Correio do Minho

Braga, terça-feira

- +
Agricultura tem um desafio geracional
Revisão do PDM e parque industrial em Regadas são a aposta do município

Agricultura tem um desafio geracional

‘Março com Sabores do Mar’ com exposição em Esposende

Agricultura tem um desafio geracional

Entrevistas

2022-10-31 às 06h00

José Paulo Silva José Paulo Silva

Idalino Leão, presidente da União das Cooperativas de Produtores de Leite do Entre-Douro e Minho, aponta uma sucessão de crises que afecta o sector agrícola em Portugal. A renovação geracional é um deles.

Citação

“O sector leiteiro tem grandes desafios pela frente, desde logo, porque, nos últimos três anos, estamos a viver uma sucessão de crises que têm deixado marcas profundas”, constata o presidente da AGROS - União das Cooperativas de Produtores de Leite do Entre-Douro e Minho, Idalino Leão, convidado da última emissão do programa ‘Da Europa para o Minho’, da Rádio Antena Minho.
O também presidente da Confagri - Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal lembra que, durante a pandemia de Covid-19, o Governo disse aos portugueses para ficarem em casa, “porque houve um sector agroalimentar que continuou a trabalhar”, adiantando que isso constituiu “uma prova de força de todo o sector agrícola nacional”.
Idalino Leão recordou a afirmação do Primeiro Ministro, António Costa, de que o país teria “uma dívida de gratidão para com os agricultores”, palavras que, “fazem bem ao nosso ego”, mas precisam de ser traduzidas “em medidas concretas”.

De entre os desafios com que se debatem os produtores representados nas 44 cooperativas que compõem a AGROS, Idalino Leão apontou a resposta às “secas com efeitos que ainda perduram e vão perdurar durante mais algum tempo”, bem como “o aumento incontornável dos factores de produção, que a guerra na Ucrânia só veio acentuar”.
O presidente da AGROS?sublinhou a “dependência dos factores de produção” dos agricultores portugueses, que “foram resistindo enquanto puderam”, com o apoio das cooperativas, que “foram ajudando enquanto puderem”, não impedindo, no entanto, que muitos tenham abandonado a actividade.

“Isso preocupa-me, porque é capacidade produtiva que o país perde. Não há memória de uma exploração que encerre e volte a abrir”, afirmou.
Idalino Leão considera que o sector da agricultura em Portugal tem pela frente um desafio geracional. “Daqui a dez anos quantos agricultores vamos ter a trabalhar em Portugal?”, questiona, entendendo que “ a questão geracional é das mais importantes que o sector enfrenta”.
O dirigente cooperativo defende a criação de uma espécie de tutores dos jovens que se queiram instalar como empresários agrícolas, um instrumento para contrariar “os projectos da moda que, passados cinco anos, têm rentabilidades muito baixas”.

O tempo da alimentação barata terminou

Eleito, em Março deste ano, para a presidência da AGROS e, em Maio, para a liderança da Confagri, Idalino Leão avisa que “o tempo da alimentação barata acabou”, alegando que “os agricultores, para além de gestores da paisagem, são empresários”. O representante do sector agrícola cooperativo perspectiva que “iremos caminhar para sermos remunerados pelos créditos de carbono que fixamos ao solo”, um contributo para a substentabilidade “que a sociedade vai ter de reconhecer”.
No programa ‘Da Europa para o Minho’, Idalino Leão sustentou que “é preciso dar um papel fundamental à agricultura, não só para a produção de alimentos mas também para a fixação de pessoas no território”. Referindo que “80 por cento do nosso território nacional é agro-florestal”, o presidente da AGROS defende que deve-se “potenciar estas actividades como estratégicas, até porque, “se conseguirmos produzir mais no território nacional, reduzimos a pegada ecológica por via do transporte”.

No que diz respeito à actividade pecuária, Idalino Leão sublinha que “tem uma vantagem que as outras não têm: a fixação de pessoas ao território”, pelo que conclui que “consumir carne nacional é consumir mais do que um produto, é preservar um território”.
Acontece que “Portugal importa 50 por cento da carne bovina que consome”, apesar de ter “condições naturais e produtores com elevado grau de profissionalismo, que se forem apoiados, por exemplo, com um subsídio ao abate, vão responder positivamente”.

No programa moderado pelo jornalista Paulo Monteiro e com a participação habitual do eurodeputado José Manuel Fernandes, o presidente da AGROS?sustentou que “Portugal tem três produtos que produz acima das suas necessidades: azeite, vinho e leite a granel”, sendo deficitários em todos os outros. “Entre esses, há alguns que, se forem apoiados, os agricultores portugueses vão responder de forma positiva. Desde logo, a carne bovina”, garantiu, acrescentando que Portugal tem igualmente “boas condições naturais para fazer hortícolas, para fazer fruta”.
Entendendo a agricultura como um “sector transversal”, Idalino Leão exemplifica que o mesmo é “fundamental para o turismo no Minho”, por exemplo, porque sem “os agricultores que são os verdadeiros jardineiros do território, o verde do Minho deixa de existir”.

Nesse sentido, defende uma atenção especial para este sector’ que contribui, ao mesmo tempo, para a soberania alimentar e para a coesão territorial, o que deverá passar por um “pacote integrado para os agricultores”.
Propõe Idalino Leão “trazer vários ministérios” à discussão desses apoios, já que “o sector da agricultura deve ser um desígnio nacional’, essencial para o desenvolvimento regional.
“Temos de nos habituar a falar de território. A actividade agrícola não é uma ilha, está inserida num território”, defende o líder da AGROS?e da Confagri.
Perspectivando a execução da nova Política Agrícola Comum da União Europeia, Idalino?Leão avisa que a mesma “foi pensada e aprovada num contexto que a guerra mudou radicalmente”.
Por isso, “a União Europeia vai ser obrigada a corrigir, até porque estamos com um espartilho cheio de incongruências e hipocrisias”, quando “coloca aos agricultores regras ambientais quase ideológicas e negoceia acordos comerciais com outros blocos do mundo que não cumprem essas regras”.

Deixa o teu comentário

Banner publicidade

Usamos cookies para melhorar a experiência de navegação no nosso website. Ao continuar está a aceitar a política de cookies.

Registe-se ou faça login Seta perfil

Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.




A 1ª página é sua personalize-a Seta menu

Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.

Continuará a ver as manchetes com maior destaque.

Bem-vindo ao Correio do Minho
Permita anúncios no nosso website

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios.
Utilizamos a publicidade para ajudar a financiar o nosso website.

Permitir anúncios na Antena Minho