Vila Praia de Âncora assinala centenário
2020-01-06 às 06h00
De bicicleta, Jorge Reis fez, sozinho, os 738,5 quilómetros da Estrada Nacional (EN) 2, que liga Chaves a Faro. Bracarense é professor de Educação Visual e Tecnológica e sempre quis fazer aquela viagem. Ganhou coragem, preparou-se e simplesmente adorou. Uma “experiência para toda a vida” que Jorge Reis aconselha aos mais aventureiros.
“Sempre parece impossível, até que seja feito.”
in Nelson Mandela
Sempre gostou de andar de bicicleta e o ‘bichinho’ de fazer a EN2 de bicicleta, que liga Chaves a Faro ao longo de 738,5 quilómetros, já era um sonho antigo. Inspirado, sobretudo nas aventuras de Tom Sawer e nas ‘invenções’ de MacGyver, o professor de Educação Visual e Tecnológica do Agrupamento de Escolas Trigal Santa Maria, em Tadim, decidiu fazer esta viagem sozinho.
“Uma experiência que me deu muita força de espírito e me ensinou a contrariar as dificuldades da vida, fortalecendo-me enquanto pessoa. Durante aqueles dias fui buscar forças onde não sabia que existiam e valeu a pena”, confessou o também apaixonado por construção de legos.
Como companhia, Jorge Reis levou apenas a bicicleta antiga, a Fúria, e o JotafigReis, uma figura que criou para o acompanhar nas viagens. Às costas levava 10 quilos, essencialmente equipamento tecnológico, desde telemóvel, drone, GoPro e tablet.
“Queria registar tudo e fazer um álbum fotográfico da espinha dorsal do nosso país, em termos de estradas”, justificou o professor, que espera publicar o livro com toda a sua experiência. E histórias não lhe faltam. De amizades que fez, das dificuldades por que passou, dos locais por onde passou. “Uma verdadeira experiência que vai ficar para toda a vida”, assegurou o professor, confidenciando que quer repetir a aventura.
Entretanto, Jorge Reis esteve mesmo para repetir a experiência, mas partiu a clavícula. Teve de adiar. A próxima viagem será mais espiritual.
Sobre o destino, Jorge Reis preferiu manter no segredo dos deuses para os muitos seguidores, que conquistou no facebook, continuarem a ‘alimentar’ a vontade de concretizar novos projectos. A quem gosta deste tipo de aventuras, o professor aconselha “vivamente” fazer a EN2 de bicicleta. “É uma viagem linda, mas antes treinem muito, definam pontos de referência e façam de tudo para saborear todos os quilómetros”, aconselhou Jorge Reis, insistindo que foi “uma experiência para a vida” fazer de bicicleta “a maior estrada portuguesa e uma das maiores da Europa”. Depois de três meses a preparar-se fisicamente, chegou a hora de partir sozinho na maior aventura da sua vida. “Sempre adorei andar de bicicleta, e quando um amigo meu acompanhou quatro colegas que fizeram o mesmo percurso, decidi não esperar mais. Estava sempre à espera de ter companhia para fazer, mas nunca se proporcionava”, justificou.
Por conselho de um amigo fez o Caminho de Santiago de bicicleta antes de embarcar nos 738,5 quilómetros. “Esse meu amigo costuma fazer os Caminhos de Santiago em bicicleta e ajudou-me muito. Deu-me a lista do essencial para levar e o engraçado é que levei fita cola e tal como o MacGyver deu muito jeito”, contou o aventureiro, fazendo referência à garrafa de água que prendeu à bicicleta com fita cola e lhe deu “muito jeito”, já que atravessou o Alentejo com 42 graus e fez “quilómetros e quilómetros onde não havia água”.
Primeira etapa:
Depois de 180 quilómetros percorridos, Jorge Reis chegou ao primeiro destino: Viseu. “No primeiro dia fiz muitos registos fotográficos e fui colocando na página do facebook e quando dei conta já tinha muitos seguidores e mensagens, o que me deu muita coragem para continuar”, confidenciou o professor, que passou a primeira noite na casa de um amigo, também aficcionado por construção em legos. No final da primeira noite, Jorge escreveu uma pequeno texto sobre a experiência vivida. “Quando acordei no dia seguinte, para meu espanto, tinha muitos mais comentários e muitos seguidores, inclusive de grupos da EN2”, lembrou.
Segunda etapa:
Partiu para a segunda etapa, que deveria ter sido de 140 quilómetros, e chegado a Vila de Rei, mas ficou por Pedrogão Grande. “Parecia mais fácil, mas não foi”, confessou. Nesta segunda etapa, ao passar na zona de Góis um motard abordou-o. “No primeiro dia da etapa tinha passado por mim duas vezes e no segundo dia decidiu falar comigo. Também estava a fazer a EN2 de mota com a namorada. Acabamos por fazer a viagem ‘juntos’”, contou Jorge Reis, admitindo que foram “um grande apoio em toda o percurso”.
Terceira etapa:
No terceiro dia, o professor conseguiu chegar a Montemor-o-Novo. “No dia anterior, tinha perdido 40 quilómetros do que tinha inicialmente previsto fazer, consegui recuperar 20 quilómetros. Neste dia tive de pedalar depois das 20 horas para conseguir chegar a Montemor-o-Novo”, contou Jorge Reis, lembrando que não foi fácil encontrar estadia. “Só por volta das 22 horas é que uma senhora muito simpática me deixou ficar na estalagem. Pensei que ia dormir ao relento”, confessou o aventureiro, admitindo que “foi a etapa mais difícil”, tendo passado a referência dos 500 quilómetros.
Quarta etapa:
A quarta etapa seria a última, faltavam 200 quilómetros para chegar a Faro, mas Jorge Reis decidiu adiar a chegada para o dia seguinte depois do conselho dado pelo novo amigo motard. “Depois de passar a serra do Caldeirão, o meu amigo motard ligou-me e aconselhou-me a não o fazer durante o tempo de mais calor, porque seria mesmo muito difícil”, recordou. Por isso, a quarta etapa acabou em Castro Verde e aí, Jorge Reis decidiu ficar num hotel com piscina e aproveitar para relaxar. “Estava tudo a acontecer muito depressa e precisava de recuperar energias, saborear mais a viagem e dar feedback às muitas pessoas que me escreviam no facebook”, justificou o professor, lembrando mais um dos episódios “extraordinários” que aconteceram pelo caminho. “Uma colega de curso enviou mensagem a dizer-me que a mãe trabalhava no hotel onde eu estava e no dia seguinte tive direito a um verdadeiro pequeno-almoço e lanche”, contou.
Quinta etapa:
Os últimos 96 quilómetros foram os mais fáceis. “Terminei a viagem por volta do meio-dia. A vontade de chegar era tanta que cheguei a fazer 52 quilómetros por hora”, atirou o professor, lembrando “inúmeras coincidências
e coisas bonitas” que foram acontecendo ao longo do percurso. No marco dos 738,5 quilómetros, em Faro, tinha o amigo motard à espera para registar o momento.
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