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Uma jogada inteligente em prol da estabilidade e da liderança europeia

Entre decisões e lições: A Escola como berço da Democracia

Uma jogada inteligente em prol da estabilidade e da liderança europeia

Ideias

2025-04-17 às 06h00

Alzira Costa Alzira Costa

A recente decisão da União Europeia (UE) de suspender temporariamente as tarifas retaliatórias sobre produtos norte-americanos é muito mais do que uma simples manobra comercial. É uma afirmação clara de liderança estratégica, pragmatismo e maturidade diplomática num contexto global cada vez mais instável. Num momento em que os Estados Unidos, sob a administração Trump, mantêm uma postura protecionista e imprevisível, a Europa opta pelo caminho da contenção e do diálogo, reforçando não só a sua posição geopolítica como também os seus interesses económicos internos.
A suspensão, que durará inicialmente 90 dias, responde a uma redução parcial de tarifas por parte de Washington, mas ainda assim deixa em vigor outras medidas altamente penalizadoras para setores-chave da indústria europeia, como o aço, o alumínio e a produção automóvel. Apesar disso, a UE escolheu não escalar o conflito. Ao fazê-lo, envia uma mensagem clara: a Europa não se deixa arrastar por impulsos políticos ou decisões unilaterais, mas age com base numa lógica de estabilidade, cooperação e defesa ponderada dos seus interesses.
Esta decisão é particularmente inteligente quando se analisa o seu impacto económico direto. Ao suspender tarifas sobre cerca de 21 mil milhões de euros em produtos norte-americanos, a UE protege os seus próprios exportadores de retaliações desnecessárias e garante a continuidade do acesso ao mercado norte-americano para uma vasta gama de bens. Estima-se que só os setores do aço e alumínio europeus poupem anualmente mais de 1,5 mil milhões de euros com esta pausa tarifária. Trata-se, portanto, de uma medida concreta de proteção económica e de salvaguarda de milhares de postos de trabalho em território europeu.
Mais ainda, esta escolha promove uma mensagem de estabilidade ao mercado internacional. Num mundo em que as tensões comerciais têm sido um fator de desestabilização financeira e social, a UE posiciona-se como um polo de previsibilidade. Evitar uma guerra comercial com os EUA é, acima de tudo, preservar cadeias de abastecimento globais, garantir a fluidez do comércio transatlântico e evitar que empresas e consumidores sejam penalizados por decisões políticas de curto prazo.
Internamente, esta decisão também representa um triunfo. A resposta unificada dos Estados-membros demonstra uma coesão que nem sempre é visível nas grandes questões europeias. Desta vez, porém, todos os países reconheceram a importância de atuar de forma conjunta, sinalizando ao mundo que a UE está alinhada na defesa dos seus princípios económicos e políticos. Esta unidade reforça a credibilidade da Europa e aumenta o seu peso nas mesas de negociação futuras.
Claro que esta suspensão não é um gesto de fraqueza ou subserviência. Pelo contrário: é uma jogada calculada, que mantém em aberto a possibilidade de reativação das tarifas caso os EUA recuem nos compromissos ou se mostrem inflexíveis nas negociações. A Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, já deixou bem claro que este é um gesto de boa-fé, mas não um cheque em branco. Se Washington não demonstrar disposição para resolver as disputas comerciais de forma equitativa, Bruxelas não hesitará em proteger os seus setores estratégicos.
Ao mesmo tempo, a suspensão das tarifas insere-se numa lógica mais ampla da política externa europeia, baseada em princípios de diplomacia multilateral e respeito pelas regras do comércio internacional. Num tempo em que os EUA, a China e outros atores optam frequentemente por medidas unilaterais, a União Europeia reforça a sua identidade como defensora de um sistema internacional baseado em normas e cooperação. E essa posição é vital, não apenas para a sua imagem, mas para a preservação de um comércio global equilibrado, do qual todos os países, grandes e pequenos, possam beneficiar.
Em suma, a suspensão das tarifas por parte da União Europeia é uma jogada diplomática de alto nível. Defende os interesses económicos europeus, evita a escalada de tensões, reforça a sua unidade interna e mostra ao mundo que a Europa continua a ser um ator global responsável, com visão estratégica e capacidade de liderança.
Numa época de nacionalismos e confrontos, a resposta europeia é um lembrete de que a verdadeira força está, muitas vezes, na contenção e na capacidade de escolher as batalhas certas no momento certo. E neste momento, a Europa escolheu sabiamente.

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