9 anos de Unidade de Tratamento Mecânico e Biológico (TMB) – Central de Valorização Orgânica
Escreve quem sabe
2023-11-02 às 06h00
Segundo os dados da 6.ª ronda do COSI Portugal (2022), sistema de vigilância nutricional infantil integrado no estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative da Organização Mundial da Saúde/Europa, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge em 2022 31,9% das crianças tinham excesso de peso, das quais 13,5% apresentavam obesidade.
"Entre 2008 e 2019 Portugal apresentou consistentemente uma tendência invertida da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil, mas em 2022 esta tendência parece não se confirmar”, refere o COSI.
O porquê deste retrocesso no que toca à saúde das nossas crianças? Os especialistas referem que a conjuntura mundial económico-financeira vivida por fatores inesperados, como a pandemia da Covid-19, a guerra e a inflação, provavelmente comprometeram os progressos alcançados na melhoria do estado nutricional das crianças. A inatividade física aumentou em larga escala durante os dois anos de pandemia, existe hoje um maior tempo de exposição aos ecrãs, nomeadamente televisões e computadores. Também a forte pressão económica da inflação, que leva à compra de produtos hipercalóricos nas famílias com menores recursos, em detrimento de alimentos mais saudáveis.
O que podemos fazer para inverter este flagelo? Nos últimos anos sabe-se que várias políticas nutricionais foram desenvolvidas pela Direção Geral da Saúde e pela Direção Geral da Educação, nomeadamente a retirada de produtos alimentares com elevados teor de açúcar, sal e gordura à venda nos estabelecimentos de ensino, o combate ao marketing dos produtos com má qualidade nutricional, a pressão na indústria para a reformulação desses mesmos produtos, entre outras.
Estas políticas nutricionais tornaram-se insuficientes e os dados são a prova disso mesmo. Tudo isto porque “a educação começa em casa”, e a educação nutricional deverá seguir esse mesmo padrão. A alimentação na infância tem um papel determinante no crescimento e desenvolvimento das crianças e é neste período que é programada a saúde futura. Durante este período da vida, a família é o modelo que as crianças tendem a imitar. De um modo geral, quando os pais têm hábitos alimentares saudáveis, os filhos também têm. Quanto aos alimentos que são colocados no prato ou na lancheira de cada criança, são fornecidos por quem? Vale a pena pensar nisso.
Neste regresso às rotinas dos mais novos, devemos procurar adotar hábitos alimentares mais saudáveis, e de que forma o poderemos fazer?
1. Incluir legumes e hortícolas na alimentação diária - nem sempre é fácil, e as crianças tendem a “torcer o nariz”, portanto adotar estratégias como incluí-los na sopa, inovar as receitas (incorporar na base de almôndegas, purés, massas), tornar o arroz “primavera” ou as saladas “arco-íris”.
2. Incluir fruta na alimentação diária – enviar nas lancheiras, de preferência “pronta a comer”, inovar na apresentação da fruta para a tornar mais apelativa (e lembre-se, se voltar para casa com a fruta na lancheira, esta deverá ser a sobremesa do jantar, a educação sobre o desperdício também deve ser trabalhada).
3. Elaborar ementas saudáveis, variadas e equilibradas – a falta de tempo na rotina diária poderá ser um entrave, para tal fica a sugestão de preparar uma ementa semanal ao fim de semana com a ajuda de toda a família, deixar as compras feitas e a ementa afixada. Será uma forma de poupar tempo, recursos e agradar a todos.
4. Envolver as crianças na sua educação nutricional – “negociar” escolhas mais saudáveis nos alimentos (por exemplo, uma vez por semana o lanche poderá incluir umas bolachas menos saudáveis, em compensação nos restantes dias será fruta fresca, lacticínios, pão escuro, flocos de aveia, bolachas de arroz ou milho, palitos de cenoura, etc).
5. Envolver as crianças na preparação de alimentos – torne-os “minis chefs”, eles vão adorar a atividade e os pais agradecer a ajuda. Envolva as crianças na preparação do jantar, dos snacks que irão na lancheira (façam panquecas de aveia ou muffins de banana por exemplo).
Promover a literacia alimentar e nutricional nas crianças, através do envolvimento no processo de produção e confeção dos alimentos, é um fator chave para a aquisição de conhecimentos, para a sensibilização sobre a importância de uma alimentação saudável e para a mudança de comportamentos alimentares. Os educadores, professores, auxiliares que acompanham as nossas crianças têm um papel elementar, mas a importância da “educação de casa” talvez seja o passo que falta para a mudança.
18 Fevereiro 2025
16 Fevereiro 2025
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