A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2019-05-20 às 06h00
A pergunta chegava de forma direta: “o que faz realmente um deputado europeu? Alguém nos explica o sentido do nosso voto?”. Ali estava eu, na redação de um meio de comunicação social, confrontada com a questão de um funcionário que não é jornalista, mas que todos os dias convive de perto com a noticiabilidade que se vai produzindo. Interiormente, juntei outra interrogação: para que serve uma campanha eleitoral?
Em cada escrutínio, o ritual repete-se. As candidaturas arrastam-se pelo país real, procurando atrair a atenção dos votantes, mas sem muito tempo para conversarem com eles. Todos sorriem muito, dão abraços e distribuem beijinhos e soltam uns lugares comuns sobre a importância do voto. Não chega. Nas pausas para almoço ou jantar, há discursos. E do que têm falado os candidatos a estas eleições europeias? De política nacional. Porquê? Porque todos sabem que estamos em pré-aquecimento para as legislativas que chegarão depois do verão e porque se consegue ter mais fleuma no verbo quando o fio condutor do que se diz é o ataque aos adversários internos. Está tudo errado.
Hoje, entramos na última semana de campanha. A ofensiva às listas opostas vai apertar. Aos cabeça de lista, juntar-se-ão os pesos pesados de cada partido para mostrar uma força que a campanha não conseguiu ostentar. Grande parte das estratégias não são desenhadas a pensar nos eleitores, mas na cobertura jornalística. O acompanhamento permanente que os media noticiosos, principalmente os canais de TV, fazem do dia-a-dia de cada candidatura tem enormes perversidades: cria pseudoacontecimentos que apenas existem porque ali estão repórteres; dá ideia de um ritmo frenético que as caravanas não têm; afasta os eleitos dos eleitores, porque se cria à volta dos políticos uma parafernália de microfones e câmaras que retira toda a espontaneidade às conversas que se poderiam ter...
Portugal tem de pensar com urgência um outro modelo de campanha. Este apenas beneficia políticos e jornalistas. Não serve os cidadãos. A volta pelo país real não esclarece ninguém. Somente atrai os convertidos. São eles que se aproximam dos candidatos nas ruas e enchem as mesas dos jantares-comício. No entanto, aqueles que mais importam são precisamente os eleitores que se afastam desses lugares...
As eleições para o Parlamento Europeu costumam caracterizar-se por um alto índice de abstenção. Não deveria ser assim, porque a União Europeia tem uma influência colossal nos nossos destinos e este ano há ainda um perigo suplementar à espreita: os populismos. Em Itália, na Polónia e na Hungria há um país rendido a essas novas forças políticas. França, Alemanha e Espanha também prometem novidades a esse nível. Portugal permanece uma exceção.
Esta semana, a revista francesa L’OBS fazia capa com o tema do populismo. No meio do dossier, uma entrevista ao primeiro-ministro António Costa intitulava-se “o antídoto português”. Na conversa, os jornalistas procuravam saber por que Portugal continuava a resistir a uma onda nacionalista que atinge a Europa. O PM procurava as razões na solução de Governo encontrada mais esquerda que funcionou ao longo de uma legislatura, não esquecendo o tipo de Presidência que Marcelo Rebelo de Sousa promoveu a partir de Belém. Nos outros artigos, construídos em forma de reportagem, a revista noticiosa procurou ouvir no terreno polacos, húngaros e italianos. Aqueles que se disponibilizaram a falar com os jornalistas reconheciam que estavam dispostos a sacrificar a democracia em troca de ordem e de segurança. E dispostos a trocar a sua liberdade individual em prol de um regime austero. Sinal disso foi o facto de todos se recusarem a expor a sua identidade. Falaram sob anonimato. Não será essa a Europa que eu quero integrar. Também é por isso que voto no próximo domingo.
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