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Uma lição de relações internacionais

Liberdade para transformar Braga

Uma lição de relações internacionais

Escreve quem sabe

2025-06-06 às 06h00

J.A. Oliveira Rocha J.A. Oliveira Rocha

Estive no Uzbequistão nos primeiros dez dias de maio. Sempre sonhei visitar o centro da Rota da Sede. Pelas cidades míticas de Samarcanda, Pucara e Kiva passou a rota comercial que ligava a China ao Ocidente europeu. Estas cidades valem não só pelo seu passado comercial, mas também pelo desenvolvimento científica, especialmente nos séculos IX a XII. Em Samarcanda, se desenvolveu a astronomia e a matemática. Por sua vez, Pucara chegou a ter 150 madrassas, onde se ensinava não apenas o Corão, mas todas as ciências. Numa dessas escolas ensinou Avicena, médico e filósofo que desenvolveu as técnicas de diagnóstico e tratamento de doenças, revolucionando os ensinamentos dos gregos e abrindo o caminho para a medicina moderna.

Esta região sofreu a invasão de persas, mongóis e turcos. É de salientar que a derrocada do império persa está ligada à conquista de Samarcanda por Alexandre Magno que aí desposou Roxana.
Os russos ocuparam o que é hoje o Uzbequistão, em meados do século XIX, começando um processo de russificação que durou mais de um século. Tratou-se de opor uma barreira à expansão do império britânico que, por duas vezes invadiu o Afeganistão, tentando penetrar na Ásia central e ameaçando, desta forma, o império russo.

Mas, apesar das invasões e terramotos, as cidades sempre renasceram, reconstruindo os seus edifícios históricos. Nunca vi arquitetura tão bela, como nestas cidades. Penso que quem nunca foi Samarcanda nunca viu a beleza.
Depois da derrocada da União Soviética, o Uzbequistão tornou-se independente, mas sob a liderança do então Presidente Karimov. Entretanto, os americanos procuraram colonizar as repúblicas ex.- soviéticas da Ásia central, substituindo os russos. E, a invasão do Afeganistão, em 2001, levou os Estados Unidos a construir uma base militar (Karshi- Khanabad), ao sul de Samarcanda, perto da fronteira norte do Afeganistão, tendo sido encerrada em 2005. Simultaneamente, os americanos conseguiram um contrato de concessão que lhes permitia explorar os recursos mineiros que são imensos. Mas não tiveram sucesso, não só porque os uzbeques dobraram o preço, mas também porque os russos não cederam a Carta Geológica que lhes permitia localizar os metais raros.

Mas a colonização americana continuou. Assim, 99% dos carros que circulam são montados pela General Motar (Chevrolet, de cor branca); foi construída uma fábrica de engarrafamento de Coca Cola; e incentivou-se o consumo de hamburgers. Enfim, espalharam-se os valores americanos.
Atualmente, a situação está a mudar com a abertura da Nova Rota da Seda que tem como projeto ligar a China ao Ocidente, substituindo as antigas caravanas de camelos por autoestradas e caminhos de ferro de comboios de alta velocidade. E, o Uzbeqistão é o centro desta transformação.
Em conclusão, nota-se um recuo dos valores americanos, que a Administração Trump vem acentuando. O seu comportamento político faz lembrar a política dos últimos imperadores romanos do império do Ocidente, os quais precederam a derrocada do império. De resto autores como Peter Heather e John Rapley, em Porque Caem os Impérios, comparam a derrocada dos dois impérios.

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