Matheus vezes 400
2010-04-08 às 09h24
Insegurança profissional, desvantagens salariais, estagnação na carreira, instabilidade emocional e frustação: estas são as queixas dos professores que passam anos a fio numa situação de contratados. Sem conseguirem assegurar um lugar nas escolas, mudam de estabelecimento de ensino ano após ano.
Insegurança profissional, desvantagens salariais, estagnação na carreira, instabilidade emocional e frustação: estas são as queixas dos professores que passam anos a fio numa situação de contratados. Sem conseguirem assegurar um lugar nas escolas, mudam de estabelecimento de ensino ano após ano.
Os casos de professores que, com vários anos de carreira, no final de um ano letivo nunca sabem em que estabelecimento de ensino, em que cidade ou em que distrito estarão no início do novo período escolar será hoje debatido no Parlamento por iniciativa do BE, do PCP e de um grupo de cidadãos que promoveu uma petição sobre esta matéria.
Isabel Braga tem 53 anos é professora há 29. Até hoje, e apesar das inúmeras tentativas, nunca conseguiu ficar efetiva numa das mais de '20 escolas' pelas quais já passou.
Ficou muitas vezes com 'horários incompletos', pelo que Isabel, que garante sempre ter concorrido sempre a nível nacional, diz ter 'cerca de 20 anos de serviço' em três décadas a dar aulas.
A professora do Porto garante à Lusa que se já estivesse efetiva, com os anos de carreira que tem, estaria a ganhar 'quase o dobro' do salário.
'Chegamos à época dos concursos e ficamos logo stressados, angustiados, deprimidos porque é uma incerteza e uma incógnita o nosso futuro para o ano seguinte. Depois de todo o investimento pessoal, profissional e familiar, chegamos ao fim do ano e fica um vazio porque somos postos fora', desabafa.
Isabel recorda um ano letivo em que 'para completar horário fazia 200 quilómetros por dia e estava em três escolas diferentes'.
'As consequências reflectem-se numa frustração pessoal e profissional. Eu sinto que ainda sou daqueles docentes que querem preservar um certo grau de exigência, que cada vez mais está a diminuir no nosso país, porque tenho consciência que nós estamos a criar analfabetos e que daqui a uns tempos o nosso país terá iletrados doutorados', condena.
José Regalo, 46 anos, professor há 12, garante à Lusa que quando começou a dar aulas esperava, nesta altura, 'estar numa situação muito mais estável', condenando o facto de “não passar um ano em não haja reformas quer no modelo quer no método do concurso ou na forma de colocação'.
'Uma das principais consequências é a instabilidade em termos emocionais. Rouba-nos muita energia que seria canalizada para a nossa profissão. Não é fácil, no dia a dia, conseguirmos perspetivar ou planear aquilo que iremos fazer ao longo do ano letivo', lamenta o professor de Educação Física.
“Eternizar a carreira de um docente como contratado é caricato', diz José Regalo. Em 12 anos já lecionou em oito escolas diferentes, mas considera-se até um 'privilegiado' quando comparado com alguns dos seus colegas que estão nesta situação precária há décadas.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
17 Março 2024
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