Ana Paula Macedo define três pilares para próximo mandato
2024-09-16 às 06h00
Soprano começou em Braga a estudar no Conservatório Calouste Gulbenkian; este ano estreou-se na Ópera Garnier de Paris como protagonista de Créuse, da obra ‘Medée’. Tem convites para Nova Iorque e Londres.
Ana Vieira Leite estreou-se, em Abril, na célebre Ópera Garnier de Paris. Interpretou Créuse, sob direcção de William Christie, na produção de David McVicar de ‘Médée’, de Charpentier,
Formada no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, a cantora soprano tem previstas para 2025 estreias em salas como o Carniegie Hall em Nova Iorque e o Wigmore Hall em Londres,
Em declarações ao Correio do Minho, revela que gostaria de voltar a Braga, cantar no Theatro Circo, e assume gratidão para com a escola onde começou, professores e cantoras de Braga que a estimularam.
Quando frequentava, em Braga, o Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, já sonhava esta projecção?
Comecei a estudar no Conservatório com 6 anos a tocar violino. Embora eu sempre gostasse de cantar, nunca pensei que um dia pudesse vir a ser a minha profissão. Só bem mais tarde é que me apercebi que poderia ter algumas oportunidades de trabalho, mas teria que me dedicar a sério e abdicar de muito. A partir do momento em que decidi que este ia ser o meu caminho (por volta dos meus 17/18 anos) comecei a sonhar um pouco mais alto, mas confesso que tudo ainda me surpreende.
Na mesma escola formaram-se outros nomes relevantes do canto lírico português, como Dora Rodrigues, Eduarda Melo, Elisabete Matos, Eva e Sara Braga Simões. Quando era mais jovem ouviu-as?
Infelizmente não tive oportunidade de me cruzar com elas no Conservatório, porque somos de gerações diferentes, mas sempre foram uma grande referência para todos os músicos que por lá passaram.
Cresci a saber que era possível ser cantora em Portugal, porque elas também começaram no mesmo sítio que eu. Assisti a todos os seus concertos (em Braga e não só) e ainda tive a oportunidade de fazer masterclasses e ter aulas privadas com elas, por isso posso dizer que sempre fui uma grande admiradora e sempre serei. São uma grande inspiração! Todas!
Na sua opinião, esta ocorrência significativa de cantoras líricas com raízes em Braga é pura coincidência? Deve-se à qualidade da escola? Tem outra explicação?
Gosto muito dessa questão porque realmente é extraordinário o número de cantoras bracarenses com carreira.
Na minha opinião, o Conservatório tem uma grande influência pois o ensino é muito completo, para não falar dos professores de alta qualidade que sobretudo são excelentes músicos (o que é muito importante).
O facto de começarmos a estudar música muito cedo e de ser uma grande prioridade no nosso ensino, para mim, fez muita diferença. Ter estudado um instrumento durante muito tempo antes de começar a cantar também pode ser um grande factor, pois desenvolvemos outras competências que são muito importantes. Relativamente ao canto, penso que tivemos muita sorte com os professores que tivemos pois para além da técnica souberam incentivar e apoiar da forma certa (embora, como disse, não somos da mesma geração).
“Todos os anos tento fazer um concerto em Braga”
Prefere interpretar ‘simplesmente’ o canto ou a representação de papéis, em que além da voz também o corpo é instrumento de expressão?
Compreendo a pergunta, mesmo achando que o canto ‘simples’ continua a ser um grande instrumento de expressão. Gosto muito de actuar em concerto, mas sem dúvida que a ópera é a forma musical que mais me cativa neste momento. Comecei muito cedo com aulas de teatro e expressão e sempre gostei da sensação de poder vestir ‘outras peles’. Confesso que tento sempre fazer o mesmo trabalho de interpretação quando canto em concerto para que tudo o que canto tenha um sentido verdadeiro e para que o público sinta cada palavra como minha. Neste momento penso que a ópera tem um poder importante.
Créuse foi o papel mais difícil que já interpretou?
Não considero o mais difícil em termos técnicos, mas Créuse, em Médée, foi o mais exigente em termos de disciplina e exposição. Aprendi muito durante a produção, quer a nível artístico, quer pessoal. Foi o meu primeiro grande papel numa grande ópera como a Opéra Garnier e senti uma grande responsabilidade. Foi uma experiência muito positiva e muito gratificante.
Que outros papéis gostaria de incarnar?
Não tenho muitos papeis ‘de sonho’, prefiro deixar-me guiar pelas oportunidades que este mundo me vai dando. Mas quero muito continuar o que estou a fazer com papéis barrocos (como em óperas de Rameau e Handel, por exemplo) porque me dá muito prazer. Gostaria muito de cantar mais Mozart e, quem sabe, algo mais romântico ou até música actual. Sou muito aberta a novas ideias e música - desde que me dê prazer e que me sinta confortável a cantar!
Depois de Paris, em que grandes palcos gostaria de cantar? Milão? Sydney? Nova Iorque?
Paris tem sido uma grande cidade para o meu desenvolvimento artístico, mas também tenho algumas datas previstas para outros países nas próximas temporadas.
Estou muito feliz por ter duas estreias no próximo ano, em grandes salas internacionais, como o Carniegie Hall em Nova York e o Wigmore Hall em Londres, entre outras. Sem dúvida que Milão está na minha lista de desejos, mas também gostava de explorar os palcos da Ásia e da América do Sul. Vou continuar a lutar e tentar chegar o mais longe possível.
Gostaria de cantar em Braga, no Theatro Circo?
Adorava! Todos os anos tento fazer um concerto em Braga para relembrar os velhos tempos. Adoro cantar em casa, mas confesso que fico mais nervosa que em qualquer parte do mundo porque sinto uma responsabilidade acrescida em agradar à minha família e amigos.
Passo meses a preparar os programas para que seja algo novo e interessante para todos. Infelizmente nunca consegui chegar ao Theatro Circo (onde cantei a solo pela primeira vez aos 13 anos), mas espero que aconteça em breve.
Em que línguas é capaz de cantar?
Sou fluente em inglês e francês mas consigo cantar em qualquer língua desde que tenha o trabalho necessário. Ultimamente canto muito em italiano, espanhol e alemão. Normalmente em cada produção de ópera existe um coach linguístico que nos corrige e nos ensina a pronunciar correctamente para que quando cheguemos ao palco tudo esteja perfeito. São precisas muitas horas de preparação para aprender uma língua nova, mas tudo é possível!
Normalmente, quantas horas trabalha por dia? Pode descrever como é um dia na sua vida depois do pequeno-almoço? Horas de ensaio, estudos, leituras, etc?
O dia-a-dia de um cantor freelancer é sempre diferente. Quando não estou em produção/ensaios tento aproveitar os meus dias para estudar o repertório que tenho de apresentar a seguir. Depende sempre da dificuldade da obra, mas estudo sempre entre 2 a 8 horas por dia, sendo que nem sempre estou a cantar. Por vezes canto 2 horas e o resto estou sentada ao piano a fazer traduções, a aprender as notas e a trautear com muito cuidado para não me cansar. Gosto de ler artigos sobre a ópera/obra para a personagem ser mais clara para mim e gosto de ver e ouvir outras versões. Depois tento sempre aproveitar o tempo livre para estar com a família e os amigos, que tanto me fazem falta quando estou meses fora de casa. Quando estou em produção, os ensaios duram no máximo 6 horas por dia, mas antes de começar já fiz o meu aquecimento de 40 minutos, se conseguir faço alongamentos ou um pouco de ioga, e no fim do dia vou estudar tudo o que fiz durante o dia e depois tentar abstrair-me e fazer outras coisas diferentes para tentar ter uma vida “normal”.
O canto de alto nível exige-lhe cuidado com a voz. Implica sacrifícios pessoais em aspectos da vida como disciplina nas horas de sono, na alimentação, ou na vida social?
Qualquer profissional que use a sua voz deveria ter um cuidado extra para que permaneça sempre saudável. Claro que tendo que fazer imensos espectáculos seguidos e cantar durante muitas horas faz com que o cuidado seja redobrado.Tenho imensos cuidados que fui aprendendo ao longo dos anos, como respeitar as 8 ou 9 horas de sono diárias (que nem sempre é possível), beber no mínimo 2 litros de água por dia, não me expor a grandes mudanças de temperaturas, não estar em sítios com fumo, não falar alto, ter uma alimentação equilibrada (não comer comidas que provoquem refluxo gástrico), entre outros. Confesso que vivo uma vida bastante regrada, principalmente quando estou em produções, porque não quero que nada falhe.
Acima de tudo é muito importante conhecermo-nos porque cada corpo é um corpo e algumas pessoas são mais frágeis que outras. Todos esses cuidados aliados a uma boa técnica vocal só podem dar frutos.
Nos seus tempos de lazer, ouve música ligeira? Pop? Rock? Jazz? Música popular?
Gosto de ouvir um pouco de tudo, mas diria que ouço mais jazz, bossa nova, fugindo um pouco para RnB e Pop. Depende dos dias e dos moods. Às vezes o próprio silêncio é que me acompanha mais ao fim de um dia cheio de música.
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