Não se conhece documentação que explique por que razão tanto figurado dedicado a São João preenche uma grande parte dos caixotões do tecto da igreja do Divino Salvador, em Braga. Isso mesmo afirmou ontem, durante uma visita guiada, o especialista em temáticas sanjoaninas e doutor em Estudos Culturais, Rui Ferreira.
Provavelmente - referiu, a tão significativa presença de São João Baptista nas pintutas dotecto deve-se ao facto de em Braga o convento ter sido instituído na paróquia de São João do Souto, orago da freguesia.

Perante cerca de seis dezenas de pessoas que marcaram ontem presença na visita guiada, levada a efeito no âmbito das festas de São João, Rui Ferreira começou por lembrar que aquele é um convento beneditino erigido no início do século XVII, após ter sido transferido para Braga um cenóbio beneditino inicialmente instalado em Vitorino das Donas, Ponte de Lima.
O?facto de o orago de Vitorino das Donas ser o Divino Salvador pode explicar a escolha do nome do convento em Braga.
O investigador referiu haver uma tese de mestrado (não citou autoria nem de que universidade) em que este tecto é tema central de análise.

Representado em 16 dos 40 caixotões do tecto da igreja

São João Baptista está representado em 16 dos 40 caixotões do tecto da igreja do Divino Salvador. Cada um dos caixotões tem cerca de 165 cm de comprimento por 155 de largura.
Entre os quadros retratados encontra-se o célebre episódio do baptismo no rio Jordão, a deposição de João Baptista, a sua apoteose nos céus.
Segundo o historiador Vítor Serrão, aquele tecto terá sido pintado entre 1622 e 1623, por encomenda a uma oficina portuense onde pontificavam artistas como Domingos Lourenço Pardo, Manuel Machado de Sousa Luís Abreu, Manuel Lopes e Pantaleão Lopes.

Rei David no Museu Nogueira da Silva

A dança Rei David, que é um dos motivos principais das festas de São João, está retratada no Museu Nogueira da Silva, em Braga, num painel de azulejos da autoria de Jorge Barradas (1894-1971).
O artista retrata a dança do Rei David, inspirada nos tradicionais cortejos das Festas de São João, em Braga.
O Rei David é representado a tocar um instrumento, ladeado por músicos que dançam e tocam violas, flautas e violinos.
Ainda hoje, o carro da Dança do Rei David é um dos costumes mais enraizados nas festas.

A dança é caracterizada por um passo tipo polca, em que uma das pernas está elevada com o joelho dobrado sobre a cinta, enquanto a outra suporta o peso total do corpo.
Além do Museu Nogueira da Silva, o artista Jorge Barradas, que é considerado figura maior do modernismo português, está representado em colecções públicas e privadas, nomeadamente no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, ou ainda no Museu Nacional de Soares dos Reis.
Nogueira da Silva, empresário bracarense, coleccionador e filantropo que era proprietário da casa (doada à Universidade do Minho em 1975) onde agora funciona o museu, terá pedido ao artista que retratasse um dos principais motivos das festas da cidade de Braga.