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2020-07-02 às 06h00
Três meses e meio depois, os povos raianos de Valença e de Tui voltaram a dar as mãos. Desde ontem já se pode circular na ponte centenária que liga as duas cidades. Autarca de Valença exige medidas direccionadas para a economia local.
Passavam poucos minutos da meia-noite quando o povo raiano voltou a dar as mãos. “Hoje (ontem) é um momento histórico para todos nós”, confidenciou, visivelmente “feliz”, o presidente da Câmara Municipal de Valença, que não perdeu o momento em que as barreiras de protec- ção do lado português começaram a ser retiradas pela GNR, três meses e meio depois. Manuel Lopes exige agora ao Governo português medidas “totalmente direccionadas” para o povo raiano.
O povo de Tui e de Valença voltou a juntar-se ontem à meia-noite. Do lado de Espanha, com uma hora de avanço, foram muitos os habitantes de Tui que se deslocaram a pé e fizeram questão de aguardar nas barreiras na margem portuguesa. As barreiras foram retiradas e depressa começaram a passar peões e viaturas. “Parece que estávamos a reviver a queda do muro de Berlim, porque isto para nós foi como o muro de Berlim”, sublinhou o autarca, esperando que este acontecimento não se volte a repetir “para o bem de todos” e que não passe de “uma má recordação”.
A ponte “é mais uma rua que une duas cidades”, assegurou o presidente, lamentando que “não fez sentido nenhum ter sido cortada”. Por isso, os últimos três meses foram “muito duros” psicologicamente e economicamente. “As nossas pessoas estão habituadas umas com as outras e e tudo isto causou imensos transtornos e esperemos que não volte a acontecer”, pediu.
Durante a manhã de ontem, a movimentação já era bem visível. As matrículas dos carros e a língua de cada lado da ponte já faziam perceber que “tudo voltou à normalidade”. “Hoje já anda toda a gente mais alegre, porque há vida e uma terra sem gente não tem vida. Retomamos as nossas actividades normais e quotidianas e ficamos muito felizes por isso acontecer”, aplaudiu Manuel Lopes, reforçando o facto do povo raiano sempre ter “vivido em conjunto”. Pelas ruas de Valença e de Tui já se notava “toda a diferença”. “Nos cafés, nas lojas e até na feira, que se realiza hoje (ontem) já se nota bem as diferenças. Os nossos irmãos espanhóis estavam ansiosos por vir até cá, como nós estávamos ansiosos por lá ir e até encher o depósito de gasolina”, contou.
Agora, passados estes meses de “turbilhão”, Manuel Lopes exige do Governo português medidas para o povo transfronteiriço. “Temos um comércio virado e focado para os espanhóis e temos de ter medidas totalmente direccionadas para o povo raiano”, apelou presidente.
Também o alcaide de Tui, Enrique Caballero, definiu o retirar das barreiras na ponte como um “momento histórico”, parecendo que se “levantou o muro de Berlim”. Enrique Caballero deixou o apelo: “entendemos que numa Europa moderna é preciso superar as fronteiras, sobretudo quando não temos consciência de fronteiras. Esta ponte é uma rua que liga dois territórios com questões culturais, sociais, industriais e económicas comuns”.
Para o alcaide a forma como os governos lidaram com esta situação foi “um erro”, defendendo que “não se pode aplicar a velha receita para novos desafios”. Se voltar a acontecer, o alcaide espera que se “enfrentem os problemas comuns como uma única realidade peninsular e não como dois estados diferentes”.
Do lado de lá da fronteira, em Tui, já se notava mais movimento. Não faltavam carros com matrículas portuguesas e nas lojas e cafés também já se ouvia português.
Beatriz Castiñeira trabalha num café junto à ponte e começou por confidenciar: “todo este tempo foi muito triste, faltava o povo português e os peregrinos”. Ontem já se notava “diferenças” e Beatriz defendeu que “não fazia sentido nenhum a ponte estar fechada”.
Mais à frente no quiosque, Carmen González também defendeu que “não fazia sentido a ponte estar fechada”, sendo que na sua opinião “já podia ter sido aberta, há pelo menos três semanas, com as respectivas medidas de segurança”. Ali, os portugueses procuram tabaco e revistas espanholas.
Diferença notou-se logo nas bombas de gasolina, em que os funcionários não tinham mãos a medir. Com os preços bem mais baixos do que deste lado da fronteira, os portugueses aproveitaram logo a oportunidade para encher o depósito.
“Faz muita diferença de preços e vimos sempre cá meter gasolina”, contou Ana Silva, que mora no concelho de Valença. “Assim conseguimos poupar muito e já não fazia sentido a ponte estar fechada”, reclamou. Também Henrique Valadares, a morar em Ponte da Barca e a trabalhar em Valença, aproveitou para encher o depósito. “Tenho o carro na reserva e amanhã [hoje] tenho de ir a Braga e aproveitei para vir aqui encher o depósito”, contou o português.
Já do lado de cá da ponte, na fortaleza notava-se “muito mais movimento”. As ruas, as lojas, as esplanadas “ganharam vida”. Que o diga Maria José Calheiros, que tem uma loja de roupa para a casa. “Estivemos fechados quase dois meses e desde que abrimos tivemos muitos dias sem fazer nada”, contou a comerciante, que ontem já vendeu artigo, sobretudo, a espanhóis.
Na rua, o Correio do Minho falou com Gabriel Carrillo, que passeava com a esposa, Gabriela Duarte, e os pais, Maria e Mariano. De Madrid, o jornalista está a passar uns dias na Galiza e ontem aproveitou a ponte aberta para conhecer a fortaleza de Valença e fazer umas compras.
18 Março 2024
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