Um batizado especial
Ideias
2019-11-02 às 06h00
Years & Years é o título de uma série recente (Junho de 2019) da HBO. Criada por Russel T. Davies e contando com a participação de excelentes atores, como, por exemplo, Emma Thompson, propõe-nos uma reflexão sobre o Reino Unido pós-Brexit, sobre a Europa e, no fundo, sobre a democracia e a nossa vida de cidadãos europeus, no turbilhão das mudanças provocadas pela digitalização, pelos novos conflitos e pela emergência de um novo modo de vida “ocidental”. Entenda-se: um novo modo de vida que nos envolve, que nos entra em casa, quer queiramos, quer não; um novo modo de vida que - indiferente aos nossos desconfortos, inaptidões e, sobretudo, diferente e ultrapassada cosmovisão do mundo e da vida - nos invade e nos comanda autoritariamente.
O pretexto para a narrativa que nos é desfiada é a história de uma família britânica ordinária, comum, de classe média. Igual a tantas outras. Uma família retrato-tipo daquilo que, com mais ou menos rigor, acabamos por ser, todos nós, hoje em dia. O europeu urbano, minimamente letrado e ilustrado (segundo os padrões dos tempos mediáticos em que vivemos), com uma consciência e um empenho social e cívico correspondentes àquilo que é o “mainstream” político hoje em dia (basicamente, o padrão do “ politicamente correto”). O europeu “boa pessoa”, bem-intencionado e em notório processo de empobrecimento. Um europeu cada vez mais confuso, sobretudo por dois motivos: por um lado, pela digitalização crescente da vida, dos comportamentos, da forma de pensar, enfim, de tudo e, por outro lado, pelo facto de o padrão de vida, os princípios e os valores defendidos pelos europeus (no caso, no Reino Unido) reforçarem o espaço europeu como sendo uma espécie de oásis, de espaço singular no contexto mundial.
Dito de outro modo, o que defendemos, a prática política e social que queremos e pretendemos construir não só não se articula (não sendo compatível) com os padrões de governação do resto do mundo, como, por outro lado ainda, não prevê (nem sequer tem capacidade) para se defender, para se impermeabilizar relativamente aos padrões gerais de vida e de prática política circundante! Resultado: numa terra de cegos, ainda que tenhamos muito mais do que um olho, ficamos a falar sozinhos e somos ultrapassados pela força (em quantidade) dos cegos. Eles mandam, eles condicionam-nos, pelo simples facto de que somos os únicos! E esse é, em medida significativa, o drama da Europa e dos europeus. Estarmos (ainda) sozinhos também se traduz em empobrecimento, em confusão e em insegurança. Também é uma causa para o eclodir de populismos autoritários. Que a todos e ao ideal da integração europeia, mais tarde ou mais cedo, provoca danos.
Um Amigo confessou-me não ter conseguido ver a série, pelo impacto e angústia que ela lhe provocou; acho que, por vezes, é mesmo um dever cívico termos esse tipo de angústia, para melhor vivenciar e defender o que de bom conseguimos construir ao longo de 68 anos de integração europeia.
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário