Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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Verdes Anos

Entre a vergonha e o medo

Ideias

2016-10-04 às 06h00

João Marques João Marques

Entramos em outubro deste ano com a cabeça nas eleições autárquicas de 2017. O momento político nacional começa lenta, mas inevitavelmente, a virar-se para a realidade local, transformando-a no palco principal dos jogos estratégicos de poder que ditam ou quebram lideranças partidárias e governativas.
Em Braga, estamos prestes a cumprir o primeiro triénio de uma gestão autárquica que quis mudar a página da posteridade. São já quase três anos de um tempo novo, sem Nóvoas ou névoas, mas com uma cristalina demonstração de boa gestão.

Não, é verdade que não está tudo bem, que há matérias que necessitam de revisão, há ajustes a fazer em aspetos concretos da forma e do conteúdo do dia-a-dia do governo do município, mas se não houvesse, mais valia a Ricardo Rio subir ao palco, fazer a vénia e sair de cena, algo que felizmente não acontecerá tão cedo.
As prioridades, essas, parecem ter sido definidas com conta, peso e medida.

Nos últimos anos assistimos à reconversão, com sucesso, da empresa municipal do Parque de Exposições de Braga num “braço armado” de captação de investimento privado no nosso concelho. Longe vai o tempo da gestão sofrida de um espaço, agora substituída pela entusiástica missão que tenta e, até ver, consegue, fazer prova de um conceito simples mas eficaz: abrir as portas e janelas do concelho para que todos os que assim o desejem, possam nela entrar e ficar.

Deixou de ser apenas “bom viver em Braga” e deixou de ser “bom viver em Braga” apenas para alguns. Hoje a dimensão participativa dos cidadãos está em máximos históricos (recorrendo à linguagem financeira) e é um ativo impenhorável de cada bracarense. Assim o comprovam os índices crescentes de participação nas sucessivas edições do Orçamento Participativo, a figura do Provedor do Munícipe e as portas abertas que, Presidente e Vereadores, mantêm para ouvir e responder aos cidadãos, sem esquecer o sucesso que foi o processo de auscultação da população durante a revisão do PDM.

Mas o verdadeiro sucesso de qualquer político não se mede pelos níveis de popularidade, ou, até, pela satisfação circunstancial dos eleitores, o verdadeiro marco que fica na história de um político é a sua marca de futuro, tudo aquilo que ele fez resume-se, na medida do sucesso duradouro, no bom que passou a fazer-se e no mau que cessou de existir, desde que ele entrou em funções. É certo que, muitos políticos, no afã de quererem deixar uma marca na história, são ultrapassados pelo entusiasmo “obreirista”, ou pela pulsão messiânica de “mudar o povo”, ou, ainda pior, de “mudar a realidade”. Ao invés de imprimirem uma marca própria, deixam uma nódoa no tecido histórico em que se deixaram enredar e que, com grande violência, não deixará de os castigar severamente quando dele tentarem libertar-se.

É, por isso, verdadeiramente animador que Ricardo Rio não tenha querido seguir esta última via, a da utopia das elites, a do mundo novo (cheio de pecados velhos) e de construção artificial de sociedades higienizadas.
Temos marcas, sim, mas práticas, palpáveis e construídas com as pessoas e à medida daquilo que Braga tanto precisa.

Temos contas sãs, temos investimento, temos criação de emprego, temos cultura, temos exposição pública, temos seriedade, temos regras para todos e temos certezas de competência.
Deixamos de olhar pelas costas para ver se alguém nos ultrapassava na fila dos balcões dos serviços camarários. Deixamos de pensar em tratamentos de favor e em cunhas, cunhados e afins.
Já não temos coletividades de primeira e de segunda, já não temos negócios que assustam o próprio susto e deixam no ar a suspeição de que há grupos e grupelhos que ditam condicionalismos industriais, urbanísticos, comerciais ou culturais. Já não temos famílias, amigos e conhecidos, temos apenas cidadãos.

É essa dimensão de decência e honestidade que, sem prejuízo da honra pessoal que cabe a quem, no passado, dentro ou fora do sistema, sempre por ela lutou, hoje, mais do que nunca, nos entra pelas vias respiratórias sem causar o desconforto do passado. Já não tossimos com a democracia, já não nos resfriamos com a aragem de um concurso público sem vencedores anunciados e recuperamos, nem que seja a nível nanométrico, a confiança em quem nos governa.

Braga respira melhor e isso, quer-se queira quer não, é uma marca de Ricardo Rio e um testemunho sólido de que os últimos três anos primaram pela diferença, valeram a pena e puseram os bracarenses a pensar. Seguramente refletindo nos anos que perderam, mas sobretudo a perspetivar o muito que ainda podem ganhar com um futuro nas mãos, mas não no bolso, de quem já cumpriu a palavra dada.

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