua missão de serviço público, nomeadamente em Portugal. Mesmo atravessando uma periclitante saúde económica, muitos projetos editoriais abriram os seus arquivos e criaram via verde para os seus conteúdos a fim de ajudar um país completamente perdido dentro de casa. Também a evolução das redes sociais, por um lado, e a expansão populismo, por outros, têm ceifado a credibilidade do jornalismo através de uma desinformação que, nos últimos anos, tem conquistado adeptos e granjeado um perigoso espaço.
Mesmo assim, eis que o jornalismo continua a resistir. A Academia Sueca soube dar-lhe a dignidade merecida num tempo em que muitos começam a descrer que haja futuro para as notícias. Este Nobel da Paz abriu uma estrada proeminente para um campo que nunca deixará de ser estruturante para sociedades equilibradas, devidamente escrutinadas e respeitadoras das liberdades fundamentais.
É certo que continuamos a ter mau jornalismo. É certo que continuamos a ter fontes de informação que ostensivamente desrespeitam a autonomia das redações. Mas não podemos confundir a parte com o todo, nem tão pouco devemos deixar que os maus exemplos contaminem um campo vital para vivermos bem em sociedade. Muitas vezes, sou confrontada com críticas ao jornalismo que temos. Eu própria também censuro algumas práticas. Mas qual profissão estará imune a maus profissionais e a modos de ação reprováveis? No que ao jornalismo diz respeito, continuamos a ter muitos profissionais que combatem em barricadas de luta desigual. Sempre a favor do bem comum. E isso merece ser sempre distinguido.
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