Correio do Minho

Braga, segunda-feira

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Uma pequena viagem com o “meu” melhor defesa direito

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2013-08-27 às 06h00

Escritor Escritor

Carlos Alberto Rodrigues

Naquela noite tinha acabado de assistir a um concerto dos Xutos & Pontapés inserido no aniversário dum hipermercado. Estávamos no Verão de 1991.
Namorava com uma miúda que morava perto desse hipermercado e porque na zona havia um bar de nome “Tuaregue”, poiso diário para beber uns copos, colocar a conversa em dia com os amigos ou algumas vezes, tertúlias pois foi sempre um local cultural onde se ouvia boa música, havia exposições de pintura ou esculturas, clamava-se poesia. Bons tempos! Por vezes era o nosso amanhecer ou o nosso anoitecer.

Paredes meias com esse bar, existia um armazém que comercializava roupa e cujo dono (um deles) era Artur Correia, o mesmo que em tempos foi considerado dos melhores laterais do nosso futebol e que ocupou de forma soberba o corredor direito da defesa do SC Braga. Ora pelos motivos atrás descritos, Artur era um velho conhecido, costumava às tardes roubar uns instantes à́ sua empresa para nos acompanhar numa bebida, saber como iam as coisas, conversar e observar as meninas que passavam...

Nessa noite do concerto, porque já estávamos - eu e mais dois amigos - um bocado “alegres” pela quantidade etílica ingerida e com disposição para passar umas horas pela madrugada bracarense e seus bares, eis que encontramos Artur que me diz que tinha que, numa correria passar pelo pavilhão Flávio Sá Leite para depois partir em direcção ao litoral (Esposende).
Foi então que decidimos trocar os bares de Braga por um passeio até à beira mar,
onde podíamos passar o resto da madrugada e aproveitar o dia seguinte que se avizinhava soalheiro e assim sempre podíamos ser companhia para Artur. Era um tipo cinco estrelas. Ainda hoje recordo com carinho aquelas horas.

Fomos no seu descapotável preto, acre-dito que da década de sessenta/setenta e da marca “Peugeot”. Lindo era, não tenhamos dúvidas. Durante a viagem, e porque os meus amigos já estavam meio embalados para o sono, eu e Artur conversávamos. Sobre a sua longa passagem pelo SC Braga, pelas tardes e noites de glória, dos estádios cheios de gente entusiasta, pela mágoa que teve vinda de pessoas que nunca pensou lhe fizessem tamanha coisa, sobre coisas da vida, da minha e da dele.

Conhecia-me como homem da rádio e sobre o assunto também conversamos muito tempo. Recordo os acordes que saíam da cassete que eu colocara no inicio da jornada no leitor do carro: “I wish you were here”, ou “Shine on You Crazy Diamonds”, dos Pink Floyd ou “Spanish Caravan”, “Love me two times” ou “People are strange” dos The Doors. Ficara de tal forma ma-ravilhado com a selecção musical que tinha de lhe oferecer aquela K7. Sempre podia gravar outra igual.

Recordo ainda e sobretudo o vento que nos varria os cabelos e que muitas vezes quase sufocava quando queríamos falar. Num ápice chegamos ao destino, nas cercanias da discoteca de Ofir.
Tempo para bebermos com calma um café numa esplanada onde o tema de conversa, mais uma vez, foi o Sp. Braga, o “nosso” Sp. Braga.

Depois despedimo-nos indo cada um para seu lado: ele para o seu apartamento nós à procura de algum bar que estivesse aberto para ajudar a passar a noite. Continuei a conviver com ele e sempre fiquei satisfeito quando lia nos jornais que a equipa orientada por ele tinha vencido nesse fim-de-semana e sempre fiquei com mágoa por nunca ter treinado a minha “outra” equipa que me preenche o coração: o Vieira Sport Clube, o mais representativo do concelho que me viu nascer.

Um dos últimos encontros que tive com ele foi para falar sobre dois jogadores que foram seus companheiros de equipa e ainda hoje dos maiores ícones do clube. Afinal eram os Chicos do Sp. Braga: o Faria e o Gordo. Falamos sobre o seu desaparecimento prematuro e trágico, sobretudo o de Chico Gordo que falecera a trabalhar numa fábrica de Paio Pires, onde ficou com um braço retalhado. Reparei num ar de saudade e numa lágrima que teimosamente queria cair pela sua face.

Se a mim me tinha entristecido como braguista e apaixonado que foi pelas jogadas daquelas duas figuras proeminentes do Braga dos anos 70/80, o que podia fazer a um homem que partilhou o mesmo balneário, o mesmo clube durante anos a fio?

Por isto tudo, mas sobretudo pelo perfume do seu futebol, Artur Correia ainda é hoje o meu melhor defesa direito que alguma vez vestiu de vermelho e branco. São opiniões e esta não é nada descabida.

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