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2020-02-12 às 06h00
D. Duarte Pio de Bragança defende que em democracia o povo é que deveria escolher, por isso, “não faz sentido” proibir a reeleição. Sobre a União Europeia, D. Duarte é peremptório: “infelizmente é um clube de países que quer unificar tudo”.
De visita ao distrito de Braga, D. Duarte Pio de Bragança falou ao Correio do Minho do país e da União Europeia. Para D. Duarte é “uma contradição”, num Estado democrático, haver limitação de mandatos. Sobre a União Europeia, D. Duarte lamenta que se tenha transformado “num clube de países que quer unificar tudo”.
Correio do Minho (C.M.)- O que tem feito e por onde tem andado?
D. Duarte Pio - Estivemos, ano passado, em Ceilão (actual Sri Lanka) a convite da comunidade portuguesa católica. Ofereci uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, na zona onde vivem mais descendentes portugueses. Uns dias depois, os terroristas islâmicos rebentaram com três igrejas e mataram cerca de 200 descendentes portugueses, apesar da imprensa só falar da morte de um português. Houve um terrorista que tentou explodir essa igreja e a carga explosiva não rebentou, por isso, toda a gente ficou a comentar que tinha sido um milagre de Nossa Senhora de Fátima. Depois fui a Nova Iorque, a convite da Sinagoga Portuguesa de Nova Iorque, para celebrar os 365 anos da construção da primeira sinagoga do Novo Mundo.
C.M. - O baptizado do seu primeiro filho, Afonso, foi em Braga, porquê?
D. Duarte Pio - O casamento tinha sido em Lisboa, depois disso, fizemos o baptizado do Afonso em Braga e a Consagração a Nossa Senhora em Guimarães. Já o baptizado da Maria Francisca foi em Vila Viçosa e o baptizado de Dinis foi no Porto. Simbolicamente corremos o país todo.
C.M.- Já está a preparar a sucessão do seu filho mais velho?
D. Duarte Pio -Todos os meus filhos estão preparados para servir Portugal, desde que isso esteja de acordo com a sua vocação, qualidades e interesses. Fazemos férias em países lusófonos por isso mesmo. Já fomos a Timor, São Tomé e Príncipe e tencionamos ir a Angola. Além disso, vamos visitar a família que está no Luxemburgo, Bélgica Alemanha, Áustria e República Checa. Manter o contacto entre primos é fundamental.
C.M. - A petição que defendia a inclusão de D. Duarte na lei do Protocolo de Estado ficou pelo caminho?
D. Duarte Pio - Estou no protocolo de Estado de Timor, que é importantíssimo para mim. O primeiro-ministro insiste na minha presença e, recentemente, celebramos em Timor os 500 anos do encontro entre Timor e Portugal. As cerimónias solenes festejaram o que foi o começo da actual cultura timorense e da evangelização. Em relação ao protocolo português, as assinaturas da petição são cerca de 10 mil e não foram entregues, porque há receio de certas forças políticas. Por isso, só vale a pena entregar as assinaturas quando houver algum consenso no Parlamento.
C.M. - O papel do Presidente da República é o papel que defende que deveria ser o do rei? Gostaria de ter esse papel?
D. Duarte Pio - Actualmente em Portugal, desde o general Ramalho Eanes, passando por Mário Soares, Cavaco Silva e agora também com Marcelo Rebelo de Sousa, os Presidentes tentam e seguem um modelo real. O povo português gosta de ter o Chefe de Estado independente dos partidos, no papel de juíz. Se nem no futebol se aceita que o árbitro pertença a um dos clubes que está em confronto, como é que na política, quem deveria ser o árbitro, pode pertencer a um dos partidos políticos? É uma contradição. Depois, por outro lado, a lei proíbe que um Presidente seja indefinidamente eleito, enquanto o povo assim o quiser. Os republicanos têm medo, que o Presidente tenha um potencial de ditador. Não faz sentido. Em democracia o povo é que devia escolher, até mesmo os presidentes de câmara. É o receio que a República tem das suas próprias instituições. E ao mesmo tempo, a vontade que o povo tem que as próprias instituições republicanas guardem os valores da monarquia, que é o valor da continuidade da chefia de Estado. Em Portugal, cerca de 30% dos portugueses, segundo a sondagem feita pela Comissão do Centenário da República, dizem que o rei seria melhor que o Presidente da República.
C.M.- Por isso, fazia todo o sentido ter um Partido Monárquico no Parlamento?
D. Duarte Pio - Há um partido que além de monárquico é ecologista. Obviamente, que há muitos deputados monárquicos noutros partidos e, portanto, não se pode nunca confundir ser monárquico ou ser do PPM. Há muitos mais monárquicos espalhados por outros partidos.
C.M. - E sobre a Europa? Como vê o que se está a passar?
D. Duarte Pio - Portugal é um país europeu desde o seu começo e esteve sempre bem representado. Fomos a cara da Europa perante o mundo. Hoje em dia estamos muito dependentes economicamente da União Europeia. Mas não devíamos confundir esta política, às vezes, extremista e abusiva até de certos políticos da União Europeia com o verdadeiro sentido da Europa, que é uma Europa de fraternidade, cooperação, defesa de valores de civilização baseados no cristianismo. O Papa Bento XVI dizia que a Europa é a combinação entre o espírito e moral cristã, a cultura grega e espiritualidade judaica e a organização romana e isso ultrapassa as fronteiras do continente europeu. Por isso, fazia algum sentido, por exemplo, Israel entrar na União Europeia. Há uma visão da Europa como uma cultura e espiritualidade. E hoje em dia, infelizmente, a União Europeia é um clube de países que quer unificar tudo, desde o queijo até à vida moral e sentimentos das pessoas, estando a entrar abusivamente em campos que não devia.
C.M. - Que relação mantém com as casas reais europeias?
D. Duarte Pio - Mantemos uma relação, em primeiro lugar, com os nossos primos próximos, que são nossos descendentes, como são o caso da Casa Real da Bélgica, do Luxemburgo e Liechtenstein e as casas reais europeias como da Áustria, Hungria e Baviera. Depois há as famílias reais que nos damos muito bem e temos relações de amizade próxima como são o caso da inglesa, holandesa, sueca e com o Mónaco.
C. M. - Assiste-se a uma renovação da própria monarquia. Já há príncipes que não casaram com princesas? O caminho é esse?
D. Duarte Pio - Em cada época, os reis tentaram representar os valores da sua época, melhorando-os e encorajando-os. Na Idade Média era a capacidade militar, na Renascença foram a cul- tura, a ciência e o progresso. Hoje em dia, o valor universal que toda a gente quer impor é a democracia e os reis são muito democráticos nos seus comportamentos. Os príncipes fazem casamentos muito democráticos, mas nem sempre funcionam bem. Os próprios divórcios também são uma inovação desta época e facilitou-se muito. Há uma grande instabilidade familiar, que também se reflecte, por vezes, nas famílias reais.
C.M. - E os seus filhos poderão seguir o exemplo dos príncipes inglês e espanhol?
D. Duarte Pio - Espero que sigam os bons exemplos e não os maus exemplos. O importante é que no casamento haja uma grande identidade de valores espirituais e culturais de preferência. O que aconteceu agora na Inglaterra foi uma grande dificuldade cultural, porque é muito difícil uma mulher americana, com vivência completamente diferente, adaptar-se à cultura inglesa.
C.M. - Imagina os casamentos dos seus filhos? Como acha que vão os portugueses acompanhar as cerimónias?
D. Duarte Pio - Espero que acompanhem como acompanharam o meu casamento. Mas espero que casem mais cedo do que eu.
Herança deixada por D. Catarina de Bragança
D. Catarina de Bragança casou com o rei D. Carlos II de Inglaterra e, apesar de nunca terem tido filhos, sempre se deram “muito bem”. D. Duarte Pio de Bragança aproveitou para revelar algumas curiosidades associadas à rainha.
“Ao princípio, os ingleses estavam bastante hostis, por ela ser católica, mas foi ela que conseguiu a liberdade religiosa para todas as colónias inglesas”, contou D. Duarte Pio, referindo ainda que o chá, a marmelada de laranja e marmelada de marmelo foram introduzidas pelas mãos da rainha portuguesa.
Os ingleses comiam em pratos de barro, madeira e prata. E também foi D. Catarina de Bragança que levou a porcelana para as terras inglesas.
No dote, lembrou ainda D. Duarte Pio, “ficou incluída a cidade de Bombaim, sendo que o aeroporto actual ainda se chama Aeroporto de Santa Cruz e o forte lá existente é português”. Ainda no dote, continuou D. Duarte Pio de Bragança, foi a ilha de Ceilão (actual Sri Lanka), que estava ocupada pelos holandeses e, por isso, foi entregue aos ingleses. “Ainda hoje temos uma grande comunidade descendente de portugueses em Ceilão”, constatou D. Duarte Pio.
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