Ser Dirigente no CNE - Desafios
Ideias
2011-06-10 às 06h00
Ainda que muitas das vezes se venha falando em política de verdade, pretendendo-se que se fale e se diga o que se passa na nua e crua realidade da vida de um país e seus cidadãos, o certo é que temos por inviável, e mesmo impossível, que a verdade possa alguma vez coexistir com a política. Aliás, e até por aquilo que a experiência nos tem vindo a mostrar ao longo do tempo, qualquer relação entre verdade e política será sempre, em si mesma e inquestionavelmente, uma relação “contra natura”.
Efectivamente «falar verdade» e «dizer a verdade» não se ajustam nem se adequam de modo nenhum à política, seus jogos e interesses, na medida em que há realidades e verdades que forçosamente têm de ser “douradas”, “mascaradas”, escamoteadas e até “caladas” quando se impõe granjear e manter clientelas e agilizar fidelizações. Sobretudo quando se avizinham eleições e disputas do poder.
Para mais, admita-se, é facto incontornável que o povo usualmente tem memória curta e uma visão míope da governação de um país sendo evidente que toda uma falta de cultura cívica, de inteligência racional, de sensibilidade para as realidades e rigor e toda uma carência de honestidade e seriedade em vivências políticas têm vindo a alimentar ao longo dos anos, e naturalmente potenciando, sugestionabilidades, comodismos, crenças fáceis, desinteresses e bacocos seguidismos.
Aliás, diga-se, o que até mais impressiona e choca é toda uma “quadrada” obsessão por afectos, siglas, costumeiras fidelizações, tolas lealdades e serôdias filiações que de todo em todo vem ultrapassando, minorizando e mesmo esquecendo qualquer repetitivo vomitar de ideias e de palavras gastas de uma disquete já muito riscada, acolhendo-se falsidades e aceitando-se mentiras como se de verdades dogmáticas se tratasse.
Esquecendo-se e ignorando-se os factos reais e as duras e incontornáveis realidades da vida, ainda que gravosas e de ocorrência recente, continua-se a viver e a pensar a política tão só como uma paixão gregária de formato e contorno clubísticos, aceitando-se e adoptando-se obcecadamente congénitas, ocasionais ou mesmo fortuitas “inseminações”.
Aliás, acrescente-se, de uma forma assumidamente néscia e bacoca vem-se “cultivando” toda uma fidelização de ”rotinas” e “hábitos” em que filiações, afeições e simpatias, tal como os vícios e as irremediáveis maleitas de uma nascença se alongam no tempo, sinalizando e marcando vidas. E condicionando mesmo todo um povo.
Como um nome, um apelido, uma tara ou um sinete que, enraizando-se e engrosssando no tempo, acaba por degenerar numa quase normal, irrelevante, esquecida e insonsa banalidade, mas que no entanto subsiste e vinga quaisquer que sejam as desgraças, desilusões, falências, mentiras e contradições em que a vida venha a desaguar, sempre desculpáveis e compreendidas por força de uma tola fidelização.
Tal como um qualquer carola e adepto dum clube de futebol que se deseja ver sempre a ganhar e ser campeão, sofrendo-se com as derrotas, vivenciando-se as vitórias, aceitando-se desculpas, compreendendo-se desaires, maus jogos, promessas falhadas e perdoando-se erros e falhas dos dirigentes e jogadores, de igual modo na política vêm vingando uma fidelização e paixão idênticas, com as “clientelas” de todo alheadas das realidades, crédulas em aceitação e conformismo, seguidistas e apaixonadas, sempre agindo e pensando (se é mesmo que pensam!?...) como enamorados bacocos, crédulos e de curta inteligência, para quem as explicações ou as palavras do “amado” valem mais do que todas as realidades sentidas, vividas e sofridas.
Potenciando-se doentias rivalidades, exponenciando-se pretensas diferenças, tais “fiéis” acreditam tão só nas “verdades” em que querem que acreditem, ainda que no fundo saibam e tenham consciência de que não passam de incontornáveis “mentiras”, ainda que de todo úteis para a sustentação do “clube”, “partido” ou suas chefias.
No nosso país, reconheça-se, na verdade vem pontificando na política toda uma já recorrente e doentia cultura de fidelização de contornos clubistas, sendo inquestionável que a dita “política de verdade” não é mais do uma política de conveniência, de oportunismo e de momentos, que se pinta ou mascara como dá jeito, sendo forçoso concluir que a pura verdade e realidade dos próprios factos aí não têm qualquer cabimento. Acredita-se ou finge-se que se acredita e aceita-se apenas porque o diz e ordena a “máquina” do partido porquanto só assim se vencem eleições, se mantém o poder e naturalmente se ganham e se conservam lugares, direitos e “tachos” .
Política de conveniência ou de clientelas, que não é nem nunca será uma política de verdade, reconheça-se, até porque “ a verdade não ganha votos” e “político que não minta nunca será bom político”, sendo de todo inquestionável e incontroverso que política e verdade nunca se ajustam.
Aliás nem é de estranhar-se a desfaçatez com que se dizem certas coisas, se prometem outras e se fazem declarações e discursos, como nem sequer é também de estranhar que tenha vindo a engrossar o número de insensatos, de mentecaptos, de bacocos e de alarves que, num seguidismo bem comandado, de todo orquestrado e cego, não regateiam aplausos vibrantes, ruidosas palmas, gritos de entusiamo e sonorosos amens, “aceitam” malabarismos oratórios e “acolhem” como verdade e realidade o que “sabem” perfeitamente ser “mentira”.
Como por norma ocorre em congressos, assembleias, reuniões partidárias, comícios e afins onde minguam os inteligentes e sensatos e abundam aproveitadores, mestres do espectáculo, encenadores profissionais, comodistas e mentirosos recorrentes, de todo alienados e “cegos” devido aos jogos oratórios e às palavras e promessas habilidosa e oportunisticamente “arremessadas”. Naturalmente tudo bem temperado com o “sal” das rivalidades, a “pimenta” do despeito e o “piripiri” da ofensa pessoal e gratuita face à necessidade de não perder o poder, direitos, lugares e posições adquiridas.
Mas este é o país que temos e a política com que vivemos.
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