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“Ensino politécnico é mais permeável ao que o tecido empresarial e o país precisa”
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“Ensino politécnico é mais permeável  ao que o tecido empresarial e o país precisa”

Entrevistas

2023-07-03 às 06h00

Joana Russo Belo Joana Russo Belo

João Pedro Pereira, presidente da Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico, foi o convidado do Programa ‘Da Europa para o Minho’, da Rádio Antena Minho. Dignificar e valorizar ensino politécnico é a missão.

Citação

O ensino politécnico é, neste momento, “mais atractivo”, sobretudo, por ser “permeável à medida do que o tecido empresarial e o país precisa”. A opinião foi deixada por João Pedro Pereira, presidente da Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAEESP), no Programa ‘Da Europa para o Minho’, da Rádio Antena Minho, conduzido por Paulo Monteiro e o eurodeputado José Manuel Fernandes, numa edição onde se enquadrou o ano europeu das competências nas grandes questões do ensino politécnico, no futuro dos jovens licenciados e em como reter os talentos em Portugal.
Jovem barcelense - que estuda no IPCA - Instituto Politécnico do Cávado e do Ave na área do Direito - lembra que a eleição, em 2021, “trouxe outra responsabilidade e, acima de tudo, um voto de confiança ao IPCA”, reforçando a importância da instituição.

“A FNAEESP tem 33 anos e o IPCA 27, num crescimento contínuo e sustentável, uma coisa que muitas das instituições não o fazem: um desenvolvimento sustentável, progressivo e aos poucos conquistando o seu espaço. A missão do Cávado e Ave está a ser levada a cabo e isso é importante, os habitantes de Barcelos por vezes esquecem-se que o IPCA teve a capacidade de ser Cávado e de ser Ave, isso é importante para lançar pela zona do Minho, conseguimos levar o ensino superior nas mais diversas vertentes, alargando agora a Esposende e Vila Verde. A dinâmica de levar os cursos mais profissionais e profissionalizantes para essas áreas é uma proximidade muito mais directa ao tecido empresarial e isso trouxe frutos à instituição e notoriedade até dentro do próprio concelho”, sublinhou o presidente, considerando que a eleição permitiu “um reconhecimento para a região, para Barcelos, para a cidade e para a nossa instituição”.

“Estamos a liderar, através das associações, mais de 150 mil estudantes do ensino superior politécnico, do país todo e alguém de Barcelos liderar Lisboa e Porto é algo de inédito e tive que ter essa sensibilidade também e consegui o apoio deles. Mostra que a descentralização também é importante, é uma das grandes bandeiras que a FNAEESP tem, não somos regionais como algumas estruturas são e ter a capacidade de olhar para o país de forma diferente, que precisa de medidas semelhantes é complicado, e esta gestão tem sido feita da melhor forma que conseguimos”, referiu.

Em jeito de balanço, João Pedro Pereira lembra que “o mais difícil está feito”, em alusão ao reconhecimento “por parte da sociedade e da tutela em relação aos doutoramentos e investigação nos politécnicos”.
“É o primeiro marco, algo pelo qual os meus colegas há 15 anos lutavam. Há 20 anos, lutavam pelas licenciaturas e mestrados e, desde há 15 anos, pelos doutoramentos. Essencialmente, o que temos feito é colocar o ensino superior politécnico na boca das pessoas e perceberem a diferença de estudar num IPCA ou na Universidade do Minho, qual a grande diferença e as valências que cada um traz. Isso tem sido a nossa maior dificuldade e daí o mote da nossa campanha ter sido dignificação e valorização, porque há muitas pessoas que não sabem o que é um politécnico, qual o seu objectivo e o de uma universidade”.

Concordando com a ideia partilhada por José Manuel Fernandes, de que o ensino politécnico “está, neste momento, a ser mais atractivo”, João Pedro Pereira é peremptório: “acho que sim e por uma razão: somos permeáveis à medida do que o tecido empresarial e o país precisa. Temos a capacidade de nos desenvolver muito mais rápido, é a nossa missão, a nossa capacidade de olhar e trazer as empresas e, se não fossem os politécnicos, as pequenas e médias empresas não conseguiriam inserir-se no ensino superior”.

Olhando às taxas de empregabilidade, o presidente da FNAEESP recorda que os Cursos Técnicos Superiores Profissionais “são cursos de dois anos com seis meses de estágio certificado, que fazem uma ligação muito próxima àquilo que é a empresa”. “Automaticamente torna mais permeável o ensino, porque não se fecha licenciaturas ou mestrados tão facilmente como se fecha estas formações, a visão que as empresas trouxeram foi importante para enquadrá-las na região. Isso foi a grande vantagem que tivemos relativamente ao ensino universitário”, frisou.
Reter o talento continua a ser uma das missões e o presidente acredita que a saída do sistema português “está de certa forma a decrescer”. “As instituições investiram no empreendedorismo e isso trouxe mais capacidades e visões diferentes. Há esse incentivo e motivação para fixar os jovens e a questão da investigação será ainda mais importante”.

“Questão da mobilidade é um problema grave em todas as regiões”

No passado mês de Abril, a Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAEESP) foi recebida pelo Primeiro-Ministro António Costa pela ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, numa reunião onde foram apresentadas várias reivindicações do subsistema politécnico.

“A questão da mobilidade em Portugal é um problema grave em todas as regiões. Aqui no Minho tivemos a noção que os passes mensais para estudantes passaram de dois e três euros para seis ou sete euros, estamos a duplicar as despesas. O alojamento já não é solução, porque sabemos o problema que é. Há poucas soluções entre capitais de distrito e pouca política de mobilidade, os jovens têm dificuldade em movimentar-se no país”, alertou João Pedro Pereira, lembrando que, só no IPCA, “50% dos estudantes são do distrito de Braga”.

“É preciso de alguma forma a Comunidade Intermunicipal ter uma visão mais alargada sobre estas políticas de mobilidade. Não há soluções para estudantes, temos estudantes da zona do Porto, por exemplo, que demoram três ou quatro horas a chegar a Barcelos. É impensável um estudante ter que mudar três ou quatro vezes de transporte para chegar”, criticou, partilhando a ideia do eurodeputado José Manuel Fernandes de que o “PRR poderia ter olhado para a mobilidade e foi uma oportunidade perdida a este nível”.
“Hoje em dia continua a olhar-se para o ensino superior como a resolução de todos os problemas, das empresas, dos salários, habitação, oferta formativa e a estratégia tem que ser por parte dos municípios de fixar os colegas que vêm de fora e fixar os que são de lá e não têm uma oportunidade na sua cidade. Os próprios municípios deixaram-se estar ao lado”, lamentou.

Por outro lado, João Pedro Pereira considera que a grande dificuldade do subsistema politécnico “é a valorização por parte da sociedade, porque ainda se nota muito um estigma”.
“Somos nós que queremos acolher os estudantes do ensino profissional, considerado de segunda linha e para quem não quer estudar, e continua a ser a segunda via de ensino superior, porque estamos a acolher os que ninguém quer acolher. Mas depois as políticas de coesão territorial pedem que haja mais formação para todos”, referiu.

E será que com a entrada dos doutoramentos nos politécnicos, o cenário vai mudar? “Não sei se é a palavra politécnico, ou instituto ou universidade ou se é a mentalidade das pessoas. Acredito que daqui a 30 anos estaremos a ter uma conversa diferente. A investigação vai trazer uma coisa importante: ligar muito mais as empresas às instituições e uma investigação muito mais profissionalizante. Os doutoramentos permitirão fixar um jovem, num percurso que permite chegar com outras valências ao mercado de trabalho. A mentalidade das pessoas vai ditar uma mudança, porque a nível de ensino já está de igual a igual”, defendeu o jovem barcelense.
No ano europeu das competências, João Pedro Pereira considera que o enquadramento passa por “desafiar os politécnicos portugueses a dizer o que realmente serão as competências de futuro e como podemos olhar para os nossos parceiros europeus e definir muito do que é a estratégia europeia”.

“É importante com estas redes em conjunto com os vários países definir quais as grandes áreas de investimento do ensino superior, diz-se que não há docentes e professores, médicos e profissionais de saúde, é preciso pensarmos o que queremos para daqui a 10 anos e como usar as valências a favor do desenvolvimento. Neste ano europeu é identificar os problemas do passado e do presidente e perspectivar o futuro”, sublinhou.
Quanto aos desafios do futuro, serão, de acordo com o presidente da FNAEESP, “a própria digitalização do ensino superior”: “o corpo docente ainda não está preparado para usar estas ferramentas, mas não devemos olhar para a digitalização como solução para tudo, mas usar essas ferramentas a favor do desenvolvimento. É preciso mobilizar forças para que haja formações apetecíveis para captar alunos estrangeiros não só dos PALOP. O desafio é abrir as instituições ao mundo”, rematou João Pedro Pereira.

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