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Sector do Vinhos Verdes “em choque” com ameaça dos EUA de tarifas de 200%
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Sector do Vinhos Verdes “em choque” com ameaça dos EUA de tarifas de 200%

Entrevistas

2025-03-17 às 06h00

Joana Russo Belo Joana Russo Belo

Donald Trump ameaçou vinhos portugueses e europeus com taxas aduaneiras de 200%. Sector está em choque. Caso avance, medida terá impacto brutal nas exportações.

Citação

Em choque. É desta forma que o sector vinícola português reage à ameaça do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, de aplicar tarifas de 200% sobre champanhe, vinho e outras bebidas destiladas da União Europeia para contrabalançar as taxas comunitárias face ao whisky americano. Para a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), a medida, a confirmar-se, poderá traduzir-se num impacto brutal nas exportações, uma vez que os EUA são o primeiro mercado de exportação.
“Isto foi conhecido na quinta-feira, para já o sector está, em primeiro lugar, em choque, na Europa produtora de vinho. O choque não nos pode deixar parados, temos que nos unir para tomar decisões, para não deixar que isto aconteça”, começou por sublinhar Dora Simões, presidente da CVRVV, dando conta de que é preciso alguma serenidade e continuar “a trabalhar nos nossos planos normais e não estarmos demasiado focados naquilo que, para já, é um comentário numa rede”.

“O que foi publicado não são taxas efectivas, em primeiro lugar, temos que ver as coisas com alguma tranquilidade, atentos, mas com alguma tranquilidade, no entanto, a vir a acontecer teria um impacto enorme no sector dos vinhos em Portugal e na Europa. A questão é saber se vai acontecer ou não. Temos que estar todos unidos no sentido de nos protegermos para que estas coisas não aconteçam”, frisou.
No caso dos Vinhos Verdes, revelou Dora Simões, “os EUA são o primeiro mercado de exportação” e os números “têm vindo a aumentar”: “no ano de 2024, exportámos 20 milhões de litros para os EUA, um aumento de quase 5%, e, de facto, é uma situação que é muito complexa, se vier a acontecer”.

Presidente lembra que esta medida “não prejudica, exclusivamente, a Europa, vai prejudicar também os EUA, que são o maior mercado de importação de vinhos mundial”. “Todos os consumidores americanos estão habituados a comprar vinhos estrangeiros e o desagrado seria imenso, assim como o impacto no sistema de distribuição dos EUA é enorme, não se pense que porque não entram estrangeiros serão vendidos mais vinhos americanos, prejudica muito em particular os pequenos produtores. 200% é um valor extraordinário impeditivo de consumo e ninguém estará de acordo com isso”, referiu.
Dora Simões defende que se continue “a trabalhar fortemente os EUA” - “não podemos desistir do nosso maior mercado” - e se diversifique outras latitudes, nomeadamente, Ásia, Japão, Inglaterra e Brasil, este último um “mercado extraordinário, que tem vindo a descobrir os Vinhos Verdes nos últimos anos”.

“Rude golpe” obriga a reforçar aposta em mercados alternativos como Brasil

Nos últimos 20 anos, o trabalho feito pelos vinhos portugueses nos EUA “foi brutal e gigante”, daí que a ameaça do presidente Donald Trump, em aplicar taxas aduaneiras de 200% aos vinhos da União Europeia, represente “um rude golpe”. A opinião foi deixada por Bruno Almeida, director de Marketing da Adega de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, confessando apreensão face a esta eventual medida.
“Encaramos isto com alguma preocupação, porque o mercado dos EUA é, tradicionalmente, o primeiro mercado de exportação do Vinho Verde. O Vinho Verde é uma marca já com bastante exposição, no nosso caso da Barcos Wines da Adega de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez temos vários clientes por todos os Estados Unidos, temos diferentes marcas no mercado e uma subida tão abrupta das taxas de importação de facto temos receio que afecte as nossas exportações para o mercado”, revelou o responsável, temendo “que tenha um impacto grande”.

Nesse sentido, “estamos já em conversação, desde quinta-feira, com os nossos principais parceiros do mercado, quer da costa leste e oeste a procurar algumas alternativas a perceber os preços finais que os vinhos vão chegar às prateleiras”. “Os próprios Estados Unidos também estão em contacto com as câmaras de comércio locais e com os serviços a ver que impacto isto vai ter em termos europeus e a tentar contornar politicamente a situação, sendo que será difícil de ser revertida”, referiu.
Bruno Almeida encontra-se, neste momento, na Alemanha, para participar na principal feira de vinhos mundial - a ProWein Dusseldorf - onde tem agendadas “reuniões com parceiros dos EUA para delinear uma estratégia”. “A estratégia passará muito agora por reduzir o fluxo de exportações para o mercado, porque depois o vinho também não roda e não sai do outro lado e, rapidamente, estamos a procurar alternativas com outros mercados com que trabalhamos, nomeadamente, o Brasil, que é um mercado onde temos crescido muito, para tentar canalizar parte do produto que tínhamos destinado para os EUA”, sublinhou.

Os EUA “tinham sido forte aposta nos últimos anos” da Adega de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez e “inclusive era o nosso mercado alvo para este biénio de 2025-2026 e tínhamos definido como mercado prioritário e onde íamos crescer mais”.
“Já temos bastantes iniciativas marcadas para os EUA, o nosso enólogo vai em Abril e uma colega da equipa de exportação vai estar na Vinexpo Miami, uma grande feira, e não vamos desmarcar, talvez até reforçar. Resta esperança que haja alguma ponderação política e sejam aplicadas taxas intermédias”.

José Manuel Fernandes defende que se deve avançar para acordo Mercosul

O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, considerou que a ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de aplicar tarifas de 200% a bebidas como o vinho provenientes da União Europeia “cria instabilidade” e defende que se deve avançar para o acordo Mercosul.
“Isto cria instabilidade, mas também há uma outra coisa que isso demonstra, é que devemos avançar para o acordo Mercosul, que significará aqui 740 milhões de pessoas, ou seja, o alargamento do mercado“, revelou o governante.
Sublinhando que este tipo de afirmações “gera sempre instabilidade”, José Manuel Fernandes também argumentou que “o presidente dos Estados Unidos disse essas tarifas, amanhã pode dizer outras tarifas diferentes, depois voltar a alterar”. “Essas tarifas estão a ser aplicadas à União Europeia, mas não pensemos que as tarifas aplicadas a outros fora da União Europeia depois também não nos afectam, porque também afectam, no fundo estamos todos ligados”, referiu.
Ministro assegurou que Portugal está “a actuar de forma a minimizar essa instabilidade que é criada e até a própria situação geopolítica”. “Por isso, a nossa grande aposta na agricultura, para nós diminuirmos o nosso défice agro-alimentar, para nós procurarmos outros mercados”, dando como exemplo o protocolo com o Brasil que “é muito positivo para o vinho”.

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