Reciclar o Natal!
Escreve quem sabe
2024-02-27 às 06h00
“E agora? Vou cair de paraquedas na nova turma do 7º ano?”. Assim me questionava um dos nossos rapazes que neste início de ano usufruíram de uma aceleração escolar. Ao seu lado, um outro rapaz, do alto da sua sabedoria e experiência por quem tinha passado pelo mesmo (do 5º para o 6º) responde-lhe, contando-lhe como foi o seu 1º dia na nova turma. Passaram-se alguns dias destas acelerações neste ano letivo, e hoje, todos eles e elas estão felizes, continuam com excelentes notas, fizeram mais amigos, e a escola passou novamente a fazer sentido. E sabem porquê? Porque os professores acreditaram neles. Acreditaram no seu aborrecimento quando os dias se passavam em salas de aula onde não aprendiam nada de novo. Acreditaram no seu desalento porque a escola não era o melhor local do mundo para fazer novas aprendizagens. Como uma menina, em setembro deste ano letivo, dizia para a sua mãe: “Mãe, mãe, quando fores à escola pede à direção para me colocar na turma que tiver menos horas de aulas, para eu poder vir para casa e assim aprender muito mais. Tal como aconteceu no tempo do Covid. Esses é que foram tempos bons! O tempo em que eu aprendi mais! Em casa, claro.” Também ela hoje não esconde a felicidade de ter avançado mais um ano e estar noutra turma, com matérias mais de acordo com os seus conhecimentos. E mesmo assim sempre aquém da sua capacidade de aprendizagem. Todos estes meninos e meninas que fazem estas acelerações necessitam de um constante enriquecimento curricular, já que a sua capacidade de aprendizagem e desempenho escolar continuam pela escolaridade fora. E por isso continuamos a precisar de professores que acreditam nos seus alunos, nas suas capacidades, que não se apresentem repletos de “lugares-comuns”, de preconceitos que abusivamente generalizam, apoiados em supostos estudos que nunca existiram sobre o desenvolvimento emocional destas crianças e jovens e a sua “suposta” desadequação aquando da aceleração. Nada mais falso. Tal como a investigação aponta, apesar dos benefícios da adoção da modalidade de aceleração escolar, apoiados na pesquisa, existe uma resistência considerável na sua implementação. Muitas vezes acredita-se que a aceleração prejudica o desenvolvimento social e emocional, quando nenhum estudo demonstra o seu prejuízo a longo prazo. Pelo contrário, os alunos sobredotados que não são acelerados tendem a mostrar rendimentos escolares mais baixos, problemas de comportamento e uma maior dificuldade de integração na escola, apresentando ainda: expectativas académicas mais baixas, reduzida motivação para a aprendizagem, frustração e aborrecimento na escola, hábitos de estudo pobres, desinteresse pelo ensino formal e abandono escolar prematuro, fobia/aversão escolar, problemas emocionais, dificuldades no relacionamento com os colegas que não partilham os mesmos interesses e preocupações. Não muitas vezes os professores e psicólogos escolares (felizmente não muitos) fazem parte do grupo dos “falsos” estudiosos que se acham detentores das verdades e zeladores do desenvolvimento sócio emocional dos seus alunos. Que “conhecem muitos estudos” que apontam que a aceleração escolar é prejudicial, que conheceram este ou aquele aluno que foi um “desastre”, que a adaptação a outros colegas da turma seguinte foi muito difícil. Nada mais falso! Em termos estatísticos, o abuso das generalizações por “caso” ou alguns “casos” que não tivessem resultado tão bem, não faz ciência. Apenas “lugares-comuns”, “senso-comum”, que não podem interferir na adoção desta medida como uma medida eficaz. A pesquisa aponta uma boa adaptação académica, motivação e sucesso escolar, autoconceito positivo, adaptação social e ajustamento comportamental, tanto a médio como a longo prazo, no percurso académico dos alunos acelerados. Também no domínio psicossocial os alunos acelerados parecem estar em vantagem face aos colegas. Os resultados destes alunos em termos de autoconceito e autoestima são equivalentes ou até superiores aos dos alunos não acelerados. As dimensões em que se verificam resultados claramente superiores são a Competência Escolar, a Aceitação Social e a Autoestima Geral. Estudos credíveis realizados em Portugal e pelo mundo fora apontaram para estes mesmos resultados. E por isso, a todos os psicólogos e professores que nos dias de hoje continuam a acreditar nas suas crenças e preconceitos, não baseados na investigação internacional e nacional sobre este tema, apenas temos a contrapor todos aqueles professores, psicólogos, escolas, que acreditaram nestes alunos. Porque fizeram deles crianças e jovens mais felizes. Tal como o rapaz que no início desta folha perguntava… “E agora? Vou cair de paraquedas na nova turma do 7º ano?”. Depois de, literalmente caído de paraquedas na nova turma, dizia com os seus olhos brilhando de entusiasmo: “A minha turma é mesmo MUITO INCLUSIVA… correu tudo muito bem. As minhas notas continuam excelentes”. Para lá das notas deste rapaz, o brilho nos seus olhos era o reflexo da sua felicidade. Tão diferente da opacidade que apresentava umas semanas antes. E para ser uma TURMA INCLUSIVA, quanto trabalho de professores e psicólogos de excelência!!!
10 Dezembro 2024
07 Dezembro 2024
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