Reisinho abalou Castelo do Rei
2023-08-24 às 06h00
A paixão pela música clássica esteve desde sempre presente na vida de Filipe Cunha. Hoje, o maestro da Orquestra Filarmónica de Braga é reconhecido a nível internacional.
O maestro Filipe Cunha, director artístico da Orquestra Filarmónica de Braga, esteve à conversa com José Portugal na rádio Antena Minho. Ao longo da entrevista, o maestro falou acerca do seu percurso profissional, do reconhecimento a nível internacional, assim como do crescimento e da projecção que Orquestra Filarmónica de Braga tem vindo a conquistar.
Nasceu em França, mas cresceu em Lanhelas, no concelho de Caminha. O contacto com o mundo da música começou desde cedo, tendo iniciado os estudos musicais com sete anos, na escola de música de Lanhelas. “Naquela altura a aprendizagem musical era bem diferente do que é hoje. Não havia dinheiro para comprar instrumentos, e por isso usávamos o que a Banda tinha disponível. Mais tarde comecei a fazer formação fora. Passados alguns anos fiz um intervalo na aprendizagem musical, e ingressei no curso de Relações Internacionais, da Universidade do Minho”, contou o maestro.
Naquela altura a música não era encarada por muitos como um futuro profissional. “Quando terminei o 12.º ano havia a ideia de que música não era vida, não era profissão”, afirmou Filipe Cunha, acrescentando que foi por influência da família, principalmente do pai, que achava que música não era carreira, que acabou por seguir a “opção B”. “O curso de Relações Internacionais era algo de que também gostava muito. Terminei o curso, mas nunca deixei a música. Fiz parte da Tuna Universitária da Universidade do Minho e do Grupo de Música Popular, sem nunca deixar a banda musical”, disse.
Entretanto voltou a abraçar a paixão pela música e refez os estudos na área musical. Concluiu o curso de Música no Conservatório Calouste Gulbenkian – Braga. Concluiu o curso Superior de Direcção na Academia Europeia de Direcção e estudou Direcção de Orquestra Clássica em Lisboa.
“Desde pequenino tinha esse bichinho. A música clássica era a música que se ouvia lá em casa”, revelou Filipe Cunha, que assim investiu no universo musical chegando ao lugar de maestro, que hoje ocupa.
O reconhecimento internacional do maestro tem-lhe valido diversos convites para dirigir fora do país. Em Julho deste ano, Filipe Cunha foi convidado para ser jurado do 2.º Concurso Internacional de Direcção de Orquestra, um evento organizado pela Câmara Municipal de Llíria, Valência, Espanha. Note-se que este é um dos mais importantes concursos de Direcção de Orquestra do Mundo.
Llíria é uma Cidade Criativa da Música da UNESCO, por sua vez, Braga é Cidade Criativa da UNESCO no domínio das Media Arts. “Quando tivemos consciência desta feliz coincidência ficamos entusiasmados com a possibilidade de contribuir para uma ligação entre as duas cidades. Percebemos que esta representação de Braga no concurso poderia abrir portas para futuros intercâmbios culturais”, realçou.
Filipe Cunha revelou ainda que já convidou o maestro da Banda Primitiva de Llíria para dirigir a Orquestra Filarmónica de Braga no próximo ano, o qual deverá vir acompanhado pelo alcaide de Llíria.
Orquestra Filarmónica de Braga quer ser orquestra residente
O sucesso da Orquestra Filarmónica de Braga foi sendo construído ao longo da última década. O momento mais marcante deste percurso surgiu com a digressão pela China, e entre os projectos futuros encontra-se a ambição de ser “a orquestra residente da cidade”.
A fundação da Orquestra Filarmónica de Braga surgiu em 2014 a partir do projecto ‘Canções de Abril’ da Associação Cultural Canto Daqui. “Na altura o espectáculo contava com um decateto da Canto Daqui e com o Coro de Pais do Conservatório Calouste Gulbenkian Braga.
O projecto andou na estrada alguns anos e surgiu a ideia de fazer esse projecto com uma orquestra. Decidimos convidar a Orquestra do Conservatório, e fizemos um espectáculo muito grande no Theatro Circo, que foi um sucesso. Foi nesse mesmo ano que decidimos criar um orquestra para continuar com esse projecto. As coisas correram tão bem que decidimos manter a orquestra que seguiu o seu caminho pela música clássica”, recordou o maestro Filipe Cunha.
Entre os momentos mais marcantes destaca-se a digressão pela China no final de 2019 e início de 2020, um convite surgiu no âmbito do nosso Concerto de Ano Novo ‘Straus & Friends’.
Passados quase 10 anos desde a fundação da Orquestra Filarmónica de Braga, Filipe Cunha faz hoje um balanço muito positivo e olha com “muito carinho para tudo o que foi feito”.
No que toca a projectos futuros para a Orquestra Filarmónica de Braga, Filipe Cunha destaca aquela que é a sua grande ambição desde a sua fundação: “ser a orquestra residente de Braga”.
“Neste momento o vínculo dos músicos é sempre precário porque trabalham por projectos e devíamos ter uma linha de continuidade, um contracto de trabalho. A minha ideia era começar por uma formação pequena de cordas e agregar os sopros e o restante plantel quando fizesse falta, e começar um vínculo laboral dos próprios músicos”, revelou.
De acordo com o maestro, a precariedade está a afastar grandes talentos de Portugal, uma situação lamentável que deve ser contrariada urgentemente. “Os nossos músicos estão a ir embora. Nós estamos a tentar combater isso, porque os licenciados em música encontram na nossa orquestra uma oportunidade de trabalho, mas se for um vínculo precário é natural que eles vão embora também”. “Posso atestar que temos muita qualidade aqui. Dirijo outras orquestras fora de Portugal e consigo ter um termo de comparação. Temos de facto muita qualidade. Ao mesmo tempo, temos também público, prova disso é que os nosso concertos estão sempre cheios”, acrescentou.
Assim, “no próximo ano, já que vamos completar 10 anos, seria bom pensar num vínculo laboral mais fixo, para fixar os nossos bons elementos”, sublinhou.
Filipe Cunha reconheceu ainda que é preciso “é preciso coragem para dar esse passo pioneiro, que seria um exemplo para outras cidades. Deste modo, o ensino artístico deixaria de ser um parente pobre do ensino”, realçou.
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