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Entrevistas

2018-12-01 às 06h00

José Paulo Silva José Paulo Silva

Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde desde 1997, Bento Morais foi reeleito recentemente para um novo mandato. Entrevista ao Correio do Minho e Rádio Antena Minho, defende que o Hospital gerido pela sua instituição pode produzir mais para o Serviço Nacional de Saúde. Um novo lar de terceira idade e mais três centros de dia são prioridades da nova mesa administrativa da Santa Casa vilaverdense, que aposta cada vez na Educação. Depois da abertura do Colégio D. João Aboim, a Misericórdia admite a hipótese de leccionar para além do 1.º ciclo do ensino básico.

Citação

P - Foi recentemente eleito para um mandato até 2022 numa função que já exerce há 20 anos. Quando entrou para provedor, previa que a Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde se tornasse no principal empregador do concelho com valências sociais e um hospital de referência?
R - A minha entrada na Misericórdia, em 1997, coincidiu com a minha saída da vida autárquica. Era presidente da assembleia geral da Santa Casa quando o então provedor faleceu por doença grave. Naquela altura, o Estado tinha-nos devolvido o Hospital que estava abandonado e cheio de silvas. Lembro-me de dar uma volta com os meus colegas e de dizer que iríamos fazer ali uma boa unidade, porque naquela altura o Hospital de S.?Marcos, em Braga, não funcionava. Naquela altura, a Misericórdia de Vila Verde era muito pequena: 70 trabalhadores e um orçamento de cento e tal mil contos. A Administração Regional de Saúde do Norte assinou logo o acordo que quis para a abertura do Hospital, nem foi o acordo pedido por nós. Estávamos no zero em termos de trabalho na área da Saúde. Comecámos a contactar os primeiros médicos e convidámos Germano Cerqueira para director clínico. O Hospital tem vindo a crescer com muita cautela. Conquistámos a confiança dos doentes.

P - Mas na actualidade a oferta de cuidados de saúde inverteu-se. Como é que se posiciona a Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde perante o crescimento da oferta?
R - É um desafio para nós que beneficia o doente. O aumento da oferta obriga-nos a ser cada vez mais exigentes. Obriga-nos a ter sempre equipamentos bem testados para que o doente saia satisfeito. Os privados não concorrem à certificação. Nós queremos concorrer todos os anos.

P - A distinção do Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS) é o reconhecimento oficial?
R - É o reconhecimento de que trabalhamos com verdade e com segurança para o doente. Além dessa certificação da Entidade Reguladora da Saúde?(ERS), nós temos a certificação SGS e temos também um gabinete de auditoria interna com três funcionários habilitados.

P - O Hospital de Vila Verde nasceu numa altura em que a oferta de Saúde na região era quase um deserto. A situação inverteu-se, mas isso não tem impedido a Santa Casa da Misericórdia de continuar a fazer crescer o Hospital.
R - Não, felizmente. Temos bons profissionais. Ainda há pouco tempo fomos premiados pelo trabalho de controlo de infecções. Não temos receio de nos confrontar, estamos no mercado. Os meios são diferentes. Somos uma instituição social. Não distribuímos dividendos. Tudo aquilo que possa ser saldo positivo é reinvestido. A grande riqueza da Santa Ca- sa da Misericórdia de Vila Verde é o seu pessoal. Somos 633, mais 150 médicos. Somos o quinto ou sexto contribuinte para a Segurança Social no distrito de Braga.

P - E continua a ser o maior empregador do concelho de Vila Verde?
R - De longe.

P - E é uma instituição rica?
R - É rica em pessoal. A Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde é uma instituição nova, tem 75 anos, o seu património está todo à vista.

P - A Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde continua a fazer investimentos no Hospital. Querem crescer ainda mais na área da cirurgia de ambulatório?
R - O acordo com o Serviço Nacional de Saúde obriga-nos a fazer 70% de cirurgia de ambulatório. Estamos a fazer 78%. Temos muita procura de doentes. Estamos a atender quase mil doentes por dia. No período da manhã, temos mais problemas, porque a maior parte dos médicos são quase todos prestadores de serviços. Mas já estamos a começar a contratar médicos a tempo inteiro.

P -Para ter um corpo clínico próprio?
R - Não é fácil. Eu digo, alto e bom som, que há falta de médicos.

P - A estratégia de futuro passa pelo reforço da equipa clínica própria?
R - Se tivéssemos mais médicos contratados para trabalhar de manhã a tempo inteiro, podíamos aumentar a actividade em 10%.

P -O reforço do corpo clínico é um objectivo para este mandado?
R - É. Estamos com o livro aberto para contratar

P - Embora a poucos quilómetros da cidade de Braga, Vila Verde ainda tem problemas de acessibilidade. O Hospital de Vila Verde tem de lutar com esse factor?
R - Há dias, um médico do Hospital de S. João do Porto, que estava a visitar um doente no Hospital de Vila Verde, fez questão de falar comigo e disse-me: “Isto é uma parvónia e tem um Hospital que eu não conheço outro no País”. Ele estava encantado. Por exemplo, na unidade de cuidados continuados temos 66 camas e a lista de espera para entrar é de dois meses.

P - Há capacidade para aumentar os cuidados continuados?
R - É política do Ministério da Saúde, com a qual eu não discordo, de ter unidades de cuidados continuados locais.

P - No Serviço de Urgência, há capacidade de aumento da resposta?
R - O Serviço de Urgência nocturno e de fins de semana é uma carência que o Serviço Nacional de Saúde tem em Vila Verde. Das 20h00 às 8h00, o Centro de Saúde fecha e nós mantemos um médico, mas é um serviço privado, o doente tem de pagar 22 euros.

P - Acha que poderia haver um acordo com o Ministério da Saúde para a Urgência nocturna e aos fins-de-semana?
R - Temo-nos oferecido para continuar o serviço de Urgência do Centro de Saúde, mas não tem havido abertura.

P - Da parte da sociedade civil e do poder autárquico em Vila Verde, há capacidade reivindicativa para que isso aconteça?
R - Não. Está tudo calmo e acomodado. O utente do Serviço Nacional de Saúde deveria ter em VilaVerde uma estrutura de Urgência que o atendesse permanentemente.

P - Esta é uma matéria que não faz parte da agenda da Administração Regional de Saúde?
R - Não, por causa das cativações. Não se trata de aumentar a despesa, porque os doentes vão para outros sítios onde custam três vezes mais.

P - O assumir dessa reivindicação por parte da sociedade vilaverdense daria força à Misericórdia?
R - Podia ajudar.

P - Pode haver quem pense num interesse particular da Misericórdia em ter esse serviço?
R - Nós estamos por missão e por solidariedade.
P - Há procura do Serviço de Urgência privado?
R - Temos uma média de 70 a 80 doentes por dia, Na época da gripe, aumenta cerca de 30 por cento, mesmo com o Centro de Saúde aberto. O tempo de espera não é superior a uma hora.

P - Como analisa o posicionamento do Ministério da Saúde perante uma instituição como a Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde?
R - Há uns tempos, numa inauguração em que estava o anterior ministro da Saúde, este disse-me que o Hospital de Vila Verde era top, top. Mas o reconhecimento passa à margem. Não temos beneficiado absolutamente nada. Nós somos criticados por não fazermos mais Serviço Nacional de Saúde, mas estamos disponíveis para o fazer. O Ministério da Saúde é que não quer, mas aqui o custo é um terço do dos hospitais públicos.

P -Não há vontade política, portanto?
R - Não há. Nós já propusemos aumentar um pouco a oferta aos utentes do Serviço Nacional da Saúde, mas não tem havido essa abertura.

sidade Fernando?Pessoa, CESPU,?ISAVE e Universidade do Minho.

P -?Há parcerias ao nível da formação especializada?
R -?Não.

P - Pensa que se poderia avançar por aí?
R - Temos de reconhecer que somos pequenos, mas temos quase todas as especialidades, temos cuidados continuados, temos idosos. Para quem queira aprender é quase como um laboratório. Talvez seja esse o caminho. Já tivemos auxiliares que se formaram em Enfermagem e em Economia, já tivemos quatro enfermeiros que se formaram em Medicina.

P - Para um jovem médico é atractivo ir trabalhar para Vila Verde, a tal ‘parvónia’ de que o seu amigo falava?
R - Julgo que é atractivo. Penso que temos tudo para que um jovem médico se realize na sua profissão.

P -?Não falamos apenas da instituição em si, mas de todo o meio ambiente?
R - Eu costumo dizer que Vila Verde é o melhor sítio do Mundo para viver. Muitos médicos emigram e outros vão para os grandes centros completar a sua formação.

P - Os enfermeiros também?
R - Ao nível da enfermagem, há desemprego. Já temos quatro enfermeiros que emigraram e que voltaram para ganhar muito menos.

P - A Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde não é só o Hospital. Tem também Acção Social, Educação e o Apoio à Deficiência. Um dos vossos grandes investimentos é a Estrutura Residencial para Idodos (ERPI) em Marrancos?
R - São 2, 3 milhões de euros de investimento. Vamos arrancar no início de 2019. A obra está concursada. Houve quatro concorrentes. A Arquidiocese de Braga cedeu-nos um terreno de 3 500 metros, bem situado junto à estrada nacional 205. Será para 40 utentes e vamos criar 25 a 30 postos de trabalho. Disse recentemente numa reunião com o nosso pessoal que estamos condenados a atingir a meta dos mil postos de trabalho. E neste mandato não vamos ficar longe desse objectivo. Estamos também já a preparar o concurso para aumentar o Centro de Actividades Ocupacionais e o Lar para Deficientes Profundos, no centro da vila. Vamos duplicar de 33 para 66 utentes com instalações dignas. Vamos aproveitar esse espaço para 12 suites de apoio ao serviço ambulatório do Hospital. A lista de espera passou, desde Julho do ano passado, a ter âmbito nacional. Um utente do Serviço Nacional de Saúde de Faro pode vir a Vila Verde fazer uma cirurgia. Se tiver instalações, pode passar aqui um ou dois dias.

P - O concelho de Vila Verde é extenso e com uma população idosa predominante. A Misericórdia está em condições de responder aquilo que a sociedade exige e necessita?
R - A política do Governo tem sido incrementar o apoio domiciliário. As nossas aldeias estão a ficar desertificadas, os nossos jovens não ficam, ficam só os idosos.
O apoio domiciliário é uma boa política mas não chega. Nós temos quatro equipas e temos disponíveis um médico, um enfermeiro e um fisioterapeuta. Deparamo-nos sempre com casas sem condições para lá permanecer uma pessoa sozinha. Essa pessoa está em casa porque não há camas em lares. Essa gente também tem direito para ter alguém que os assista como deve ser.

P - E não teme que, daqui por algumas décadas, esse tipo de investimento tenha de ser posto em causa?
R - Já pensei nisso. Temos um lar em Valbom S. Pedro, perto de Terras de Bouro. Está sempre cheio com 40 utentes.?Daqui a 30 anos haverá sempre solução para esse equipamento. Pode ser utilizado para uma pousada da juventude. Há sempre possibilidade de se requalificar. As construções estão a desenhadas com qualidade quase hoteleira. Poderão ser redesenhadas.

P - A Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde está a projectar investimento em novos centros de dia...
R - Em Vilarinho,?Valbom e Soutelo. Olhem, as escolas primárias ficaram vagas e estão a pedir-nos para instalarmos centros de convívio, uma nomenclatura que ainda não existe na Segurança Social, existe apenas centros de dia. Em Soutelo e Vilarinho vamos recuperar pequenas escolas que estão abandonadas.

P - Há aí uma parceria com o Município de Vila Verde?
R - Com as juntas de freguesia. Nós vamos fazer a gestão, as obras são custeadas a 50%.

P - São obras para iniciar em 2019?
R - A de Valbom já se iniciou. As de Vilarinho e de Soutelo vamos sujeitá-las à aprovação da Segurança Social. Temos também já autorização para criar quatro novas salas de creche.

P - A Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde avançou recentemente na área da Educação com a activação do Colégio D.?João Aboim. Como explica este projecto?
R - É um projecto em contra maré. Desde há cinco anos recebemos abaixo assinados de encarregados de educação a pedir para abrirmos o ensino básico. Se temos matéria prima cá dentro, por que é que não os satisfazemos? Começámos a tratar do processo junto da Câmara Municipal e da DGEstE (Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares), licenciámos, construímos e arrancámos bem. Temos 70 crianças. O projecto é para 200 alunos. No próximo ano, de certeza que iremos duplicar o número de alunos. Desconfio mesmo que chegaremos à lotação máxima. É uma novidade para Vila Verde ter um Colégio. Houve 17 alunos que migraram do ensino público

P - É um projecto que poderá ir mais longe?
R - É o que as famílias pedem. Já estão a falar do 2.º ciclo do ensino básico. Vamos ver.
P - A Educação é uma área que a Misericórdia pretende explorar?
R -?Não fica fechada.

P - Numa altura em que o Estado deixou de apoiar o ensino privado?
R - Nós funcionamos com preços sociais, sem ganhar dinheiro, só para pagar o funcionamento e os salários. Comecámos com uma mensalidade de 150 euros e as pessoas aderiram com facilidade.

P - Como é a relação com a rede pública de ensino?
R - Não há problema nenhum.?Neste momento vamos buscar 30 alunos do ensino público para almoçar e para os levar a centro de estudos. Não considero isto uma intromissão, é um serviço que as famílias nos pedem.

P - Podemos adivinhar que, daqui a uns anos, a Misericórdia de Vila Verde, avançará para a leccionação de outros níveis de ensino?
R - Não fica fechada essa hipótese. Estamos a lançar a vista para um terreno a ver se conseguimos planear isso.
P - Na área da Educação, não têm as dificuldades de recrutamento de profissionais que têm na área da Saúde.
R - Enquanto outras Misericórdias fecham creches, nós temos crianças a mais. Há tempos, uma inspecção da Segurança Social detectou uma criança a mais por sala, mas nós temos de cumprir uma missão social. Vão crianças de Braga, de Amares e de Ponte da Barca para a Misericórdia de Vila Verde.

P - Como avalia a política do Estado para as instituições ligadas à chamada economia social?
R - Com preocupação, neste momento. Temos visto que a tónica do Governo é o público. Tudo público. Eu acho que está mal, porque não é o público que resolve os problemas às pessoas, são os serviços de proximidade e de solidariedade social. Estamos preocupados. Eu defendo que as comparticipações do Estado por utente são miseráveis. O salário mínimo nacional vai subir - e eu acho muito bem que suba - mas há carreiras intermédias que vão subir. No nosso caso, mexe em cerca de uma centena de trabalhadores.
P - A subida do salário mínimo vai afectar a gestão das instituições sociais?
R - Vai. Há Misericórdias que têm salários em atraso. O Estado não tem capacidade de resposta e as instituições são pouco reivindicativas, não se mostram, calam-se, sofrem.

P - As valências sociais, nomeadamente as de apoio à terceira idade, são todas deficitárias?
R - São. Mesmo os cuidados continuados de longa duração. Vejam que um doente numa cama de um Hospital público custa 550 euros por dia. Nos cuidados continuados de longa duração o Estado paga 33 euros.

P - Não há capacidade reivindicativa da economia social?
R -?Tem havido mais o diálogo. Honra seja feita ao presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos, que tem sabido estar sempre num patamar de diálogo com todos os governos.

P - Os subsídios estatais à Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde andam na casa dos dois milhões e 170 mil euros...
R - Para valências de idosos e crianças.

P -?Mesmo assim, houve um crescimento das contas da Misericórdia...
R - Em 2019, vai haver um crescimento de 5%.

P - Com subfinanciamento do Estado, como é que se equilibram as contas e se consegue esse crescimento?
R - O Hospital não dá prejuízo e ajuda a sustentar. Temos também a farmácia que funciona bem. São estas duas instituições que financiam as outras valências. Outras instituições passam dificuldades.


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