Um ano de comemorações do universo camiliano
2018-06-30 às 06h00
A vereadora da Cultura e da Educação sublinha que a candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura não pode ser uma mera lista de eventos mas antes um factor de mudança da cidade. Na entrevista à rádio Antena Minho e ao Correio do Minho, Lídia Dias afirma que o projecto pedagógico da Calouste Gulbenkian não está em causa e espera que a Escola de S. Lázaro abra no próximo ano lectivo. Em matéria de colocação de auxiliares será um ano escolar tranquilo.
P – A Feira do Livro de Braga volta este ano a mudar de localização, saindo da Praça da República, passando a ocupar o espaço que foi designado por “alameda literária”, entre o Largo de S. João do Souto e o Jardim de Santa Bárbara. Porquê esta nova mudança?
R – A Feira do Livro veio do Parque de Exposições - na altura todos entendiam que o conceito de realização num espaço interior estava esgotado - para se instalar na Praça da República. Ao longo do tempo fomos ouvindo alguns lamentos que tinham a ver com o facto daquela praça se tornar desagradável quando estava muito calor, inibindo a realização de alguns eventos associados à Feira. Era também uma situação penosa para quem estava nos stands.
P – A transferência do PEB para o centro da cidade foi considerada positiva pelos livreiros.
R – A auscultação junto dos livreiros sempre aconteceu. Fomos corrigindo alguns aspectos como por exemplo o horário que era demasiado longo. A escolha do local da Feira do Livro, entendemos como sendo uma solução que pode vir ao encontro das diferentes expectativas. Continua a ser um espaço central e criámos animação para atrair mais visitantes.
P – Esta edição da Feira do Livro criou alguma agitação política com o Partido Socialista a criticar na reunião da vereação, a opção da autarquia em entregar a produção executiva do certame á empresa ‘Booktailors’ e de não se envolverem os agentes culturais da cidade na elaboração da animação cultural.
R – É uma opção que vem do ano passado. Curiosamente as críticas feitas em 2017 foram ao facto da Feira do Livro se realizar debaixo de muito calor e não à programação. Trata-se de uma empresa reconhecida que me foi recomendada por pessoas conhecedoras do sector. A ‘Booktailors’ tem no palmarés realizações de excelência. Foi convidada para apresentar Portugal na Feira do Livro de Bogotá (Colômbia).
P – O ano passado ficaram satisfeitos com o trabalho desta empresa.
R – A auscultação dos próprios livreiros deu-nos um ‘feedback’ de muito agrado quer em relação á programação do ano passado, quer á de 2018. Os escritores bracarenses têm também o seu lugar e o nosso movimento cultural também está presente. Temos as parcerias da Universidade do Minho (UMinho), da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS), instituições importantes para a construção do programa cultural da Feira do Livro.
P – O Pelouro da Cultura impõe condições ou afasta-se da organização da programação?
R – Nós recebemos uma proposta e trabalhamos sobre ela porque há aspectos que podem não fazer sentido na nossa Feira do Livro.
Prémio Literário Maria Ondina Braga tem dimensão nacional
P – Voltando à última reunião da Câmara, o PS também considera que tem existido uma sobrevalorização do Grande Prémio de Literatura DST em relação à própria Feira?
R – Ainda bem que temos esse prémio que ao longo de 23 anos tem marcado presença no certame. É uma referência nacional e um exemplo até internacional de uma empresa que é um marco importante na cultura da cidade e também do país. A DST tem o seu papel que não deve ser desmerecido. Para nós, Município, e creio que para qualquer bracarense é um orgulho. Este ano com o Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga damos um salto importante. Nós herdámos este prémio que era de uma dimensão regional dando-lhe uma dimensão nacional através de uma parceria com a Associação Portuguesa de Escritores e atribuindo-lhe um valor pecuniário (12 500 euros) muito apelativo, reconhecendo o verdadeiro valor que tem a obra da escritora bracarense Maria Ondina Braga.
P - Quer o prémio DST, quer o prémio Maria Ondina Braga marcam claramente a Feira do Livro.
R - O Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga era uma distinção que não existia no panorama da literatura nacional.
P- Poderemos dizer que a Feira do Livro de Braga pode evoluir para um festival literário, tornando-se a componente de venda de livros mais acessória?
R - Temos de estar atentos à realidade. Os livreiros têm de se reinventar e serem apelativos para cativar compradores, no entanto serão sempre os eventos extra que trazem gente à Feira do Livro que, forçosamente, tem de viver do equilíbrio destas duas dimensões.
P - Paralelamente à Feira do Livro decorre também o Mimarte - Festival de Teatro de Rua
R - É verdade. O Mimarte vai prolongar-se por dez dias. Eu penso que esta simultaneidade acaba por ser um complemento.
P - Não se corre o risco de existir uma sobreposição de eventos?
R - Nós tentamos que não existam sobreposições entre as representações teatrais do Mimarte e os eventos da programação da cultural da Feira do Livro. O calendário também não estica e confrontamo-nos com falta de datas. Levar estas iniciativas para agosto pode fazer-nos perder algumas dinâmicas. Por outro lado, é também um desafio as pessoas fazerem as suas escolhas culturais, em função da oferta que a cidade apresenta.
P - Estaremos ainda numa fase embrionária da preparação da candidatura, mas olhando para as duas cidades portuguesas que foram CEC, Porto e Guimarães, reparamos que num caso foi construída a Casa da Música e no outro a Plataforma das Artes. Em relação a Braga está pensado algo que seja distintivo e que deixe uma marca para o futuro?
R - Em matéria de equipamentos temos um: o São Geraldo. Sendo um espaço importante para as Media Arts, como inicialmente foi entendido, será certamente um dos espaços...
P - Neste momento há ideias mais concretas sobre o que poderá surgir no São Geraldo?
R - Haverá a breve prazo uma definição maior e pública do que vai ser aquele espaço e do que lá vai acontecer.
P – Estão já definidos prazos de intervenção no São Geraldo?
R – Está previsto, no âmbito do executivo municipal, a apresentação de um primeiro esquema do que poderá ser o São Geraldo, mas ainda não há uma data.
P - O que é que poderá ser distintivo por parte da candidatura de Braga em relação, por exemplo, ao que Porto e Guimarães apresentaram, no domínio da música e das artes plásticas?
R – É uma mais valia para Braga e para nossa candidatura ter este selo de ‘cidade media arts’, de cidade criativa. É algo que certamente será valorizado. Será na reflexão conjuntamente com a sociedade civil que se irão encontrar as escolhas e as opções necessárias para aquilo que Braga precisa e pode sustentar de futuro. Sabemos das dificuldades de Guimarães que só à pouco tempo viu resolvidos os problemas da sustentabilidade dos seus equipamentos.
P – Ainda faltam alguns anos para formalizar a candidatura, mas Braga, se calhar ao contrário do que sucedeu com o Porto e Guimarães, parece ter mais concorrência. São já 12 as cidades que pretendem apresentar candidaturas a CEC
R – Os movimentos das outras cidades são legítimos. Nós estamos a fazer um trabalho muito apurado afim de perceber qual é o nosso caminho, quais são as áreas onde devemos investir e envolver toda a cidade. É com alguma tristeza que vejo estas tricas políticas porque entendo que devemos estar todos empenhados neste desígnio comum que é fazer de Braga a CEC em 2027.
P – Os processos que estão a decorrer de reconhecimento da Semana Santa de Braga e das festividades do São João como património imaterial nacional são contribuições para a candidatura a Capital Europeia da Cultura?
R – Esses acontecimentos da cidade são para a nossa candidatura referenciais muito importantes. Ter o Bom Jesus reconhecido como Património Mundial da Humanidade é também uma mais valia que acrescentamos ao nosso território.
P – Tem dito por diversas vezes que Braga deveria ter uma galeria de arte com alguma dimensão. Recentemente abriu no Fórum Braga uma galeria de arte contemporânea, presumo que ainda não responde à necessidade que Braga tem nessa área.
R – É importante que a cidade tenha ganho mais um espaço para apresentar arte contemporânea. É importante o trabalho que o Fórum Braga vai desenvolver naquele local e que tem as características de poder acolher não apenas dentro da galeria, mas nos espaços adjacentes, obras de arte. É isso que está a ser feito com o apoio de Serralves. Nós temos usufruído de um protocolo assinado com Serralves através de consultadoria ao próprio pelouro da Cultura, já fizemos no Museu Nogueira da Silva e no Museu da Imagem apresentações conjuntas de exposições.
P - Dizia-nos o ano passado que Braga tinha necessidade de outros equipamentos culturais. A abertura do Fórum Braga veio alterar a sua perspectiva?
R – Não totalmente. Aparecem cada vez mais grupos, mais associações, as próprias escolas apresentam dinâmicas em que têm necessidade de apresentarem os seus projectos. Eu reformulava aquilo que disse no passado e diria que fazem falta espaços mais versáteis.
P – Na altura manifestava também preocupação com o Museu de Imagem que precisa de uma intervenção para melhoria de condições do equipamento.
R – Estamos neste momento muito focados na digitalização do nosso arquivo, estamos focados em ter uma programação que vá também ao encontro de fotógrafos bracarenses. Quanto ao edifício não nos podemos esquecer que é uma torre medieval. Tem um projecto que terá de sofrer alguns ajustes. Teremos de encontrar financeiramente e até em termos temporais um local onde o Museu da Imagem continue a apresentar as suas exposições enquanto é intervencionado.
P – Este ano está previsto pelo menos o encerramento de duas escolas do ensino básico em Braga. Na Morreira e em Coucinheiro (Palmeira).
R – O encerramento de escolas é sempre uma matéria sensível. Temos a Carta Educativa quase concluída, mas há números e situações que são incontornáveis. No caso da Morreira temos quatro anos de escolaridade na mesma turma – treze, catorze crianças – é insustentável porque estamos a privar aqueles alunos de um conjunto de vivências e a transformar aquela sala de aula num exercício muito difícil para o docente, mesmo quando é coadjuvado. Em Coucinheiro trata-se de uma escola que foi perdendo alunos. É uma escola que não tinha turmas do 1.º e do 2.º ano e onde vai continuar a funcionar o Jardim de Infância. Não é por capricho que se entendeu que aquelas crianças do 1.º ciclo poderiam estar melhor na Escola Bracara Augusta. São sempre situações delicadas sustentadas por razões pedagógicas e nunca por critérios economicistas. O Município de Braga tem pelo menos cinco escolas com menos de 21 alunos onde coloca assistentes operacionais por razões de ordem moral, mas por lei não era obrigado a fazê-lo. Tínhamos este ano uma escola a funcionar com três crianças que também vai fechar, em Vimieiro. A questão pedagógica prevalece sempre.
P – Braga está a perder população escolar?
R – Num primeiro diagnóstico estávamos a perder população em idade escolar. Nestes últimos meses é unanime que recebemos um acréscimo de alunos vindos principalmente do Brasil e registou-se efectivamente um aumento de crianças e jovens nos ciclos mais baixos do ensino, na zona mais urbana do concelho. Muitos alunos vêm de zonas mais periféricas porque os pais trabalham na cidade ou deslocam-se para as freguesias de maior concentração industrial. Estes movimentos populacionais criam alguns desequilíbrios.
P – Neste momento tem condições de garantir que as obras de requalificação da escola do 1.º ciclo de S. Lázaro vão terminar a tempo do inicio do próximo ano lectivo?
R – Estamos a fazer tudo para que assim aconteça. Estamos a pressionar a empresa para ter os espaços principais operacionais. Poderá algum espaço exterior da escola ficar para arranjos posteriores, mas creio que não ficará comprometido o inicio do próximo escolar.
P – Num outro nível de ensino a Escola Secundária de Maximinos vai entrar brevemente em obras de requalificação. Tem já uma ideia do que vai acontecer neste agrupamento, no próximo ano letivo?
R – As documentações necessárias para lançamento do concurso já foram á reunião de Câmara. Teremos de montar contentores.
P – Ainda em Maximinos a Escola EB 2.3 Frei Caetano Brandão parece ter problemas estruturais e há quem defenda o seu encerramento e a concentração de alunos na Secundária. É um cenário realista?
R – Não trabalho sobre cenários; trabalho sabendo que a quase totalidade dos grupos parlamentares na Assembleia da República apresentaram recomendações para a requalificação daquele estabeleci- mento de ensino. Neste momento temos um financiamento para as obras na Escola Secundária, mas reconhecemos que a Frei Caetano Brandão necessita de uma intervenção de fundo. Vamos estar expectantes sobre aquilo que o governo dirá. Nós temos algumas responsabilidades, mas não de requalificação.
P – O próximo ano lectivo será mais tranquilo na colocação de pessoal não docente?
R – Sim porque o concurso está a ficar concluído.
P – Quantos novos auxiliares vão entrar em funções?
R – O concurso foi feito para 14 que entram de forma imediata. Ficamos com uma bolsa de recrutamento de acordo com as necessidades que o Município entenda suprimir nas escolas, nomeadamente quando chega a lista da DGeSTE para colocar assistentes operacionais para os alunos com necessidades educativas especiais nos jardins de infância.
A CEC não é uma folha excel de eventos
P - O Partido Socialista aproveitou ainda a última reunião da Câmara Municipal de Braga para questionar a candidatura a Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2027. A formalização da candidatura de Braga tem de ser apresentada até 2021, nesta altura há motivos para preocupação sobre o andamento desse processo?
R - Muito pelo contrário. O processo está a ser elaborado sem nenhum tipo de atropelos e a cultura está a ser entendida como um factor de transformação da cidade a diversos níveis. Existe uma ‘equipa de missão’ que está a trabalhar e o processo é sério, é longo e necessita de num primeiro momento estar devidamente consolidado dentro da estrutura camarária. Para nós a CEC não será um sucedâneo de eventos, nem o elencar numa lista excel de um conjunto de actividades para criar um pretenso programa. Neste momento é tempo de ler os nossos próprios relatórios, os nossos dossiers, tudo aquilo que cada pelouro tem relativo aos planos de acção da cidade. Queremos que a CEC seja um marco maior que consiga transformar Braga desde a mobilidade, ao ambiente, à inclusão, aos hábitos e os quotidianos.
P - Braga tem já á partida um conjunto muito variado de iniciativas culturais as quais podem vir a ser acrescentadas outras.
R - A proposta de Braga será algo muito consistente que se propõe mudar a face da cidade e em que a cultura vai assumir-se como um factor de coesão territorial. Ser CEC é uma oportunidade que não podemos perder. Quando entendermos ser o momento certo partiremos para o patamar seguinte que será a auscultação. Seria de todo insano achar que o executivo municipal vai fazer uma candidatura a CEC sozinho, principalmente quando existe uma riqueza patrimonial tão significativa, quando tem duas universidades, um instituto politécnico quando tem tantos agentes a quem de dar voz.
Somos sensíveis à situação da Calouste Gulbenkian
P- Tem sido muito falada a descentralização de competências na área da educação. Assumindo que os Municípios vão ter a dotação financeira é mais eficaz serem as autarquias a terem essas responsabilidades, por exemplo no domínio das obras?
R – Temos um contrato de delegação de competências desde 2009 e desde que sou vereadora tivemos uma ou duas reuniões de monitorização desse contrato e que eram momentos importantes de discussão com delegado regional da altura. Depois as reuniões passaram a não acontecer ou a serem mais informais. Na Câmara de Braga somos absolutamente sensíveis à Escola Calouste Gulbenkian que vive com dificuldades por ter como interlocutor a DGeSTE e terem uma dificuldade tremenda em ter soluções e respostas da tutela. O Município gostaria de chamar a si a possibilidade de intervenção naquela escola que é fundamental no sistema de ensino bracarense.
P – O projecto educativo da Calouste Gulbenkian pode estar em causa?
R – Não, de todo! Está neste momento a passar por um processo de eleição de um novo director. A autarquia está muito envolvida porque entendemos que a escola é merecedora de todo o nosso empenho para mudar o interlocutor. A solução passaria por integrar pelo menos o 1.º ciclo no contrato de execução. Mais até do que a falta de recursos financeiros é a falta de pessoal não docente que coloca em causa tudo o resto. Este último ano lectivo foi muito complicado a esse nível.
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