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Verbos traiçoeiros

A responsabilidade de todos

Verbos traiçoeiros

Escreve quem sabe

2020-06-28 às 06h00

Cristina Fontes Cristina Fontes

Quando ensino os verbos a alunos estrangeiros, eles costumam dizer que é o mais difícil da língua portuguesa. Na verdade, a conjugação verbal em português tem muitas regras e quase tantas exceções.
O verbo “haver” é, talvez, o mais traiçoeiro. Este verbo é impessoal se o seu significado equivaler a “existir” e só se conjuga na terceira pessoa do singular (ex.: Houve uma reunião; houve duas reuniões). Se puder ser substituído pelo verbo “ter” como verbo auxiliar, deve ser conjugado em concordância com o sujeito (ex.: Ele havia (tinha) dito uma mentira; eles haviam (tinham) dito uma mentira).

Com o Acordo Ortográfico de 1990, houve algumas mudanças na conjugação deste verbo. A estrutura do verbo “haver” + preposição "de" sofreu alterações. As formas monossilábicas do presente do indicativo perderam o hífen (ex.: hei de, hás de; há de; hão de). Numa nota explicativa sobre este acordo (que podem consultar no Portal da Língua Portuguesa em http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php), ficamos a saber que a eliminação do hífen nestas formas verbais se deve ao facto de a preposição “de” funcionar apenas como um “mero elemento de ligação ao infinitivo com que se forma a perífrase verbal”.

Aproveito para lembrar que a forma correta da 2.ª pessoa do singular é “hás de” e não “há des), como, infelizmente, tanto se ouve. Ainda se lembram da polémica com João Miguel Tavares, que em pleno programa televisivo (Governo Sombra) disse “há des”? Depois de choverem críticas por ter proferido tal erro na televisão, desculpou-se num artigo do Correio da Manhã, do qual recordo o facto de ter referido que tem dificuldade em evitá-lo por ter crescido a ouvi-lo e a dizê-lo sem que ninguém o corrigisse. Não é o único, se atentarmos ao que é dito nas rádios e televisões, para não falar do quotidiano social.

Há, ainda, outro aspeto relativo a este verbo: a sua utilização em expressões que indicam tempo decorrido. Devemos dizer “há dois meses”, “há pouco tempo”, “há duas horas”. Nunca use numa mesma frase “há” e “atrás“. É uma redundância, porque está a usar duas palavras que indicam o tempo passado. Pode usar “atrás” se omitir o “há”, por exemplo se disser ou escrever “Estive com o Pedro dois dias atrás”. A alternativa é “Estive com o Pedro há dois dias (sem o “atrás).

Hoje, deixo-vos não com um mais verbo traiçoeiro, mas com uma estrutura sintática em que temos de prestar muita atenção à conjugação do verbo “faltar”.
Na cacha do jornal Autosport (em https://bit.ly/2BORWi3, acedido em 26-06-2020), lemos “AINDA FALTAM FAZER PEQUENOS AJUSTES”. O correto seria escreverem “AINDA FALTA FAZER PEQUENOS AJUSTES”, pois, nesta estrutura sintática, o verbo “faltar” deverá ser flexionado na 3.ª pessoa do singular, visto que o sujeito é oracional – “fazer pequenos ajustes” – constituído por um verbo no infinitivo (fazer) e um complemento direto (pequenos ajustes), o que equivale, no que respeita à concordância, a um nome singular. Seria diferente se o sujeito fosse “pequenos ajustes”. Poderíamos ter uma estrutura como esta: “após pequenos ajustes que ainda faltam, estaremos preparados”.
Bom domingo.

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