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“Um problema no ensino nacional é sistema de avaliação de docentes”

Entrevistas

2023-01-23 às 06h00

Fábio Moreira Fábio Moreira

Paulo Antunes, director do Agrupamento de Escolas de Maximinos e convidado do último ‘Da Europa Para o Minho’, frisou que os professores enfrentam muitas agravantes na sua profissão e alerta para um possível reflexo das mesmas na sociedade.

Citação

As greves dos professores têm sido um dos temas mais falados nos últimos dias. Com um corpo docente cada vez mais envelhecido e com progressão salarial quase inexistente, os professores portugueses por todo o país têm saído para as ruas para mostrar o seu descontentamento com a situação. Paulo Antunes, director do Agrupamento de Escolas de Maximinos, e Paulo Ribeiro, professor na Escola D. Sancho I em Vila Nova de Famalicão e dirigente sindical, foram os mais recentes convidados do programa ‘Da Europa Para o Minho’ da Rádio Antena Minho. Este programa contou ainda com a participação do eurodeputado José Manuel Fernandes, com moderação de Paulo Monteiro.

“Os professores já têm razão há muitos anos. Os media têm divulgado as nossas razões, como a questão do congelamento das nossas carreiras. Foram-nos criadas expectativas para as nossas carreiras e essas não têm sido cumpridas. O sistema de avaliação dos professores é completamente absurdo e é uma forma dupla de congelamento das nossas carreiras. Este processo não continuar. Um dos maiores problemas que o ensino português enfrenta é a avaliação, que muito desmotiva os profissionais e, quando assim é, não é possível haver felicidade organizacional”, explicou o director do Agrupamento das Escolas de Maximinos, Paulo Antunes.
O director bracarense salientou ainda que este sistema de avaliação dos docentes, aliado a outras problemáticas (como a colocação a centenas de quilómetros de casa, os baixos salários e o congelamento das carreiras) colocam em causa o futuro do ensino português e, por consequência, o futuro da sociedade do nosso país.

“Há mais de dez anos que se sabe que vão faltar professores. Braga precisa de professores. As turmas têm aumentado todos os anos. É preciso cuidar de quem já está no sistema e depois pensar em atrair sangue novo. Qual é o jovem que quer ser professor perante esta situação da profissão? Há diversas zonas do país que têm falta de professores e isso não admira. Um professor tem de pagar a sua casa própria e ainda tem de pagar um quarto no concelho onde está a ensinar porque foi colocado muito longe de casa. Tudo com um salário indigno ao peso que temos na sociedade e no futuro da mesma”, salientou Paulo Antunes.
O docente bracarense notou alertou também para a desvalorização que a profissão tem vindo a enfrentar nos últimos anos, salientando que um director de escola tem de dar atenção a um universo de casos, ao mesmo tempo que tem de procurar manter uma formação elevada.

“A desvalorização do professor já é algo que vem de trás. Noutros países, ser professor é ter uma profissão de respeito, mas tal não se verifica no nosso país. Somos a classe com mais formação neste país. Estamos sempre em formação e acabamos por não ter tempo para ensinar os alunos, cuidar da escola, dos nossos colegas e dos profissionais não-docentes. Um director de uma escola não consegue ter tempo para dar atenção a todos os problemas e a todas as partes da escola. É isto que os burocratas não conseguem entender. Somos como empregados de escritório”, frisou o director do Agrupamento de Escolas de Maximinos que ainda acrescentou que os professores privam-se de estar com os filhos para “ocupar o dia dos filhos dos outros”.

Paulo Ribeiro: “O ministério tem estado inflexível e não tem vontade em negociar”

Quem também marcou presença no último ‘Da Europa Para o Minho’ da Rádio Antena Minho foi Paulo Ribeiro, professor da Escola D. Sancho I e dirigente sindical do STOP. O docente teceu duras críticas ao ministério da educação, garantindo que o mesmo não tem feito qualquer esforço nas negociações.
“A tutela tem vindo a retirar dignidade à nossa profissão. As medidas que estão em negociação com o ministério não trazem quaisquer melhorias à nossa profissão. As pessoas têm vindo a acumular inúmeras injustiças e é normal que se revoltem e que façam greves. As carreiras estão completamente congeladas, devido às quotas de avaliação. É difícil motivar os docentes e não-docentes para um funcionamento em pleno das escolas, quando estamos perante uma realidade tão precária como esta”, começou por dizer Paulo Ribeiro, professor da Escola D. Sancho I - Vila Nova de Famalicão e dirigente sindical do STOP.
Paulo Ribeiro salientou ainda que o ministério da educação tem sido completamente intransigente nas negociações.

“O ministério da educação tem sido inflexível desde a primeira reunião com os representantes dos sindicatos. Não há outras soluções em cima da mesa. Estamos na terceira reunião e as propostas continuam a ser as mesmas. Não há qualquer vontade, da parte do ministério da educação, em negociar”, notou Paulo Ribeiro.
O dirigente sindical do STOP confessou que os professores têm vindo a explicar a actual situação dos professores aos pais, com os mesmos a entenderem a posição dos docentes e incentivá-los a continuar a lutar.
“Os professores têm explicado aos pais a actual situação em que se encontram e os pais têm-se mostrado solidários com a nossa luta e incentivam-nos a continuar, pois compreendem que é insustentável para os professores continuar com esta situação completamente precária. O ministro acusou os professores de um problema de falta de percepção, mas o ministério está completamente inflexível nas negociações. Não há uma única medida que tenha vindo a ser aproximada do pretendido”, explicou o professor da Escola D. Sancho I e dirigente sindical do STOP, Paulo Ribeiro.

“Governo está surpreendido com a união e a perseverança dos professores”

O habitual convidado do pro-grama ‘Da Europa Para o Minho’ da Rádio Antena Minho, José Manuel Fernandes acusou o governo de procurar colocar os pais contra os professores e que o governo português ficou surpreendido com a união e perseverança dos professores.
“Os professores são muito mal pagos, as suas carreiras estão congeladas e não têm tido os aumentos salariais que deveriam ter. Depois, para além disso, eu sinto que há uma diferença de tratamento dentro da própria classe docente. Os professores da Madeira e dos Açores têm um tratamento à parte”, notou o eurodeputado.
José Manuel Fernandes relembrou ainda que os professores têm um papel central em qualquer sociedade.

“A imagem do professor tem sido alvo de ataque do poder político. Há um grande movimento para se dizer que não havia razão para haver greves. É preciso relembrar que os professores são essenciais para o país e não nos podemos esquecer do forte papel que tiveram durante a pandemia da Covid-19”, disse José Manuel Fernandes.
O eurodeputado minhoto salientou ainda que o governo foi ‘apanhado de surpresa’ com a perseverança da classe docente e que agora procuram unir os pais contra os professores.
“Os sindicatos andaram a dormir durante muito tempo e agora o governo está surpreendido com a união e a perseverança dos professores. O governo está a tentar unir os pais contra os professores, procurando ganhar esta batalha pelo cansaço da população”, garantiu o eurodeputado José Manuel Fernandes.

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