A Comissão Promotora de Homenagem aos Democratas do Distrito de Braga vai homenagear os comerciantes que estiveram na oposição ao Estado Novo e que com a sua acção deram um contributo essencial à organização da sociedade civil na oposição ao fascismo. A homenagem será feita através da construção de um Memorial aos Democratas de Braga, o qual será erigido numa zona central da cidade de Braga, e inaugurado no dia 25 de Abril de 2024.
O anúncio foi feito, ao final da tarde de ontem, na sede da Associação Empresarial de Braga (AEB). O momento contou com a presença de familiares de comerciantes já falecidos que vivenciaram episódios protagonizados pelos seus pais e que fizeram a história da resistência. Júlia Vale, filha de Álvaro Mourão do Vale, e José Ribeiro, filho de Joaquim Estanislau Fernandes de Sousa Ribeiro, partilharam alguns dos momentos que presenciaram na infância em suas casas, as quais acolheram reuniões de opositores ao regime e que acabaram por ser vigiadas pela PIDE numa tentativa de intimidação.
O Memorial de Homenagem aos Democratas de Braga será concebido pelo gabinete de arquitectos de André e António Jorge Fontes, e erigido numa zona central da cidade de Braga. No decorrer da conferência de imprensa, foi também deixado um apelo ao contributo por parte da sociedade civil para a construção da Instalação. Paulo Sousa, membro da comissão, afirmou que “este Memorial é uma homenagem da sociedade civil. É nossa intenção que cada uma e cada um o sintam como uma parte de si, contribuindo com pouco ou muito. Assim, também se constrói a Cidadania Política. Deixo-vos o número de conta onde podem depositar o vosso donativo, não importa o quanto. O vosso gesto é, sobretudo, um reconhecimento público à memória dos que se sacrificaram, consagrando parte da sua vida à oposição à ditadura”.
Assim, o número de conta para onde podem ser feitos os donativos é seguinte: PT50 0018 0272 0020 0006 1254 4.
De acordo com Paulo Sousa, já foram identificados cerca de meia centena de comerciantes em todo o distrito de Braga “que não só se assumiram como democratas, como abriram a porta das suas casas aos opositores ao regime”.
O arquitecto André Fontes referiu que “a participação cívica e social tem sido uma constante desde a génese da nossa empresa. Empenhamo-nos neste tipo de iniciativas que estão ligadas à defesa da democracia e da participação cívica, pois acreditamos que a verdadeira democracia só existe com participação, com discussão, com a defesa e combinação de diferentes ideias. Estamos muito lisonjeados por podermos marcar a importância da democracia com o nosso contributo”, afirmou.
O projecto do Memorial ou Instalação, como lhe prefere chamar, está ainda na fase das ideias, mas André Fontes adiantou que a será concebido com materiais sustentáveis, e que o seu valor estará concentrado no “significado, no facto de traduzir o compromisso das pessoas para com a democracia”.
Em representação da AEB, o director-geral Rui Marques agradeceu pela homenagem, a qual é motivo de “orgulho” para a AEB. “A matriz que sempre gizou esta associação, que tem 160 anos, encara a liberdade e a democracia como valores basilares”. “Não nos espanta o comportamento cívico que ocorreu por parte de um conjunto muito alargado de comerciantes. Os comerciantes não eram uma classe privilegiada ou protegida, mas lidavam e lidam diariamente com muita gente e ajudam a construir opinião. Por isso, acredito que tiveram a sua quota-parte de responsabilidade na mudança de regime que aconteceu em Portugal”, defendeu Rui Marques.
Neste processo, o papel da AEB será o de apelar aos seus associados e à responsabilidade social da comunidade empresarial para que disponibilizem algum donativo, ajudando assim à criação desta Instalação. Ao mesmo tempo, a AEB fará também “a ponte com outras associações empresariais do distrito, para que todos contribuam para esta justa homenagem aos comerciantes e à liberdade”, disse.